O estudante, escritor e artista plástico goiano Hector Ângelo Melo Briet, de 15 anos, recebeu um convite para expor um dos seus desenhos em Paris, entre os dias 20 e 22 de outubro deste ano. Após publicar seus trabalhos nas redes sociais, ele recebeu um e-mail de um curador chamando-o para expor sua obra “Eu sou os gays que sofrem homofobia” no Carrossel do Louvre, uma galeria que dá acesso ao Museu do Louvre.
A peça faz parte de uma série de desenhos chamada “Eu sou a dor” em que o adolescente abordou as várias formas de preconceito, entre eles, o racial, a homofobia, gordofobia, entre outros. A obra que aborda as dificuldades enfrentadas pela comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBTT) foi a escolhida por curadores para ser exposta em Paris.
Hector revela que a peça é a sua preferida da série. “Eu queria passar uma mensagem. Eu acho que esse é o mais interessante por causa do sangue que vai formando a bandeira LGBTT. Achei mais marcante, porque as pessoas estão chorando e eu queria, de alguma forma, representar a tristeza e o orgulho. Muitos transexuais, gays, lésbicas, acabam morrendo por causa da ignorância de outras pessoas"
"Aqui [no quadro], mesmo ele morrendo, sente orgulho de ser quem ele é”, explicou em entrevista ao G1.
O goiano destaca que o tema veio a ele de maneira natural, já que ele considera importante abordar os diversos tipos de preconceito. “Acho que discutir a diversidade é muito importante porque somos todos diferentes. Acho que a arte está aí para isso, para mostrar que o diferente é legal, é interessante”, afirmou.
O artista contou ainda que mal acreditou quando recebeu o convite do curador Heinz Playner para expor seu trabalho no exterior. Segundo Hector, eles se conheceram pelas redes sociais e, sem que esperasse, recebeu uma mensagem com o convite.
“Eu fiquei até um pouco sem acreditar. Mandei uma mensagem para ele para ver se era verdade mesmo. Ele é curador e me disse que sou o segundo brasileiro a participar dessa exposição. Fiquei muito feliz, muito contente. Não pensei que isso iria acontecer, nem mesmo nos meus maiores sonhos. É muito gratificante receber esse convite”, contou, animado.
O curador comentou que escolheu o trabalho do adolescente goiano por acreditar que as obras dele são acessíveis, além de inspirarem discussões sobre assuntos importantes.
“Eu achei a arte do Hector, e o próprio Hector, muito interessantes. Tem uma arte diferente, mas também provocativa e que se destaca. Ele conversa com todos nós do jeito próprio dele: de maneira filosófica e aberta, apesar da pouca idade”, esclareceu.
Ainda conforme Playner, o tema da obra de Hector também chamou muita atenção. Segundo ele, a mensagem do artista goiano é de mais tolerância e gera reflexão sobre a diversidade, assuntos que o próprio curador considera importantes e que deveriam ser mais explorados pelas artes plásticas.
“Achei muito bom ver que o Hector, de forma muito provocativa e aberta, chamou a nossa atenção para a forma como nos vemos em sociedade. É muito importantes que saibamos falar através da arte e ele faz isso muito bem. Acredito que o estilo dele fará muitas pessoas pensarem”, destacou.
Outros trabalhos
Além da série de desenhos sobre preconceito, Hector já assinou outras exposições. A mais recente também aborda a homossexualidade e se chama “Orgulho em aquarela”. Convidado para expor no Clube de Costura, dentro do Mega Moda Shopping, ele criou seis desenhos, cada um representando uma das cores da bandeira LGBTT.
O dono do Clube de Costura, Leandro Pires, de 38 anos, conta que convidou Hector para criar a exposição especialmente para comemorar o Dia do Orgulho Gay.
“Eu acho fantástico o olhar dele. É contemporâneo, tem um trabalho que consegue comunicar com todas as frentes sociais. Quando a gente fala de arte parece, na nossa cultura, ainda muito distante das grandes massas, muito elitizada, mas vejo que o trabalho dele é muito inclusivo. As pessoas se sentem pertencentes”, avaliou.
Trajetória
A primeira fã e parceira do adolescente na carreira artística foi a publicitária Isadora Soares de Melo, de 41 anos, mãe do artista. Ela recorda como o filho começou a despertar o interesse pelas artes.
“Desde criança os principais brinquedos dele eram lápis e papel. Quando aprendeu a escrever, ele decidiu que queria escrever um livro. Aos 7 anos, ele fez um livro em casa, com ilustrações e uma história coesa. Eu fiz algumas copias para os parentes, mas ele disse que não era aquilo que ele queria, que ele queria realmente publicar o livro. Fomos atrás e conseguimos”, contou.
Desde então, Hector permeia os campos da escrita e das artes plásticas. Ele já publicou outros quatro livros e expôs suas obras em shoppings da capital. Mesmo com 15 anos, ele garante que já sabe que quer seguir o caminho das artes.
“Eu pretendo ser escritor, artista plástico e também quero trabalhar com animação, cinema e moda também”, comentou.