O primeiro dia de desfiles do Grupo Especial do Rio, hoje, será marcado por uma disputa entre a atual campeã, a Salgueiro, e a Beija- Flor, que venceu cinco vezes nesta década, foi vice no ano passado e briga para retomar o 1º lugar. As atenções se voltam também para a Unidos da Tijuca, que traz um enredo inusitado, “É Segredo”, conduzido por Paulo Barros, o carnavalesco que despontou na escola como o mais criativo do carnaval carioca e que está de volta depois de três anos afastado. O Salgueiro tenta o bicampeonato viajando pela literatura. Com o enredo Histórias Sem Fim, o carnavalesco Renato Lage vai levar para a Sapucaí carros que representam grandes marcos da literatura mundial. Da Bíblia aos livros de Harry Potter, passando pelo “Eu Robô, de Isaac Asimov”. O abrealas traz uma gráfica com 55 acrobatas da Intrépida Trupe e do Cirque du Soleil que representarão as letras. Patrocinado pela Ediouro, a Salgueiro vai distribuir 500 livros para as arquibancadas. Os ritmistas estarão fantasiados de árabes, numa alusão ao clássico “Ali Babá e os 40 Ladrões”. A rainha de bateria, Viviane Araújo, virá de Sherazade. Durante o desfile, ela será erguida por 12 homens. Já a Beija-Flor viaja pelos 50 anos de Brasília. A escola, que teve de dar explicações por causa do patrocínio de R$ 3 milhões recebido do Governo do Distrito Federal – envolvido num escândalo de corrupção –, não quer saber de política: preferiu focar o mito indígena Goyás e o povo que trabalhou pela construção da cidade, destacando o caráter único de sua arquitetura. A única figura política que aparecerá no desfile é Juscelino Kubitschek, “pai” da Capital Federal. “Queremos mostrar o esplendor que Brasília é, independentemente do caráter governamental”, defende Ubiratan Silva, um dos carnavalescos. A escola leva alegorias representando prédios como o do Congresso e da catedral, tudo com muito luxo e bom acabamento. O embate com a Salgueiro promete. “Vamos corrigir tudo o que deu errado em 2009”, promete Silva. A abertura da noite é com a União da Ilha, que luta para ficar no Grupo Especial. O enredo Dom Quixote de La Mancha, o Cavaleiro dos Sonhos Impossíveis marca sua volta à elite do carnaval depois de oito anos. E para mostrar que sonha alto, a Ilha contratou a carnavalesca Rosa Magalhães, demitida da Imperatriz Leopoldinense. “A Ilha vem com um carnaval correto, digno, sem luxo, mas competitivo”, diz o presidente, Ney Fillardi. O abre-alas é o xodó de Rosa: ela recriou a biblioteca de Dom Quixote. O personagem aparece sentado numa cadeira devorando os romances que transformam sua cabeça e o levaram a confundir moinhos com monstros terríveis. “Nas alas temos sempre os dois lados: o real e a imaginação dele”, explica. A Imperatriz, ex-escola de Rosa, entra na avenida logo em seguida. Max Lopes, que andava meio esquecido na Porto da Pedra, escola que não costuma brigar pelo título, tem a chance de reviver seus tempos de glória. Para isso, apela a todos os deuses. O enredo Brasil de Todos os Deuses vai exaltar a religião. Um dos carros vai reproduzir A Primeira Missa no Brasil, quadro de Victor Meirelles. Estarão representados na avenida símbolos de todas as religiões, com direito até a monges budistas no desfile. De “sombreiro na mão”, a Viradouro se veste com as cores do México e convida o público a tomar um gole de tequila na folia. As alas falam de conquistas, religiosidade, arte popular. As atenções estão voltadas à rainha de bateria, a mais jovem do carnaval carioca: Julia Faria, de 7 anos, filha do presidente da escola, Marco Lira. De bustiê e sainha – nada de fio dental –, ela ocupa o lugar que já foi de Luma de Oliveira e Juliana Paes. A Justiça implicou, mas liberou sua participação.