Na semana passada, o corpo de um garoto de 13 anos foi encontrado carbonizado num terreno baldio em Dourados. Embora estivesse com sinais de esfaqueamento, as autoridades policiais suspeitavam que ele tenha sido incendiado ainda vivo. Dois irmãos do garoto já haviam sido assassinados e agora é a mãe que está sob ameaças. Os três irmãos tinham alguma relação com consumo e tráfico de drogas. A morte do adolescente foi somente mais uma em meio a tantas na periferia de uma cidade do interior brasileiro. Na mesma semana, porém, o cartunista Glauco Villas Boas e seu filho Raoni foram assassinados em São Paulo e ao que tudo indica, o assassino, detido na fronteira com o Paraguai, estava sob efeito de entorpecentes ilegais, o que está provocando repercussão que casos desta natureza deveriam receber sempre. Quer dizer, as consequências do uso indiscriminado de drogas ilegais estão cada vez piores e atingindo gente de todas as classes sociais, embora as camadas inferiores da pirâmide social sejam as que mais sofrem. Nem com as sucessivas tragédias de repercussão nacional e muito menos com aquelas que diariamente são registradas nos quatro cantos do País, as autoridades ficam sensibilizadas no sentido de investir seriamente no tratamento dos dependentes químicos. O assassino confesso do cartunista Glauco é de família que, em tese, poderia até providenciar tratamento particular ao jovem de 24 anos. Mesmo assim, os últimos atos do estudante Carlos Eduardo Sundfeld evidenciam que os resultados de qualquer tipo de auxílio foram insatisfatórios. E, se em famílias de classe média determinadas tragédias são praticamente inevitáveis, imagine-se o destino dos jovens e crianças carentes, sem qualquer possibilidade de ajuda especializada. Combate ao narcotráfico resume-se, ainda, à perseguição de traficantes e apreensão de drogas. Porém, já está mais do que comprovado que o poder público, com esta estratégia, perdeu esta batalha há muito. O poder de fogo dos traficantes e sua capacidade de infiltração em negócios lícitos, na política e até mesmo em igrejas (na semana passada foram presos três “pastores” que tentavam levar sete fuzis para o Rio de Janeiro) são sinais mais do que suficientes para comprovar que esta guerra só poderá ser vencida a partir do momento em que houver investimentos sérios e pesados no tratamento de usuários. Hoje, as poucas alternativas que existem são de entidades ligadas a algumas igrejas, além de meia dúzia de vagas em hospitais para internação de pacientes psiquiátricos. Mas, para famílias carentes terem acesso a alguma dessas vagas é uma verdadeira viacrúcis, normalmente intransponível. É mais do que sabido que o narcotráfico é um preocupante problema mundial e acreditar em sua solução rápida seria ilusão. Porém, é impossível negar o retrocesso que Campo Grande e Mato Grosso do Sul estão vivenciando nos últimos anos, pois há cerca de duas décadas a rede de atendimento era bem mais ampla que na atualidade, embora a quantidade de usuários fosse menor e as drogas, menos nocivas.