A cena do sniper deitado sobre um veículo, esperando ordens para atirar, chamou atenção na manhã do dia 20 de agosto. O País parou para acompanhar o sequestro de um ônibus no Rio de Janeiro, onde um homem armado manteve 37 passageiros como reféns. Após mais de três horas de negociações, o sequestrador foi baleado e morto por um sniper, atirador de elite do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar carioca, e os reféns liberados sem ferimentos.
Treinados para lidar com situações semelhantes, o grupo de atiradores do Bope em Mato Grosso do Sul conta com quatro policiais, que, além de serem capazes de realizar disparos com precisão milimétrica, precisam lidar com o controle emocional necessário em situações extremas.
Como parte da capacitação, os atiradores treinam para atingir alvos de apenas 3 centímetros de raio a uma distância de até um quilômetro, além de incorporarem aos exercícios variações que possam vir a acontecer em situações reais. No comando do Bope no Estado, o major Wilmar Fernandes explica que a atuação de um atirador de elite depende de vários fatores. “É possível entender o tiro de comprometimento como um triângulo: em uma das pontas se tem o policial especializado, em outra o equipamento, que é o fuzil, e por fim a munição. É um conjunto obrigatório de elementos, na falta de um deles, se compromete toda a ação”, esclarece.
O treinamento exige perfil apropriado, que inclui fatores técnicos e psicológicos como experiência na área de intervenções táticas, adaptação ao equipamento, altos níveis de concentração e muita paciência. Para atuação, é obrigatório o curso no Comando de Operações Táticas, a ‘tropa de elite’ da Polícia Federal, disponível somente em outros estados e com duração média de três meses.
Criado há pouco mais de três anos, juntamente da formação da estrutura do Bope no Estado, a subdivisão de atiradores de precisão foi adquirindo o equipamento necessário durante seu período de existência. As armas utilizadas pelos snipers são fuzis de precisão, equipados com luneta e tripé, apropriados para o uso de observação e disparos de longas distâncias.
Cada sniper tem seu próprio fuzil, devendo estar adaptado ao mesmo, e realiza customizações próprias em suas armas. Segundo o comandante major Fernandes, os equipamentos do grupo ainda não são de ponta, como os utilizados pelos snipers do Rio de Janeiro, mas que há a intenção de melhorar o armamento e que o Bope está trabalhando para adquiri-lo.
Em Mato Grosso do Sul, todas as ocorrências que exigiram o trabalho do batalhão foram solucionadas sem mortes, de reféns ou de criminosos, sendo resolvidas com a negociação e detenção dos sequestradores. “Em toda situação de crise, os policiais estão comprometidos em preservar a vida seja de quem for, até do criminoso. Por isso que existem as ferramentas da negociação, das técnicas não letais”, explica major Fernandes.
O comandante esclarece que existe uma série de procedimentos disponíveis, mas que a utilização depende de fatores únicos envolvidos em cada situação. “A maioria das ocorrências é resolvida ainda na negociação, só em uma pequena parte é necessária a entrada da equipe para render o criminoso sem ele se entregar. No caso extremo, se utiliza o sniper, porque a ameaça à vida do refém é iminente”, esclarece.
O intuito do tiro de comprometimento, termo adotado pela corporação, é neutralizar a ação do criminoso e impedir que ele consiga reagir e atentar contra a vida dos reféns. Sobre as decisões adotadas no sequestro ocorrido no Rio de Janeiro, no começo da semana passada, o comandante do Bope local preferiu evitar demais comentários por não saber dos detalhes da ação, mas enfatizou que “o disparo foi efetivo por impossibilitar qualquer reação do sequestrador”. “Tratava-se de um policial treinado, que tinha um armamento correto, e o disparo feito por ele foi eficiente”, analisa.