Mesmo integrando o governo com quatro ministérios, a maioria dos deputados do PSDB deve votar contra o presidente Michel Temer na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara.
A comissão é a primeira instância de tramitação da denúncia apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) na segunda (26) e lida no plenário da Câmara nesta quinta (29).
O distanciamento do PSDB em relação ao governo fez com que os líderes da base de Temer praticamente descartem o apoio da sigla na defesa do presidente. Mapeamento feito esta semana por articuladores políticos do Planalto colocou quase todos os tucanos da CCJ na coluna da oposição.
Reservadamente, dirigentes tucanos relataram ao Planalto a projeção de que seis dos sete deputados do PSDB na CCJ votarão pela admissão da denúncia. Ressaltaram, entretanto, que alguns deles podem mudar de posição quando o tema for apreciado no plenário.
Três dos sete deputados tucanos que integram o colegiado disseram à Folha que votarão a favor da admissibilidade da denúncia: Betinho Gomes (PE), Fábio Sousa e Wherles Rocha (AC).
"Muito ruim que o país esteja passando por isso de novo em um ano, mas, infelizmente, a denúncia está muito bem embasada. Na CCJ, não há nem o que se discutir, porque é uma comissão técnica e a denúncia atende os requisitos", disse Sousa.
Apenas um tucano da CCJ, o deputado Paulo Abi-Ackel (MG), tende a votar pela salvação de Temer. "Quero ler a denúncia e fazer uma avaliação. Se for consistente, não tenho dificuldade de votar pela admissibilidade. Mas desconfio que ela não é. Se [a denúncia] for ilação, tô fora", disse o deputado.
Na avaliação de uma liderança do partido, o voto de Abi-Ackel a favor de Temer é uma questão de "sobrevivência política". O PSDB em Minas não comanda nem o governo do Estado nem a Prefeitura de Belo Horizonte, o que aumenta a dependência do governo federal para as eleições do ano que vem.
O deputado Elizeu Dionízio (MS) não foi localizado desde quarta-feira (28), mas seus colegas dizem que ele votará pela admissibilidade.
Dois deputados ouvidos pela Folha, Jutahy Júnior (BA) e Silvio Torres (SP), não quiseram revelar o voto.
"Vou avaliar a defesa e a acusação. Minha posição nada terá a ver por ser governo, oposição ou do PSDB, será um voto de consciência pessoal. A crise é de responsabilidade exclusiva do presidente Michel Temer. Por ter recebido o Joesley naquelas circunstâncias e pelo conteúdo da conversa", disse Jutahy.
Aliados de Temer dão esses votos como perdidos e dizem que trabalharão pelo convencimento de deputados de outros partidos, em especial do "centrão". O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), declarou que não fará mudanças nos membros da CCJ. O governo, que já fez trocas entre os membros do Solidariedade, não descarta promover novas alterações para garantir maioria a favor de Michel Temer.