Na sua opinião, qual nome deve ser apontado como o grande destaque da gastronomia regional da temporada? A pergunta se repete no site de votação do Prêmio Dólmã por 27 vezes, o mesmo número de unidades federativas que o Brasil possui.
Lançado em 2014, o Dólmã vem sendo chamado de Oscar do segmento e, entre as três opções de escolha em Mato Grosso do Sul para este ano, figura Bruna Lopes.
Bruna está na disputa pela estatueta de 2022, ao lado de Gabriel Cristoforo e Sylvio Trujillo, com um prato capaz de aumentar a salivação, ou seja, o famoso efeito chamado, no popular, “de dar água na boca” já pelo nome. É o duo de nhoques ao creme de queijo curado e costela defumada.
A chef pilota uma grife de massas e molhos artesanais congelados em Campo Grande desde 2017, a Pasta In Casa.
O modo como a própria estrela da cozinha descreve a iguaria que assina para a corrida pelo Dólmã parece pura poesia, pelo menos no coração de quem o cardápio típico de Mato Grosso do Sul cala fundo.
ITÁLIA + MS
“Misturei meus conhecimentos da culinária italiana e criei um duo de nhoques, com mandioca e banana-da-terra, servidos com creme de queijo curado, o queijo que usamos para fazer nossa famosa chipa, junto da costela defumada por seis horas, em homenagem ao nosso maravilhoso churrasco”, descreve a chef de 36 anos.
“E com esse prato cheio de memória afetiva eu fui uma das selecionadas para representar o Estado no Prêmio”, comemora Bruna, que começou a carreira profissional como jornalista, em Londrina (PR) e São Paulo (SP).
“Nasci no interior paulista, em Guararapes, uma pequena cidade de 28 mil habitantes, onde tudo era motivo para reunir em volta de uma refeição”, conta a chef.
“Cresci acompanhando minha mãe e minha avó na cozinha. E também nas viagens de férias até Campo Grande, onde a família materna morava, e todos são ótimos cozinheiros. Aos 17 anos, fui morar sozinha no Paraná, onde fui fazer faculdade de Jornalismo. Como o dinheiro sempre foi curto, acabei me aventurando ainda mais na cozinha e era a ‘chef da turma’, que garantia boas refeições aos colegas que viviam de miojo”, relembra.
Bruna conta que, quando trabalhava na capital paulista, acabou tendo acesso a “bons restaurantes” e, então, passou a dedicar-se ao estudo efetivo da gastronomia.
A mudança para Campo Grande foi em 2014, para o casamento com Raphael Diniz, que ela reputa como “um churrasqueiro de mão cheia”. Nessa época, a chef trabalhava como bancária.
MASTERCHEF
“Em 2016, me inscrevi no programa ‘MasterChef’, da Band, e cheguei à seletiva final mas acabei não entrando. Ali percebi que tinha potencial profissional na gastronomia e saí do banco para me dedicar", diz Bruna.
"Minha mãe, que havia se formado em gastronomia, me ensinou técnicas da cozinha italiana. Meus pais trabalharam comigo [tocando os afazeres da Pasta In Casa] por um tempo e depois eu assumi a empresa sozinha”, completa.
Com a pandemia, em 2020, as encomendas por delivery deram um salto e o empreendimento precisou de mais espaço.
“Passei também a dar aulas para que pessoas que ficaram desempregadas com a Covid-19 pudessem ter outras fontes de renda. Desde o início da empresa também trabalhei como personal chef, realizando aniversários, confraternizações, noivados e festas de fim de ano”, repassa a chef.
RAPHAEL NA EQUIPE
No ano passado, Bruna Lopes ficou em terceiro lugar no concurso Mestres da Terra, realizado em comemoração do aniversário de Campo Grande. Com a consolidação da carreira e da grife de congelados, Raphael teve de assumir de uma vez por todas também a parceria profissional.
E já em 2022, por ocasião do Festival MS, a quituteira criou o celebrado duo de nhoques, “um prato inspirado em todas as minhas lembranças de refeições aqui em Mato Grosso do Sul”. Mas e essa coisa de misturar cozinha italiana com churrasco, Bruna?
“Uma das regras do Dólmã é usar ingredientes típicos do Estado, então eu fiz uma pesquisa com amigos e perguntei o que eles lembravam quando alguém falava da culinária de Mato Grosso do Sul", explica.
"Imediatamente me responderam ‘churrasco com mandioca’. A costela, do duo de nhoques, é a minha carne preferida do churrasco. Democrática, pois não é tão cara, e alimenta muita gente”, defende.