Para manter quantidade de alunos compatível com o isolamento previsto nos decretos do poder público, muitas escolas particulares devem retomar as aulas de forma escalonada, com grupos intercalando atividades presenciais e remotas. E nos estabelecimentos públicos, o ensino deve continuar à distância até a segunda ordem. Diante disso, como preparar os alunos para o ano letivo que deve começar no fim de janeiro e começo de fevereiro?
A psicóloga Janaína Lobo, especialista em neuropsicologia e desenvolvimento infantil, afirma que o assunto é bastante complexo e deve envolver bastante empenho por parte das famílias.
“Quando a pandemia começou, nós arrancamos as crianças do universo que elas conheciam e as colocamos dentro de outro completamente desconhecido durante um ano porque o momento em que nós vivíamos assim exigiu. Esse retorno vai demandar muita paciência”, disse à equipe de reportagem.
Um dos problemas é a adaptação de muitas crianças à rotina com aulas remotas. “Elas sofreram no começo, mas depois se encaixaram e agora nós vamos promover uma nova desorganização. É por isso que é preciso prepara-las com antecedência, conversar sobre o retorno, explicar que as coisas serão um pouco diferentes, que não vai poder abraçar, por exemplo, porque as crianças são carentes de afeto, de contato”, afirma Cristiane.
O ideal é que os pequenos pisem na escola já sabendo que vão precisar ter distanciamento e que vai ser difícil.
“Eu acho importante essa volta parcial. As crianças, especialmente os pequenos, não tem como dizer se eles vão se comportar, acho difícil que os menores respeitem coisas como uso constante de máscaras, por exemplo”, diz a especialista em desenvolvimento infantil.
Uma dica preciosa de Cristiane é simular em casa um dia na escola diante da nova realidade. “Mostrem como que eles vão ter que cumprimentar os coleguinhas. O que fazer se eles esquecerem e derem um abraço nos companheirinhos, que terão que higienizar as mãos. Tudo isso feito em forma de brincadeira mesmo”, pontua Cristiane.
E QUEM FOR FICAR EM CASA?
Os alunos que tiverem que assistir aulas pelo computador durante alguns dias, ou permanentemente (no caso das famílias que optarem em não mandar os filhos para o ensino presencial), o apoio da família é ainda mais importante. Diante dos resultados do ano passado, a especialista em desenvolvimento infantil aconselha os pais a aprenderem com os erros para garantir assimilação do conhecimento.
“Vai ser um ano de recuperação congnitiva e pedagógica. Acho que as escolas fizeram o que podiam em 2020. Agora, os pais vao ter que estar preparados para dar mais suporte, porque o aprendizado será como antigamente. Os pequenos terão desafios mais emocionais do que comportamentais. Com os mais velhos, a preocupação é mesmo com o aprendizado”, disse Cristiane.
A dica é preparar cuidadosamente o ambiente em que a criança irá acompanhar as aulas. Quaisquer distrações ao redor vão tirar o foco da aula, então é necessário que brinquedos ou objetos que elas possam alcançar e ficar mexendo enquanto o professor fala sejam removidos.
Outro ponto: o local deve ser silencioso e o estudante deve sempre estar acompanhado por um adulto. “Criança solta na frente do computador não funciona. Na escola tem um adulto acompanhando, que é o professor, e isso controla o comportamento. A criança não tem maturidade, mas é regida por um adulto que a direciona”, afirma.
Por parte das escolas, deve-se tomar cuidado com o tipo de atividades que serão trabalhadas no modo remoto. Vídeos gravados, sem interação direta com a criança, tendem a não funcionar. O ideal são as aulas ao vivo, mas com números menores de alunos para que não seja preciso desligar os vídeos para contornar falhas dos aplicativos usados, completa Cristiane.