Pesquisador do folclore brasileiro, Andriolli Costa, 30 anos, é um colecionador de sacis, como uma de suas obras indica. A paixão pelas histórias passadas de geração para geração se transformaram em pesquisa acadêmica, filme e outros projetos ao longo da carreira.
Porém, se fosse necessário um retorno à história, caberia a Oliveira Serafim da Costa explicar, assim como sempre o fez. Avô de Andriolli, Oliveira foi um contador de histórias nato, daqueles que fazem rir e chorar. Prestes a completar um ano da sua partida, o neto decidiu reunir os depoimentos colhidos em família durante as visitas à Colônia Nova, em Terenos, no documentário de 30 minutos “Raízes – Um filme sobre colecionar sacis”.
“É o meu primeiro documentário. Eu editei ele agora, mas a maioria das entrevistas eu filmei em 2015”, relembra Andriolli.
Foi em Terenos, a 100 km de Campo Grande, que o pai e os tios de Andriolli nasceram. A cidade foi a última parada de Oliveira, que nasceu no Ceará, mas passou por São Paulo e Goiás antes de se firmar em Mato Grosso do Sul. “Na época, eu queria fazer um documentário enorme sobre o Saci, no Brasil todo. Com o tempo, eu fui vendo que seria difícil e acabei deixando de lado. Retomei agora, no período da quarentena, com o objetivo de lançar e de completar um ano do falecimento do meu avô, que seria em 4 de julho”, ressalta.
A estreia ocorreu exatamente um mês antes, em 4 de junho, de forma totalmente on-line. Disponível por 24 horas no YouTube, o vídeo foi retirado para que Andriolli possa inscrevê-lo em festivais pelo mundo, o primeiro em Portugal, no Curt’Arruda – Festival de Cinema Rural em Arruda dos Vinhos. “É um festival com temática rural, então acredito que o documentário se encaixe, porque ele é muito rural, gravado na Colônia Nova, interior de Terenos. Outro ponto positivo é que não precisa legendar, o que foi uma mão na roda”, ressalta.
Inspiração
Oliveira morou durante 50 anos em Terenos, ao lado da esposa e avó de Andriolli, Marlene Almeida.
“Eu começo o filme falando que a contação de histórias do vô e da vó foi a base para tudo que eu viria a fazer de pesquisas sobre o folclore ao longo dos anos. Cada um tem o seu jeito de contar a história. A avó é aquela pessoa que se envolve na história, imita o personagem, enquanto o vô é aquela história bruta. Eu falo que ele é feito de história, o jeito que ele falava, as coisas que ele viveu, no Nordeste, no Ceará, até chegar em Mato Grosso do Sul. Ele era muito inspirador”, acredita.
No filme, Andriolli não teve medo de abordar a perda do avô, que faleceu aos 92 anos. “Aproveito para falar também no filme sobre a morte dele, porque são coisas que não tem como deixar de lado. Falar sobre saci é falar sobre as nossas raízes, sobre os nossos mitos”, pontua.
Um dos personagens mais emblemáticos do folclore, o saci é complexo, envolvente e, talvez por isso, tão brasileiro. “Ao falar sobre raízes, acho que o documentário tocou muita gente, muita gente chorou, se lembrou dos avós, ainda mais agora que estamos isolados. As pessoas não podem terminar o documentário e ir abraçar quem amam. Tudo isso mudou a forma como eu ia contar o filme”, ressalta.
De 2015 para cá, o documentário ficou ainda mais pessoal, com ressignificações. “Não tenho a menor dúvida que o documentário é sobre a morte do vô, sobre isolamento e saudade”, acredita.
Apesar da distância, o diretor, que mora atualmente no Rio Grande do Sul, teve a aprovação e o apoio da família. “A avó fica sozinha lá, mas ela acompanhou por streaming e ainda me mandou mensagem de áudio após o filme. Eu não sabia se ela assistiria, porque ela viu o trailer e chorou bastante por causa da lembrança do avô. Mas, ao mesmo tempo que ele te faz chorar, também faz sorrir. Essa característica é muito do folclore, te diverte, te encanta, faz rir e chorar, tudo junto”, pontua.