Dados da Sala de Gestão da Universidade de Brasília (UNB) mostram que Campo Grande vive o maior patamar da taxa de transmissão da Covid-19 desde o início da pandemia.
A alta começou em dezembro de 2021, quando o índice variava de 3,3 a 3,8. Neste mês, alcançou o maior número até agora, entre 3,1 e 4,6, e segue crescente. Mesmo assim, o aumento da taxa de transmissão não resultou em explosão de internações, como em outros momentos de pico da doença.
De acordo com boletim do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, o principal centro médico para o tratamento da doença no Estado, apenas 47 pessoas seguiam internadas por Covid-19 até domingo (dados mais recentes até o fechamento desta matéria).
Dessas pessoas que precisaram de atendimento, 31 estavam na enfermaria e apenas 16 foram levadas para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Já no pior momento da pandemia enfrentado pelo hospital, havia 140 leitos de UTI ocupados por doentes, segundo o diretor técnico e assistencial da unidade, Paulo Limberger.
Conforme a plataforma desenvolvida pela UNB, a Capital teve uma crescente na taxa de transmissão na semana passada. No dia 17, a variação era de 0,7 a 1,03, no dia seguinte, ficou entre 0,9 e 1,4.
Já na quarta-feira (19), estava entre 1,1 e 1,4, passando para 1,4 a 1,8 na quinta (20) e chegando ao patamar entre 2,06 e 2,8 na sexta-feira (21). O maior índice da semana passada, último dado apresentado pela plataforma, ocorreu no sábado (22), quando a variação estava no intervalo de 2,6 a 3,1.
A taxa de transmissão representa a quantidade de pessoas que serão infectadas pelo vírus por meio de cada pessoa contaminada. Portanto, quando temos um índice de até 3,1, isso significa que, a cada 100 pessoas contaminadas, 310 podem ser infectadas, e depois mais 961 e assim por diante.
Essa maior taxa de transmissão, segundo especialistas, pode ser explicada pela característica da variante Ômicron, cepa mais contagiosa da Covid-19 e que está em circulação em Mato Grosso do Sul.
“Temos uma cepa de três a quatro vezes mais contagiosa que a original. Então, precisamos de medidas mais restritivas para conseguir achatar a curva que essa variante criou”, avalia o médico infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Julio Croda.
Ainda segundo a plataforma, a taxa de contágio de todo Estado está em 1,07, entretanto, conforme a Secretaria de Estado de Saúde (SES), esse índice era de 0,73.
O recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é que esse valor seja menor que 1, porque só assim a doença consegue ser controlada.
Esse patamar foi alcançado no ano passado, com o avanço da vacinação. Entretanto, a nova variante, que chegou a Mato Grosso do Sul perto das festas de fim de ano, colaborou para este novo crescimento.
“Quem não vai pegar [a variante] é uma parcela das pessoas que foi vacinada nos últimos cinco meses. Mas, mesmo assim, devemos seguir tendo menos hospitalização e óbitos por conta do avanço da imunização”, diz o infectologista.
SAZONAL
Croda avalia que, com o avanço da vacinação em continentes que ainda têm uma cobertura muito baixa, como África e Ásia, a pandemia da Covid-19 pode deixar de existir e a doença se tornar sazonal, assim como ocorre com a influenza A.
“Vai chegar esse momento quando uma parcela maior da população mundial estiver acesso a vacinação. Aí, imaginamos que a Covid-19 deixará de ser uma pandemia e se tornará sazonal, como a H1N1, com a atualização da vacina, que deve ser aplicada periodicamente, com pouco impacto em hospitalização e óbitos. Mas, para isso, precisamos que países da África e da Ásia melhorem a cobertura, o que imaginamos que deva acontecer este ano”, salienta o especialista.
Atualmente, em Mato Grosso do Sul, o índice de pessoas com a primeira dose das vacinas em relação à população total é de 82,91% (até o início da noite de ontem), e, com as duas doses, de 73,85%.
Em Campo Grande, esse porcentual é menor: a cidade tem 75,27% da população total com uma dose da vacina e 71,15% com a imunização completa.
Das 644.681 pessoas que tomaram a segunda dose, 292.718 retornaram para a dose de reforço, a terceira. E ainda há 858 que tomaram a quarta aplicação, destinada para pessoas com alto grau de imunossupressão.
Na semana passada, a Capital iniciou a vacinação em crianças de 5 a 11 anos, após a chegada de doses pediátricas da Pfizer.
Na sexta-feira, foi incluída no Plano Nacional de Imunizações (PNI) a vacina da Coronavac para pessoas de 6 a 17 anos. A aplicação das doses do imunizante fabricado pelo Butantan foi iniciada neste fim de semana em Campo Grande.
Conforme dado da Sala de Gestão da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), até ontem haviam sido aplicadas 10.058 doses nas crianças de 5 a 11 anos na Capital.
MÉDIA MÓVEL
Conforme reportagem publicada pelo Correio do Estado neste fim de semana, a média móvel de casos de Covid-19 em Mato Grosso do Sul teve um salto de 9.416,5% em um mês.
O cálculo levou em conta dados de boletins epidemiológicos da doença divulgado pela SES no dia 23 de dezembro de 2021 (boletim divulgado mais próximo do dia 21) e no dia 21 deste mês (sexta-feira).
Naquele dia de dezembro, a média móvel de casos diários de Covid-19 no Estado era de 10,9. Já nesta sexta-feira, a média móvel se encontrava em 1.026,4, variação de 9.416,5%. Segundo especialistas, esse crescimento só não foi convertido em aumento de internações e possível colapso na saúde por causa da vacinação.
Ontem, o boletim epidemiológico trouxe mais 432 casos, apesar do número baixo, a média móvel da doença é de 1.474,4.
Ocorreram mais 11 mortes, e a média chegou a cinco óbitos diários. Desde o começo da pandemia, são 402.729 casos em Mato Grosso do Sul, com 9.794 mortes pela doença. A taxa de letalidade no Estado é de 2,4%.