Gabriel Sobreira, PopTevê
Quando criança, Íris Brüzzi, a Beatriz de “Ribeirão do tempo”, da Record, subia em árvore para chupar manga e brincava feito moleque em Marataízes, município do Espírito Santo. Da infância feliz no litoral capixaba ao brilho de vedete na cidade do Rio de Janeiro, a jovem tentou ser desde caixa da Casas Slopper até aeromoça, mas sem sucesso. Não tinha capacidade para nenhum desses trabalhos. “A gerente da casa disse ‘nossa, ela é linda, vai ficar na seção de perfumaria’. Não fiquei porque não sabia fazer conta de porcentagem. No outro trabalho, o general que me entrevistou disse que eu vomitava muito e que eu tinha horror de avião”, relembra, entre risos.
Não demorou muito para Íris ser “descoberta” artisticamente. Nélia Paula, vedete de Niterói, lembrada como o par de pernas mais belo do país, identificou na garota de corpo curvilíneo e rosto encantador um potencial a ser destacado: o teatro de revista. “Quando eu estreei, em 53, era muito feio uma pessoa trabalhar em teatro de revista. Você era tido como uma marginal, uma mulher da vida”, explica.
No caso de Íris, a família chegou a ficar quase três anos sem falar com ela, alegando que a pequena Íris tinha se perdido. Segundo a atriz, foi justamente o contrário: ela se encontrou. Os retratos da parede que anteriormente foram retirados voltaram ao lugar quando Íris casou com o produtor e autor teatral Walter Pinto. “Era bárbara a importância do Walter. Voltaram as fotos e até quem não era parente passou a ser”, revela aos risos. Íris usa uma metáfora para explicar sua estreia na tevê. “A vida é feito uma escada, se colocar um pé no primeiro degrau e no último você se rasga todo, se machuca e não sobe”, conceitua ela, que começou como corista no teatro de revista, atrás de vedetes como Nélia Paula.
O convite para o programa “Teatrinho Trol”, ou “Vesperal Trol”, veio por meio do diretor Flávio Sabbagh. A produção era um dos maiores sucessos em meados dos anos 50. “Nós ensaiávamos a semana inteira e ia ao ar domingo ao vivo. Eram as duas coisas mais importantes, o Grande Teatro Tupi, que era a Fernanda Montenegro, o Sérgio Britto e outros, e o Grande Teatro Vesperal Trol conosco”, explica. Outro motivo de orgulho para Íris foi o título de “Certinha do Lalau”, famosa lista de mulheres bonitas dos anos 50 organizada pelo influente cronista Sérgio Porto, sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta. Íris esteve na seleção por mais de uma década. “Eu dizia: ‘Sérgio, já tenho filha de 10 anos’. E ele respondia: ‘para mim, você será sempre Certinha do Lalau’”.
Recordar os anos de glória não é um sinal de saudosismo para a carioca de voz firme e personalidade forte. Aos 75 anos de idade, Íris diz só sentir saudade dos grande amigos que já faleceram, a exemplo do ator Grande Otelo, morto em 1993, que era um dos primeiros a chegar às festas de seus filhos.