Thiago Andrade
Recuperar a história de um herói esquecido é a proposta do espetáculo “O amargo santo da purificação”, desenvolvido pela Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, de Porto Alegre, que se apresenta hoje, às 16h, na Praça Ary Coelho, em mais uma edição do Palco Giratório 2010, promovido pelo Serviço Social do Comércio (Sesc). Com 32 anos de existência, o grupo gaúcho é uma das principais referências nacionais no teatro de rua, acreditando sempre nas possibilidades políticas e subversivas do teatro feito fora das salas de espetáculos.
Em “O amargo santo da purificação”, a Tribo de Atuadores lembra a história de Carlos Marighella, revolucionário baiano que encarou a luta armada contra a ditadura militar e tornou-se o inimigo número 1 do poder na década de 1960. “Ele foi praticamente banido da história oficial e nunca virou nome de rua, embora tenha sido um grande herói da resistência”, lembra a atuadora Tânia Farias. Uma curiosidade é que o roteiro do espetáculo também foi censurado na década de 1980.
Segundo Tânia, o protagonista enfrentou também o Estado Novo de Getúlio Vargas, tendo sido torturado e, mesmo assim, nunca desistindo de acreditar na possibilidade de um país diferente. Ói Nóis Aqui Traveiz coloca em cena não apenas a história de Carlos Marighella, mas todos os elementos fortes em sua vida, principalmente, a relação que tinha com a cultura popular.
“Capoeira, música, candomblé, poesia e figurinos inspirados no barroco foram utilizados para quebrar aquela ideia de história didática. Toda a dramaturgia foi construída a partir de poemas escritos pelo próprio protagonista, posteriormente transformados em canções, o que nos deu possibilidades de criar um trabalho que funde ritual e teatro-dança’, pontua Tânia Farias.
Outra forte referência para o trabalho foi o baiano Glauber Rocha, diretor de filmes como “Deus e o diabo na terra do sol”, que, como lembra a atuadora, fez cinema barroco e revolucionário.
Teatro na rua
Romper com as barreiras que separam público e atores sempre movimentou a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, que iniciou seu trabalho com o que chamaram de teatro de vivência, no qual a plateia era convidada a percorrer espaços cênicos junto aos atores e se relacionar de outra forma com o espetáculo. Já o teatro de rua, do qual a tribo se tornou um grande expoente, veio depois e nasceu de experimentos realizados pelos atuadores em meio a manifestações políticas.
“Descobrimos um outro público que não frequentava espetáculos em galpões ou outros espaços. Começamos a investigar esse gênero, pois o caráter popular do teatro de rua potencializa a força dessa arte”, acredita Tânia. Atualmente, pensando sempre na popularização da arte, o grupo desenvolve projetos como escolas de formação de atores e oficinas em bairros de Porto Alegre, todos gratuitos. Em Campo Grande, a tribo promoveu, entre os dias 13 e 16, oficina com atores.