Aos 30 anos, a jornalista e professora Laís Camargo descreve a sua relação com o nascimento como um verdadeiro “chamado”. Desde 2016, ela acompanha, quase que mensalmente, a chegada de diversos bebês ao mundo, histórias de vidas que ela buscou durante toda a trajetória profissional e agora pôde reunir em um livro, “Quem Conta um Parto Aumenta um Ponto de Luz”, lançado pela editora Letramento.
A proximidade com as palavras que compõem o livro vem da primeira faculdade de Laís, Jornalismo, área na qual ela atuou durante alguns anos.
“Larguei o jornalismo por diversas questões, mas principalmente porque eu via que existia uma ânsia de morte nas redações do jornal. Esse tema era sempre abordado. E eu queria escrever sobre a vida”, frisa.
Quando o jornalismo saiu de cena, Laís optou por seguir a carreira da professora e, posteriormente, de doula.
“A questão de ser doula foi um chamado. Estava tentando engravidar há quase um ano, interessava-me pelo universo da maternidade e tal, fui começando a entender que no Brasil não era fácil ter um parto normal. Eu, que nunca gostei nem de tomar remédio, não queria fazer uma cirurgia se não fosse necessário”, ressalta.
Para tentar compreender melhor o que estava por vir, quando engravidou, Laís resolveu fazer um curso de doula.
O primeiro parto que acompanhou ainda estava grávida da filha. Luna, na época com oito meses na barriga da mãe.
“Sentia as contrações da grávida comigo. Quando cheguei em casa, senti necessidade de escrever sobre o parto. Em uma hora tinha feito uma crônica sobre tudo que tinha acontecido”, frisa.
Muito além de uma doula comum, Laís registra os partos em fotos e palavras. Busca eternizar os sentidos do que ocorreu durante o nascimento da vida, que ela sempre quis documentar.
“O livro acabou surgindo depois de muita insistência da minha parteira, a Carol Figueiró.
Ela sempre me dizia que eu tinha de usar as minhas ferramentas. Foi assim que comecei a fotografar os partos, a assistir e depois escrever. Escrevi sobre todos os partos que vivenciei”, conta.
Ao todo, o livro tem 25 crônicas sobre partos. “O livro surgiu no início do ano.
Eu tirei férias da escola e, quando retornei, tivemos uma semana antes das aulas começarem, que é aquela fase do planejamento.
Terminei o que eu tinha de fazer e resolvi escrever sobre todos eles. Escrevi sobre 23 crônicas e depois surgiram mais dois”, indica.
Empoderamento
Com o livro, Laís pretende empoderar outras mulheres que estão vivendo a gravidez ou planejam ter filhos.
“Na gestação, você fica obsessiva com relato de parto, não idealizando o seu parto, mas, porque você nunca passou por aquilo e quer saber como que foi para outras mulheres. Essa troca entre as mulheres deve existir, tanto que se você vê uma gravida, você quer contar a sua história de parto para ela”, acredita Laís.
Todo esse processo de ser doula, escritora e fotógrafa de partos fez Laís ver a maternidade de outra forma.
“Com certeza mudou a forma como compreendo a maternidade, porque a consciência, que é você gestar e parir a criança, é o que chamamos da dor da lucidez. Depois que carregamos outro ser, você não consegue viver de pequenez. Você quer o estado de deusa que você teve na gestação de novo. Se fui capaz de gerar uma vida dentro de mim, com saúde e perfeição, não é importante que tenha sido normal ou não, e sim que a criança nasceu bem, eu consigo qualquer coisa, foi transformadora essa experiência para mim. É muito importante que outras mulheres se fortaleçam a partir de experiências alheias”, pontua.