“Estava na Inglaterra na época em que estavam fazendo a pré-produção da sexta temporada. A produtora de elenco da série procurou a minha agência e me chamou para fazer um teste. Fui aprovado (com muito orgulho) e segui para o set de filmagem”, relembra Diogo Sales.
Por Flávia Viana
Diogo Sales é inteligente, dinâmico e perspicaz. Ama a sua profissão que escolheu desde sempre.
Filho de músico, sempre teve o apoio da sua família para seguir sua escolha e seu sonho de ser ator.
Sua carreira começou no Brasil, mas há algum tempo prospera fora dele.
No ano de 2006 Diogo foi com a companhia “Nós do Morro” para Londres encenar o espetáculo "Os dois cavalheiros de Verona", em Stratford-upon-Avon e depois resolver morar na Inglaterra.
Ele já coleciona grandes trabalhos na Europa, entre eles sua participação na sexta temporada da série que é sucesso mundial ‘Games Of Thrones’, disponível na HBO.
Nela Diogo interpretou Bloodrider (um soldado), braço-direito do Khal (líder da tribo), protagonista daquele momento da série.
As cidades de Almeria e Tudela, na Espanha, e Belfast, capital da Irlanda do Norte, foram usadas como locação para as filmagens.
Para o papel, o ator fez aulas de equitação e precisou aprender a língua Dothraki.
"Tive que aprender palavra por palavra e estudei com a preparadora vocal da série um mês antes de começar a gravar.
No início, foi como se estivesse aprendendo a andar de bicicleta. Depois do treinamento, ficou mais fácil", relembra ele.
Atualmente Diogo Sales está no Brasil, pois está gravando a novela ‘Gênesis’, intitulada ‘José do Egito’.
Nela, ele interpreta um pobre camponês com a vida solitária e muito difícil. Morando em Londres há 10 anos o ator revela:
“Na minha primeira vez na Inglaterra, eu senti uma receptividade muito grande, mesmo que à época eu não falasse inglês perfeitamente.
Sobre o meu trabalho, só me senti verdadeiramente valorizado quando ganhei o mundo. Depois que tive a aceitação na Europa é que a indústria brasileira começou a olhar para mim”, finaliza.
Antes de vir ao Brasil, Diogo esteve na linha de frente do combate ao coronavírus, colaborando como voluntário até na faxina, no hospital King’s College Hospital, em Londres.
Logo após veio para as festas de fim de ano e com as barreiras sanitárias fechadas acabou ficando no Brasil.
Após as gravações da novela, planos e projetos ainda não revelados, mas sem dúvida veremos Diogo novamente nas telas nacionais e internacionais. Alguma tem dúvida?
CE - Diogo você sempre quis ser ator?
DS - Sim. O desejo despertou na minha infância.
A minha mãe me levava para assistir os ensaios dos espetáculos que meu pai fazia.
Ele é músico e começou sua carreira no teatro com a Capoeira. Lembro que na época a minha mãe chegou a me colocar para fazer figuração como um índio do filme “O Guarani”.
Eu já comentava com ela que gostaria de ser ator quando crescesse.
CE - Você começou a sua carreira em uma ONG ou antes?
DS - Na verdade a minha carreira começou quando atuei na peça “Capitães da Areia”, dirigida por Pedro Vasconcelos. Eu tocava percussão e fazia alguns personagens secundários.
Já o “Palco Social” e o “Nós do Morro”, conheci logo depois dessa temporada, mas essa primeira experiência profissional foi a melhor escola para mim e a concretização de que era isso que eu queria para a minha vida.
Nesse espetáculo tive a oportunidade de trabalhar com grandes atores como Antonio Pitanga, Silvio Guindane, Priscila Assum, Alamo Facó entre outros.
Foi um grande incentivo na minha carreira.
CE - Sentiu dificuldades de atuar aqui, por isso, foi para fora do país?
DS - Eu fui para a Inglaterra com a companhia “Nós do Morro”. Nessa época eu só fazia teatro. No Brasil para um ator ser reconhecido pelo seu trabalho é muito mais difícil.
CE -Como foi a transição Brasil/Londres?
DS - Foi difícil como a de qualquer imigrante que chega num país estrangeiro. Eu não tinha documentação apropriada e poucas condições financeiras para meu sustento, mas foi a minha escolha. O caminho não foi fácil, mas sempre perseverei.
CE - E se estabelecer lá, como foi e é?
DS - Londres é uma das cidades mais caras e competitivas do mundo.
A luta é diária.
CE - Como é a relação com a sua família? Tem apoio deles?
DS - Eu venho de uma família humilde e, por isso, não puderam me apoiar financeiramente, mas meus pais me educaram muito bem.
Sempre tive muito amor, carinho e o apoio psicológico de todos da minha família.
CE - Você diz que lá você teve uma maior receptividade do que no Brasil, porque?
DS - A cultura brasileira mesmo sendo uma das mais ricas, continua com o estigma de valorizar primeiro o que vem de fora.
Deve ser algum tipo de trauma que o sistema colonialista deixou enraizado na nossa cultura e para o nosso povo.
Talvez porque a ideia de exterminar a cultura indígena, juntamente com a mescla e influência de outras culturas, principalmente a do cristianismo, venha desde a época da descoberta.
Pode ser por isso que nós, brasileiros, não tenhamos um senso de pertencimento em comum.
CE - Como surgiu a oportunidade de atuar em GOT?
DS -Estava na Inglaterra na época em que estavam fazendo a pré-produção da sexta temporada.
A produtora de elenco da série procurou a minha agência e me chamou para fazer um teste. Fui aprovado (com muito orgulho) e segui para o set de filmagem.
CE - Conta pra gente como foi desde o início essa experiência?
A receptividade dos atores...
DS - Foi uma experiência incrível onde eu pude aprender muito, conhecer e vivenciar o trabalho de uma “mega” produção internacional, com grandes nomes, tanto no elenco quanto na equipe técnica.
DS - Atuar no Brasil e no exterior?
As responsabilidades como ator são as mesmas. Mas o desafio se torna ainda maior quando você está atuando numa língua estrangeira.
CE - Como foi o convite para Gênesis? E como está sendo?
DS – Essa é a primeira novela da minha carreira. Uma grande oportunidade!
E por ser bíblica, a responsabilidade e expectativa são ainda maiores.
Por conta da pandemia e do fechamento das fronteiras não pude voltar para a Europa ficando então no Brasil.
E foi nessa época que recebi o convite do produtor de elenco para fazer o pesonagem, “Kaires” na fase de “José do Egito”.
CE – As gravações estão acontecendo?
DS - As gravações continuam mas com todas as medidas de precaução e proteção para todo o elenco e equipe.
CE -Combate a linha de frente ao coronavirus como foi?
DS – É uma lição que eu vou levar para o resto da vida.
CE -Obras e momentos marcantes pra você em sua carreira?
DS - No teatro, ter feito espetáculos como: “The Two Gentlemen of Verona” no Barbican e RSC (Royal Shakespeare Company), “Amazonia” no Young Vic ao lado de atores consagrados da Inglaterra, ter recebido uma crítica positiva sobre o meu trabalho de Bárbara Heliodora, conhecido e trabalhado com a maior preparadora de voz da Royal Shakespeare Company, Cicely Berry, e ter sido convidado pela RSC para representar o grupo “Nós do Morro” num evento celebrando a vida de Cicely Berry, depois de seu falecimento em 2018, foram um marco na minha carreira internacional.
CE - O que faz para manter a forma física e mental? Pratica algo?
DS - Sempre pratiquei algum tipo de esporte e atualmente estou fazendo um treinamento funcional na Dynamo. Para manter a minha mente em dia também faço terapia e pratico um mantra – um tipo de meditação.
CE - Sua ideia é ficar por aqui? Quais os projetos?
DS - A minha ideia é voltar pra Londres assim que as gravações da novela terminarem. É preciso organizar as coisas que deixei por lá. Também estou com um novo projeto, mas só poderei revelar mais adiante.
CE - Um sonho realizado? Um sonho que quer realizar?
DS - Normalmente eu prefiro guardar meus sonhos com carinho e dividi-los com pessoas que amo, mas posso falar que um deles já está sendo realizado, que é ter a oportunidade de trabalhar como ator e mostrar um pouco da minha arte aqui no meu país.
CE - Um conselho para quem seguir os seus passos?
DS - Cuide bem de você. Se escute e saiba o que quer. Tenha estratégia para correr atrás dos seus ideais. Foque naquilo que você realmente quer, pois, a dispersão está ficando cada vez maior. Se jogue e não tenha medo de errar. Nunca pare de trabalhar e tenha persistência. Projete sempre pensamentos positivos. Respeite o tempo e não seja afoito.
CE - Uma grande inspiração como ator?
DS – Wagner Moura. Não só pelo fato de considera-lo um dos melhores atores da sua geração, mas também pelo seu engajamento com as questões do povo e por sua carreira nacional e internacional.
É um ator que veio do teatro e com o qual me identifico muito.