Desde o início da pandemia da Covid-19, as aulas das redes particular e pública foram suspensas após orientação do Ministério da Saúde, para evitar aglomerações e barrar o contágio do vírus.
Sem um remédio adequado para o tratamento nem uma vacina que possa imunizar a população, o isolamento social foi a única saída encontrada pelos cientistas, mas é longe de ser a mais tranquila para os pais de crianças e adolescentes em idade escolar.
Sem as aulas presenciais, o ensino a distância se tornou uma realidade imposta e sem um planejamento prévio, o que resulta em inúmeras dificuldades para mães, alunos e professores.
A mãe e servidora pública aposentada Luciane Maria Borba de Menezes Mamann, 48 anos, sentiu muitas dificuldades ao auxiliar os filhos durante os estudos.
Na rotina de Lorena, 12 anos, e Lorenzo, 6 anos, havia aulas diárias na escola formal, além do curso de inglês em uma escola particular.
“Quando as restrições de aulas presenciais foram aplicadas, a escola de inglês ficou pouco tempo sem aulas, acredito que só uma semana. Logo eles foram para as aulas a distância, no mesmo dia e horário em que ocorriam as presenciais”, conta Luciane.
O que era para ter sido uma transição calma foi um transtorno. “Principalmente em relação à tecnologia. Isso porque temos acesso a computador, celular, videogame, mas, mesmo assim, foi difícil me entender com o programa e ajudar ele”, explica a mãe.
Quem ajudou no processo foi a filha mais velha. “Ela é mais independente”, admite.
Quando tudo estava mais calmo, a escola formal resolveu montar as turmas on-line e iniciar as aulas a distância. “Dessa vez, eu já fui com antecedência tentar entender o processo. No início, eu tive muita dificuldade até entender que a escola tinha feito um e-mail para o meu filho. Quando eu fazia o login, entrava automaticamente em outro e-mail. Aquele desespero, e quando enfim deu certo o microfone não funcionava. Uma tensão muito grande”, ressalta.
Segundo Luciane, ela não é a única com dificuldades de lidar com o aparato tecnológico. “Dava para ver o desespero dos outros pais durante a videoaula, por ser o primeiro acesso. Justamente o que eu passei na escola de inglês eles estavam passando no início das aulas da escola normal”, frisa.
De acordo com a mãe, nem mesmo os pais jovens gostam do ambiente. “Há pais e mães nos grupos de WhatsApp que demonstram aversão à tecnologia e são pessoas jovens. Muitos deixaram para baixar o aplicativo da aula no último minuto e demoraram para fazer o cadastro. Acabaram perdendo quase 100% da aula”, explica.
Desinteresse
Além de todas as dificuldades com a questão tecnológica, outro desafio dos pais tem sido lidar com o desinteresse dos alunos em relação à aula on-line. “Principalmente os mais novos, como o meu filho, têm dificuldade com a videoaula, não querem assistir, mal começa a aula eles já abaixam a cabeça, ficam bufando. As aulas nesse ambiente não conseguem prender a atenção”, indica.
Para compensar a falta de interesse do filho, Luciane descobriu que precisaria estudar com ele. “Fomos descobrindo o que fazer, sem precisar brigar com ele ou tumultuar. Sempre assisto com ele, às vezes até ouço antes, para ajudar nos exercícios e nas explicações”, confessa.
Equipamentos
Enquanto alguns pais têm aversão à tecnologia, outros não têm os equipamentos corretos para as aulas. Rochelly Oliveira, 35 anos, tem dois filhos, Felipe, 12 anos, e Rafael, 5 anos. Com as aulas on-line do mais velho, ela percebeu o quanto um computador faz falta. “É complicado porque estou sem computador, então, o mais velho precisa estudar pelo celular. Já é uma dificuldade e ele ainda não está conseguindo aprender”, aponta.
Felipe tem, em média, 40 minutos de aula por dia, de apenas uma disciplina, o que segundo ele é pouco tempo. “Não consigo tirar todas as dúvidas com o professor”, explica o estudante, que está no 7º ano do Ensino Fundamental.
Depois, entram em jogo os exercícios, responsáveis por fixar o aprendizado. “O resto é atividade, que eles mandam pela agenda on-line. Mas o que ele está mais sentindo falta é dessa interação mais próxima com o professor, acaba tendo muitos alunos nas aulas on-line e ele não consegue aprender”, aponta a mãe.
Os dois estudam em escolas particulares diferentes. Rafael tem aulas em uma instituição de ensino pequena, próxima do bairro onde a família reside. “Ele recebe as atividades por escrito, eu busco na escola”, explica Rochelly.
Apesar de ter as atividades, isso não impede o garoto de ir atrás do irmão para brincar. “Ele não deixa o outro estudar, bate na porta, quer entrar durante as aulas, então, tenho que ficar cuidando”, conta a mãe.
Para isso, ela precisou parar de trabalhar na empresa da família, que vende peças e serviços para motos. “Parei porque não tenho com quem deixá-los. Ajudo no que posso em casa, respondendo WhatsApp, publicando nas redes sociais, mas ele [esposo]está indo presencialmente”, aponta.
Por enquanto, as aulas presenciais permanecem suspensas até o dia 30 de junho, segundo decreto da Prefeitura Municipal de Campo Grande.