Por meio de um projeto de extensão da UFMS, alunos do Ensino Fundamental da Escola Estadual 11 de Outubro, em Campo Grande, fazem curta-metragem selecionado para festivais no Brasil, no Peru e na Argentina
Em um um planeta não muito distante, uma tragédia aconteceu. Um monstro terrível dizimou muitas pessoas. As crianças não podiam ir à escola e tinham aulas a distância. Cientistas criaram a "vacinix" para derrotar o monstro. Na volta às aulas, os jovens tiveram que lidar com todas as emoções do retorno e de estarem juntos outra vez. Aprenderam com personagens dos livros como lidar com as emoções para transformar as suas relações na escola.
Esse é o resumo da história narrada no curta-metragem "Deu a Louca nas Emoções". Produzido por alunos do Ensino Fundamental da Escola Estadual 11 de Outubro, no Jardim Bonança, por meio de um projeto de extensão da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o filme de apenas seis minutos tem seguido uma carreira de fôlego em festivais dentro e fora do Brasil.
O curta foi criado por estudantes do quinto ano ao longo de 2022, no contexto do projeto Brincar de Fazer Cinema com Crianças.
Dá uma olhada no portfólio percorrido até a semana passada. "Deu a Louca nas Emoções" integrou a programação da Mostra Geração do Festival do Rio (RJ), realizado de 5 a 15 de outubro, e participou da 22ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, em Santa Catarina, de 11 a 21 de outubro.
Sob o título, em espanhol, "Emociones a Flor de Piel", a produção também esteve no 8º Festival Internacional de Animación Ajayu, na cidade de Puno, às margens do Lago Titicaca, no sul do Peru, e foi exibida na semana passada, em Buenos Aires, na Argentina, no 22º Festival Hacelo Corto.
E tem mais: até sexta-feira (1), "Deu a Louca nas Emoções" integra os filmes em votação aberta pelo júri popular do Festival Internacional de Cinema Escolar de Alvorada, no Rio Grande do Sul. Para assistir e votar, basta acessar o canal do festival no YouTube.
TRÊS ETAPAS
O Brincar de Fazer Cinema com Crianças é coordenado pela professora Tina Xavier, da Faculdade de Educação (Faed) da UFMS. Ela conta que o projeto existe desde 2010 e é realizado anualmente com crianças de escolas municipais.
No ano passado, as atividades foram retomadas após uma pausa por conta da pandemia, e foi também a primeira vez em que foram realizadas em uma escola estadual.
"A temática trabalhada foram as emoções das crianças com a volta presencial às aulas após esse período em que todos ficamos em isolamento. As crianças do quinto ano estavam com as emoções à flor da pele, por isso, o filme retrata e trabalha isso: como gerir essas emoções do reencontro com amigos e amigas na volta à socialização", comenta Tina Xavier.
A professora explica que o trabalho manteve a metodologia, com três fases distintas, já adotada em edições anteriores do projeto. Na primeira fase, intitulada Brincar de Pensar em Si e no Mundo, várias atividades foram realizadas para as crianças refletirem sobre o assunto.
"Levamos livros infantis, vídeos, filmes, curtas-metragens do nosso projeto e de outros que também são desenvolvidos com crianças, fizemos toda a discussão teórica e reflexiva sobre a temática", diz a professora e coordenadora do projeto.
Tina diz que as emoções pessoais acabaram se sobressaindo com frequência: "Muitas não conseguiram estudar direito com o ensino remoto e, por serem de camadas bastante populares, também não tinham acesso a pessoas que pudessem auxiliá-las. Isso gerou emoções como raiva, medo, dificuldade de lidar com o 'não saber'. Muitas não tinham sido alfabetizadas em sua completude quando começou a pandemia, e isso também gerou emoções conflituosas".
A segunda etapa, intitulada Brincar de Fazer Cinema com as Crianças, consiste propriamente na criação e na produção do curta, na qual Tina e a equipe do projeto apresentam e trabalham temas como a linguagem cinematográfica e passam à construção do roteiro e do filme em si. A animação
"Deu a Louca nas Emoções" foi desenvolvida em 2D a partir de desenhos produzidos pelas crianças.
A terceira fase é a realização de um seminário ao fim do ano, para o lançamento do filme produzido e para uma mesa-redonda para discussão do projeto, da qual as crianças também participam. A atividade foi realizada no dia 2 de outubro, no Anfiteatro Marçal de Souza (UFMS).
"É um momento bastante interessante, as crianças ficam felizes de ver sua produção sendo exibida e de participarem da avaliação do projeto", destaca a coordenadora.
EQUIPE
Tina costuma inscrever os curtas em diversos festivais nacionais e internacionais e afirma que só a aprovação na seleção já é considerada um prêmio.
"São filmes do mundo inteiro, e por isso é sempre uma alegria imensa sermos selecionados para exibição. Termos o filme em vários lugares do mundo demonstra a importância e o reconhecimento do nosso trabalho também na universidade e especialmente o reconhecimento de como a universidade articula seus saberes com a comunidade", frisa.
A equipe de produção de "Deu a Louca nas Emoções" foi composta, além da coordenadora, por Samanta Felisberto Teixeira, técnica em assuntos educacionais, Carolina Cristaldo Fontes Rocha, Clara Moreira Guarnieri Rosa e Isadora Lynch dos Santos, estudantes de Pedagogia e bolsistas de extensão da UFMS, e ainda Ana Karolinna Rodrigues Moraes, Lui Soares, Rhanna Raquell Moura Salim de Souza e Telma Iara Bacarin, que reforçaram o time como voluntários.
FILMOGRAFIA
Neste ano, uma nova turma de alunos, desta vez do quarto ano da Escola Municipal Maria Regina de Vasconcelos Galvão, produziu um novo curta, chamado "A Escola das Diferenças".
Com essa produção, o projeto totaliza 14 animações em 13 anos de história. Muitas delas já receberam premiações e foram selecionadas para grandes festivais, como o brasileiro Anima Mundi, um dos mais importantes do mundo entre os que se dedicam ao cinema de animação.
POTENTE
Os filmes e também os bastidores das produções podem ser encontrados no canal do projeto no YouTube e em seus perfis no Instagram e no Facebook. Tina Xavier acredita que a iniciativa deve continuar por muitos anos.
"É um projeto extremamente potente. É um processo de construção, de socialização de conhecimentos e de reflexão de temáticas importantes para as crianças. É transformador para elas e também para nós, da equipe, porque a cada ano estamos com uma temática diferente. Os temas são decorrentes das nossas pesquisas na universidade, mas, para que possamos dialogar com as crianças, tem muito mais estudo, muito preparo, e isso contribui muito também para nossa formação", completa.