Não é hora de panos quentes, mas pratos bem feitos e no ponto. A verdade é que as festas de Natal, em geral, reúnem pessoas que pouco se vêem ao longo do ano, porque moram longe, têm pouca afinidade ou muita pressa. Por isso, é comum quando, nesses encontros, os ânimos esquentam e as pequenas farpas, comuns às reuniões familiares, viram grandes discussões. Quase sempre é assim. Parece que a noite está perdida, mas o chamado avisa que a ceia está servida – tudo pode piorar. As carnes secas com arroz e farofa – potencializadas pela presença do cunhado (quem engole?); o cara a cara como o tio que pede dinheiro emprestado; a mágoa adiada... todas essas situações podem desencadear sérios problemas respiratórios, ou, na pior das hipóteses, coma por sufocamento. Para evitar probleminhas (!) desse tipo, o iG Comida se muniu do mais puro espírito natalino e reuniu dicas de chefs para o jantar de confraternização ser perfeito – pelo menos no que diz respeito ao cardápio...!
Fazer carnes gostosas, úmidas e crocantes não é difícil. O pulo do gato é levar a peça ao forno quando ele estiver bem quente (180 a 200 graus). “Assim, ela imediatamente forma uma crosta por fora. Além de ficar crocante, seus sucos serão preservados”, afirma Alain Poletto, chef do grupo Pão de Açúcar. “Com o forno muito baixo, ela perde água e resseca”, diz. O contrário também não é aconselhável. “Alto demais, queima por fora sem que a cocção chegue ao interior da peça.”
Quem for fazer o clássico peru deve tomar outras precauções para ele ficar no ponto certo.Poletto ensina que, como o peito da ave cozinha mais depressa do que as partes mais duras e gordurosas, o melhor é levá-la ao forno de lado, com uma das coxas para cima, por cerca de 25 minutos. Depois, é a vez de o outro ficar exposto ao calor direto. Mais 25 minutos. O terceiro passo é trazer o peru de volta à posição tradicional para terminar o cozimento. “Assim, o peito fica protegido da alta temperatura durante parte da cocção”, diz o chef. E melhor: “Fica super bem cozido e mantém a umidade interna”.
E como acertar o momento de desligar o gás? Afinal, nem toda carne vem com aquele palitinho que avisa quando ela está pronta. Poletto dá a dica: “Basta fazer uma pequena incisão na parte mais dura do assado -- no caso do peru, a coxa. Se escorrer um líquido clarinho, sem resquício de sangue, é sinal de que o cozimento está concluído”. Nessa hora, é bom aumentar a temperatura do forno. Seu assado ganhará uma bonita cor dourada.
Papel alumínio deve ficar de fora da lista de compras. Nada de cobrir a carne com as folhas brilhantes preferidas das donas de casa. “O calor fica circulando ali e o assado acaba virando um cozido”, diz Poletto. A regra vale para toda cocção desse tipo.
Heloísa Bacellar, do paulistano Lá da Venda, também tem uma dica boa para o peru não ressecar“Antes de assar, levante com cuidado a pele do peito, espalhe um pouco de manteiga sobre a carne, algumas ervas e volte com a pele para o lugar.” A chef garante: “A carne ficará ainda mais saborosa”.
Outra peça-chave no sucesso do banquete é a antecedência. “Tanto o peru como o pernil ficam deliciosos, desde que bem temperados e, para tanto, a pressa é inimiga da perfeição”, afirma Heloísa. A sugestão é temperar as peças de véspera com vinho ou limão, ervas, sal e alho.
Na hora de escolher o que servir, vale privilegiar as características do grupo convidado. “Peru inteiro é sempre mais bonito, mas muita gente só gosta do peito”, diz Heloísa. Nesses casos, a melhor pedida é preparar só essa parte da ave e servi-la fatiada com um molho gostoso de frutas, por exemplo. “O peito do peru ainda tem a vantagem de agradar idosos e crianças, é ideal para famílias grandes.”