Os testes da vacina britânica da Covid-19, que serão feitos no Brasil, estão previstos para começar em julho. A tradição e relevância internacional do programa de imunização do País pesaram na escolha para sediar a última fase de estudos da substância desenvolvida na Universidade de Oxford.
A investigadora principal do projeto na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) é Lily Weckx, professora da disciplina de infectologia pediátrica do curso de Medicina da instituição. Ela respondeu com exclusividade perguntas feitas pelo Correio do Estado, deu detalhes sobre como funciona o produto e de que forma o ensaio será conduzido.
QUEM VAI PARTICIPAR?
Serão recrutados dois mil voluntários, apenas no Rio de Janeiro e São Paulo. Os candidatos devem ter o seguinte perfil: homens e mulheres entre 18 e 55 anos que trabalhem na linha de frente no combate ao novo coronavírus ou que sejam funcionários dos hospitais que atendam pacientes contaminados e por isso estejam expostos à doença.
“Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, técnicos em radiologia, fonoaudiólogos, pessoal de limpeza, porteiros, seguranças e motoristas de ambulância”, explicou Lily.
Outro fator importante: ninguém pode ter sido contaminado com a Covid-19 previamente, então testes sorológicos serão feitos nos participantes, se os anticorpos forem identificados no organismo, a pessoa não poderá seguir adiante.
COMO VAI FUNCIONAR?
A investigadora principal do estudo explica que os voluntários serão divididos em dois grupos. Um deles receberá a vacina contra o novo Coronavírus da Oxford e outro uma imunização meningocócica. Nenhum participante saberá qual produto recebeu.
“Isso nos dá dados confiáveis da evolução do participante. A partir daí, vamos acompanhar e ver quem teve ou não Covid durante um ano. Vamos comparar se no grupo das pessoas que receberam a vacina haverá menos casos de doença do que aquele que não recebeu”, diz Lily.
PROTEÇÃO
Existem mais de 130 vacinas contra o novo coronavírus em desenvolvimento no mundo e a britânica é a mais avançada.
O agente causador da doença tem formato bastante conhecido da população pelas imagens que circulam na mídia: circular e com espécies de “tentáculos” em volta dele. A pesquisadora da Unifesf explica que essas estruturas são conhecidas como “spikes” e têm a função de fazer com que o vírus entre dentro das células que utiliza para se reproduzir.
“Essa vacina tem o propósito de formar anticorpos contra essa espícula para que as neutralize e não deixe que o vírus entre na célula. Ao invés de pegar o vírus inteiro e injetá-lo no organismo, a imunização em análise leva o spike através de um vetor viral. Isso é apresentado ao organismo, que faz uma resposta imune com anticorpos protetores”, afirma Lily.
EXPECTATIVAS
A médica afirma que a vacina britânica tem se mostrado muito segura e “imunogênica, ou seja, produz anticorpos contra a covid-19. Estamos na fase de avaliar a eficácia: o quanto essa vacina protege, qual a porcentagem de pessoas que vão ficar protegidas. Espero que seja uma vacina que funcione muito bem, mas em se tratando de um estudo científico, não quero forçar a barra para nenhum lado. Por isso temos um grupo controle para nos dar de maneira exata quem de fato se protegeu”, completa.
DESENVOLVIMENTO
A biofarmacêutica multinacional AstraZeneca patrocina os testes. A realização dos ensaios no Brasil é um forte indicativo de que a companhia tem interesse no mercado local, caso a eficácia da proteção seja realmente comprovada e não haja riscos para a saúde dos pacientes.
Mesmo sem ter a eficácia comprovada, a empresa já colocou sua linha de produção para funcionar e ela é fabricada nas unidades indiana, suíça, norueguesa e também britânica da empresa.
Segundo informações do DailyMail, a companhia pretende ter estoque de milhões de unidades em setembro.