Se antes o Brasil era considerado uma alternativa aos saturados mercados europeu, norte-americano e asiático, agora deixou de ser atraente para as marcas de automóveis de alto luxo. A alta abrupta do IPI para importados adotada pelo governo para segurar a avalanche de veículos chineses e coreanos importados acabou atingindo em cheio o segmento mais sofisticado também.
Para completar a tragédia, o câmbio inverteu a trajetória de queda, encarecendo ainda mais o custo dos automóveis que vêm do Exterior. O resultado é que as vendas de modelos acima de R$ 300 mil das marcas “premium” caíram nada menos que 41%, segundo levantamento feito pelo iG com dados da Abeiva e Anfavea.
Há um ano era possível comprar um BMW 550i, um dos sedãs de luxo mais famosos do mercado, por R$ 396 mil. Hoje esse mesmo modelo custa R$ 500 mil, alta de 26%. O conhecido utilitário esportivo Cayenne, da Porsche, é outro veículo com expressivo aumento. Na versão mais em conta, V6 3,6 litros, o preço pulou de R$ 269 mil em 2011 para R$ 339 mil neste ano, um reajuste idêntico ao do BMW. A situação motivou a importadora Sttutgart a oferecer o SUV em condições semelhantes às de carros mais baratos, com entrada mais 12 parcelas fixas sem juros.
“O repasse seria muito maior se não tivéssemos absorvido parte desse aumento”, disse ao iG um executivo do setor. Na época do aumento do IPI houve quem dissesse que apenas o consumidor comum sentiria no bolso a diferença a mais “afinal, o rico não se importa em pagar R$ 50 mil, R$ 100 mil a mais”, mas na prática isso não se confirmou: “o cliente abastado sabe bem o valor do dinheiro”, completou o mesmo profissional.
Blindada contra a crise
Entre as marcas de luxo, a mais afetada foi a inglesa Aston Martin, que viu suas vendas caírem de 20 unidades no 1º semestre de 2011 para apenas cinco carros neste ano. Com mais volume, Porsche e Land Rover vieram a seguir, com queda de mais de 60%. A montadora alemã, que agora é parte do grupo Volkswagen, atribuiu o problema não só ao IPI e câmbio, mas também "à renovação da linha. Os modelos 911 e Boxster mudaram e não estiveram disponíveis no início deste ano”, explicou o assessor da marca, Luiz Alberto Pandini.
A marca inglesa, hoje propriedade dos indianos da Tata, só se salvou porque a chegada do modelo Evoque mais do que compensou as perdas em outros modelos. A montadora, no entanto, confirma os motivos do sumiço dos clientes de suas lojas: “O aumento do IPI em 30 pontos percentuais, em conjunto com a cotação do dólar frente ao real, que saltou de R$1,65 em meados do ano passado para cerca de R$ 2,05 neste ano, afetou todos os segmentos de veículos importados, desde aqueles com preços mais populares, até os superluxuosos. A medida de aumento do IPI foi exagerada e prejudicou o mercado e o consumidor brasileiro, que tem cada vez menos acesso a veículos de alta tecnologia, segurança e design”, argumentou Flavio Padovan, diretor geral da Land Rover e Jaguar e também presidente da Abeiva, a entidade que reúne as empresas importadoras.
Curiosamente, uma das marcas mais desejadas do mundo viu seus números crescerem nesse período. A Ferrari teve o êxito de emplacar 30 unidades de seus esportivos em 2012, seis a mais que em 2011, situação semelhante à da rival Lamborghini, que também é representada pelo grupo Via Italia no Brasil e ampliou suas vendas em 33%.
Marca | Vendas 1º semestre 2011 | Vendas 1º semestre 2012 | % |
Aston Martin | 20 | 5 | -75% |
Audi* | 142 | 162 | 14% |
Bentley | - | 4 | - |
BMW* | 544 | 441 | -19% |
Ferrari | 24 | 30 | 25% |
Jaguar | 38 | 21 | -45% |
Lamborghini | 9 | 12 | 33% |
Land Rover* | 584 | 228 | -61% |
Maserati | 13 | 11 | -15% |
Mercedes-Benz* | 769 | 477 | -38% |
Porsche | 594 | 216 | -64% |
Total | 2.737 | 1.607 | -41% |
* Apenas modelos com preço acima de R$ 300 mil
Mercado marginal
Apesar de ter entrado no mapa das grandes grifes mundiais, o Brasil ainda responde por uma parcela minúscula das vendas globais de algumas marcas. Mesmo ostentando o 4º maior mercado de automóveis do mundo, nosso país foi o destino de menos de 1% das Ferraris vendidas em 2011. Na Audi, que possui um portfólio bem mais acessível, essa participação é ainda mais inexpressiva – apenas 0,4%.
Mesmo com números decepcionantes, o País é considerado um dos mercados mais promissores no mundo a ponto de motivar empresas como BMW, Land Rover e Mercedes-Benz a estudar a fabricação de alguns modelos em território nacional. No entanto, a falta de regras por parte do governo tem sido apontada como a principal causa para desmotivar o crescimento desse mercado: “Estamos esperançosos de que o Governo edite uma medida para aliviar esta carga tributária, permitindo que o mercado volte ao normal”, afirmou Padovan.