De longe, o espaço se assemelha a um parquinho convencional, mas, para Rosimeire, é a chance de os filhos Mateus e Tiago brincarem ao ar livre, sem preocupações ou julgamentos. Gêmeos, os meninos receberam o diagnóstico de autismo com apenas três anos de idade e agora, durante a pré-adolescência, sofrem com a falta de um ambiente destinado exclusivamente ao lazer. “Nós decidimos montar um espaço para os dois, em que eles pudessem se divertir; construímos os brinquedos, a tirolesa, o escorregador e a cama elástica”, afirma Rosimeire da Silva, 45 anos.
O terreno foi fruto de uma doação e os brinquedos foram construídos aos poucos, conforme o dinheiro arrecadado em rifas. “Quando a criança com autismo está com três ou quatro anos de idade, a interação com as outras crianças e a sociedade é mais fácil. Dependendo do comportamento, pode ser visto como uma birra ou outra definição. Mas, por volta dos oito ou nove anos, esse comportamento diferente costuma soar estranho para as outras pessoas, pode até assustar quem não conhece ou não sabe”, explica Meire.
Para os pais, uma simples ida a um parquinho se transforma em uma série de preocupações. “A gota d’água para nós foi um dia em que eu levei os dois com oito anos para o parquinho do Parque das Nações Indígenas. Lá, o espaço é para crianças pequenas e eles estavam fazendo movimentos bruscos, fiquei preocupado de um deles, sem querer, machucar outra criança. Percebi que não dava mais para ocupar o espaço do mesmo jeito”, ressalta Eleandro de Almeira, 45 anos, pai dos meninos.
ADOLESCÊNCIA
Hoje, Mateus e Tiago estão com 12 anos de idade. Gêmeos idênticos, eles são altos, ativos e percorrem todo o espaço com facilidade. Basta uma sugestão para um deles pular com vigor na cama elástica. “Os autistas gostam muito de cama elástica, assim como de água, por isso incluí o chuveiro, mas o sonho mesmo é uma piscina”, garante Meire. Mateus aprendeu a ler recentemente. Já Tiago adora carros, basta ver uma chave para solicitar uma visita ao automóvel mais próximo. “Ele adora. Vê vídeos no YouTube e depois quer olhar se os carros daqui têm os mesmos acessórios dos que ele assiste no vídeo”, ri Meire.
Assim como outras mães de autistas, Meire deixou de olhar para si ao longo dos anos. Precisou enfrentar uma depressão e a perda de muitos quilos para compreender que só conseguiria ajudar os filhos se estivesse bem. Há um ano, resolveu retomar os estudos. Deixou a administração de lado e encarou o curso de Educação Física.
“Os cuidadores, principalmente as mães, vivem em função do filho com autismo. Eu ficava sem dormir, pesquisava sobre o assunto, emagreci muito e tive depressão. Recentemente, eu voltei a estudar”, explica.
Foi com base nas dificuldades que enfrentou e nos próximos desafios que os pais de Mateus e Tiago decidiram abrir o recanto de paz dos filhos. “Assim como nós, outras mães de filhos autistas mais velhos sentiam a mesma dificuldade. Não há um lugar para levar os filhos autistas, foi por isso que decidi abrir esse espaço não só para os meus filhos, mas para as outras crianças. Todos os brinquedos são para pessoas com idade acima de dez anos, justamente para que eles tenham o interesse”, esclarece.
Para abrigar as outras histórias que conhecia e acolher as famílias, Meire decidiu lançar o Integrar TEA, um local destinado a criar momentos de descontração e alegria entre os jovens e a família.
“Nosso projeto é bem embrionário. Com esse espaço, algumas mães começaram a vir, eu falo mães, porque normalmente são mães, mas tem alguns pais. Eles chegam aqui com a mesma situação, a de não ter onde levar o filho de 15, 20 anos de idade”, diz.
A resposta rápida dos cuidadores surpreendeu o casal. “Mesmo sem divulgar muito, estou recebendo muitas mensagens de pessoas que querem vir, além de outros que já vieram. Normalmente, abrimos aqui aos sábados ou domingos e tem tido muitos adeptos. O problema é que a nossa estrutura é ainda um pouco precária. Temos apenas a sombra da árvore e o maior problema atualmente é a falta de um banheiro. Nosso objetivo é construir uma área gourmet, com uma cozinha, banheiro e área coberta, principalmente para esses períodos de chuva”, diz.
Nesse caminho, há outra rifa, mais uma das muitas que o casal encabeçou. “A rifa tem como prêmio R$ 2 mil, e o número custa R$ 20,00. O sorteio é no dia 12 de outubro, em uma festa para as crianças. Esse valor também foi uma doação e precisamos arrecadar muito para custear essas mudanças”, acredita.
NOVOS PROJETOS
Enquanto o banheiro não sai, Meire sonha com outros projetos. A faculdade de Educação Física trouxe o desejo de tornar o fim de semana um momento de descanso e lazer também para os cuidadores. “Nós temos dois projetos-pilotos: o da criança grande vir e sociabilizar com os próprios pais; e o segundo que a gente quer fazer é um projeto cuidando de quem cuida, trazendo profissionais especializados para atender os pais, como terapeutas e educadores físicos. As crianças podem vir também, mas terá monitores para eles”, sonha Meire.
Mais informações sobre a rifa e o projeto Integrar TEA pelo telefone (67) 99204-3895.