Débora Bloch acredita que há muitas formas de se posicionar politicamente. Por afinidade e necessidade, ela geralmente busca mostrar suas ideias e opiniões através da arte. É por isso que, em um momento onde a sempre problemática educação brasileira é ainda mais esvaziada, a classe artística sofre perseguições e a cultura perde incentivos, protagonizar a série “Segunda Chamada” serve como uma resposta da atriz ao que classifica como “a vitória da ignorância”. “É todo dia uma notícia absurda diferente. Quem apoia esses desmontes não sabe nada sobre como se constrói uma sociedade. Não existe nação sem educação e cultura. São dois alicerces de qualquer país civilizado. O clima não está bom e o momento é muito complicado. É dever de quem faz arte e entretenimento nesse país refletir sobre a própria realidade”, conta a intérprete da perseverante Lúcia, professora de Português da fictícia Escola Estadual Carolina Maria de Jesus. Com tantas personagens de destaque no currículo, Débora se surpreendeu com o poder de Lúcia em unir força cênica e mensagem política de forma nada didática. “Lúcia é cheia de dilemas pessoais. Mas mesmo com tantos problemas, ela não perde a habilidade de olhar, ajudar e torcer pelo outro”, valoriza.

Parceria da Globo com a produtora O2 Filmes, o processo de trabalho para “Segunda Chamada” foi bem diferente do que Débora está acostumada. Com uma “pegada” mais próxima do cinema, a série dirigida por Joana Jabace exigiu dedicação máxima da atriz a partir de um processo de preparação meticuloso, onde Débora fez um mergulho na dura realidade do ensino brasileiro. Em especial, dos alunos do sistema EJA - sigla para Educação de Jovens e Adultos -, modalidade de ensino público voltada para pessoas de 17 a 70 anos que, por alguma razão, não terminaram os estudos básicos no tempo regular. As aulas costumam ser à noite, já que a maioria trabalha de dia. “O assunto é muito relevante e me toca profundamente. São pessoas que encaram diversas batalhas por dia. Chegam à escola cansadas, mas sabem que estudar pode mudar suas vidas”, analisa a atriz que, desde fevereiro, passou a ser uma visita frequente em diversas escolas públicas da periferia do Rio de Janeiro.
Em meio ao caos na infraestrutura das instituições, Débora se emocionou com o comprometimento dos professores. “Falta limpeza, comida e até eletricidade, mas não falta empenho dos professores. São profissionais que driblam os problemas e se comprometem de verdade com os alunos, sabem da história de vida e das necessidades de cada um”, garante. Ambientada em São Paulo, “Segunda Chamada” foi gravada ao longo dos meses de abril e agosto e alteraram completamente a rotina de Débora. Além de ter de quase se mudar para a capital paulista, o roteiro privilegiava sequências noturnas, em jornadas que começavam por volta das 8 da noite e só terminavam às cinco da manhã. “A entrega para esse trabalho foi intensa. Voltava para casa com o sol brilhando, muito cansada, mas com a sensação de que estava realmente fazendo parte de algo especial. Espero mesmo que a série consiga chegar ao coração do público assim como emocionou o meu”, torce.
Mineira nascida em Belo Horizonte há 54 anos, Débora mantém sua curiosidade artística intacta, em uma trajetória voltava para a pluralidade de gêneros e tipos. Filha do ator Jonas Bloch e na tevê há mais de 30 anos, ela conseguiu driblar o posto de mocinha de tramas como “Jogo da Vida” e “Sol de Verão” ao ser reconhecida por sua forte verve cômica em trabalhos como “Cambalacho” e no humorístico “TV Pirata”. No início dos anos 1990, empolgada com a reestruturação do setor de teledramaturgia do SBT, saiu da Globo para protagonizar “As Pupilas do Senhor Reitor”. Na volta à emissora onde desenvolveu a maior parte de sua carreira, procurou por projetos mais diversificados e se destacou em produções como “Salsa e Merengue”, “A Invenção do Brasil”, “Cordel Encantado”, “Avenida Brasil” e nas recentes “Justiça” e “Onde Nascem os Fortes”. “Quando a gente faz o que gosta, tudo é diferente. Mantenho uma relação sadia e produtiva com a Globo. Quando acho que já fiz de tudo um pouco, chega algum convite maravilhoso e inusitado. Eu vou só aproveitando!”, empolga-se.