A poesia dos ipês, árvore-símbolo de Mato Grosso do Sul, foi retratada em diversos quadros pelo artista plástico Isaac de Oliveira. Apaixonado pelas cores que aprendeu a amar na terra natal, a Bahia, Isaac descobriu outra paixão em solo pantaneiro: a natureza. Pintou obras sobre pássaros, índios, a fauna e a flora do Estado que o acolheu e, como um último adeus, partiu no primeiro dia de primavera, em meio a uma florada rara de ipês-rosas, amarelos e brancos.
A partida precoce, aos 66 anos, foi em decorrência de complicações de um câncer de pulmão, com o qual ele lutava desde 2016. Apesar do tratamento, não deixou de trabalhar. Continuava pintando no ateliê e recebeu homenagens especiais recentemente, como o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, concedido em julho de 2019.
Na época, em entrevista ao Correio do Estado, o artista afirmou estar feliz com o reconhecimento. “Eu gostei justamente porque a homenagem é voltada para a arte. Na realidade, eu estou encantado, enaltecido, porque não é uma coisa que eles fazem sempre”, disse. Foi a primeira vez que o título foi concedido a artistas e, ao lado de Isaac, o músico Almir Sater e o também artista plástico Humberto Espíndola foram reconhecidos.
Para o colega de profissão, Humberto Espíndola, a morte de Isaac foi prematura. “Ele ainda tinha muita coisa para fazer, ele abordava uma temática que é muito importante, a fauna, a flora, a ecologia, são temas atuais e que precisam ser retratados”, acredita o artista plástico. Segundo Humberto, um dos pontos altos de Isaac foi a capacidade de impulsionar o mercado de arte em Campo Grande. “Ele abriu muito espaço, principalmente dentro da sociedade, de determinadas classes sociais, de poder colaborar para o mercado da arte, para o incentivo da arte. Ele foi um batalhador nesse sentido”, diz. “Ele vai deixar saudade. Ele passou por aqui e deixou um legado, uma história, uma marca”, complementa Humberto.
Despedida
Natural de Itajuípe, Isaac de Oliveira nasceu na Bahia, mas passou grande parte da infância e juventude em Campinas, interior de São Paulo. Isaac foi publicitário e se mudou para Campo Grande em 1978, para fundar a própria agência de publicidade. Porém, quando começou a conviver de perto com os ipês, tudo mudou. Na Cidade Morena, dedicou-se à pintura e à comercialização de quadros profissionalmente, com grande apelo aos temas regionais, principalmente a partir da década de 1980, quando lançou uma série de pinturas sobre índios, animais e peixes – era fã de pescaria.
Amiga de longa data do artista plástico, a escritora, curadora e professora de Letras Maria Adélia Menegazzo relembra que conheceu Isaac de Oliveira ainda na década de 1980 e acompanhou de perto a transição da carreira publicitária para a artística. “Eu acho que ele veio com uma proposta de usar a natureza como fonte, forma e metáfora da região, de uma maneira muito viva, quase que escandalosa das cores”, ressalta.
Para Maria Adélia, a criação de Isaac é única em Mato Grosso do Sul. “Acredito que, como ele, ninguém faz igual. A obra dele é única; se alguém fizer, eu desconheço”, confessa, emocionada.
O velório de Isaac foi realizado no Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul (Marco). Segundo a coordenadora do espaço, a artista plástica e professora Lúcia MontSerrat, o estilo empreendedor de Isaac foi de extrema importância para a arte do Estado. “Isaac conseguiu divulgar com muito colorido toda a nossa flora e fauna. Era uma pessoa comprometida com a arte e tinha muitos seguidores, alunos e aprendizes. O Isaac tinha uma visão empreendedora que poucos artistas têm”, acredita. Para Lúcia, as obras favoritas são as destinadas às arvores do Cerrado. “Não só o ipê, mas as árvores de um modo geral, a flora, essas são as minhas favoritas”, diz.