MICHELLE ROSSI
Com a retirada das propagandas e dos grandes painéis de identificação das lojas e prédios localizados no perímetro central de Campo Grande, uma nova cidade poderá ser revelada. Arquiteturas dos anos 1920, 30, 40 e 50 que presenciaram as primeiras décadas de vida da Cidade Morena devem voltar a ser exibidas. O projeto de revitalização do Centro de Campo Grande — que prevê, entre outras questões, o fim da poluição visual — deve ser votado ainda hoje pela Câmara de Vereadores.
Depois de publicada a regulamentação da chamada Lei Cidade Limpa, os proprietários dos estabelecimentos localizados no quadrilátero da Rua 14 de Julho, Avenidas Fernando Corrêa da Costa, Ernesto Geisel e Rua Padre João Crippa terão um ano para adequar seus imóveis às especificações da nova legislação prevista dentro do Plano de Revitalização do Centro da Capital.
No perímetro apontado não existem edificações tombadas como patrimônio, em qualquer esfera, o que significa que não há o reconhecimento do valor histórico do local. No entanto há dezenas de prédios de interesse histórico-cultural na área delimitada. “Há expectativa de que arquiteturas antigas sejam reveladas, mas também corremos o risco de termos prédios que já foram destruídos, ou tiveram suas fachadas modificadas. Só retirando as propagandas para termos as confirmações”, disse o chefe da divisão de Patrimônio Histórico da Fundação Municipal de Campo Grande (Fundac), Rubem da Costa Marques.
Opiniões
Numa rápida volta no centro da cidade é possível ver prédios com arquitetura do passado. No andar acima da Ótica Nakasse, quase esquina com a Rua Barão do Rio Branco e ao lado da loja Riachuelo, está uma construção que mantém fachada preservada, provavelmente dos anos 1930. “Eu acho interessante essa lei que tira a poluição visual do centro da cidade porque vai mostrar prédios até então desconhecidos da população, mas que têm importância histórica. O problema é que criar leis é fácil, mas quem vai colocar a mão no bolso para readequar as fachadas são os proprietários. Vai ser um custo a mais para nós, donos de loja”, disse Roberto Nakasse, proprietário da ótica que leva seu nome e que está instalada no local há 20 anos.
Dúvidas
Muitos comerciantes desconhecem detalhes da Lei Cidade Limpa, apesar das várias discussões já promovidas sobre o assunto. “Corremos o risco de sermos menos vistos, em meio às outras lojas”, comentou Paula Florato, gerente da Fast Foto Fone na Rua 14 de Julho. No local, um painel gigante indica a existência da loja.
Outra gerente, do Magazine Luíza, também na Rua 14, disse nunca ter ouvido falar sobre a discussão que está em vigência na Câmara de Vereadores. “Estou sabendo agora (por intermédio da reportagem). Não acho uma lei importante, que vá interferir na rotina da cidade”, citou Ana Paula do Prado.
O chefe da divisão do Patrimônio na Fundac argumenta que, no momento, a forma como estão colocadas as propagandas e identificação das lojas gera uma competição desleal, “onde quem pode mais, compra um painel maior”. Com a nova lei, os estabelecimentos comerciais terão até mais visibilidade, uma vez que terão seus letreiros padronizados. “No shopping, todas as fachadas são padronizadas e nem por isso há lojas que são mais ou menos vistas”, apontou.