Correio B

CORREIO B+

A+ A-

"Negra Li é uma autoafirmação, uma ressignificação da palavra negra"

Atriz, cantora e compositora, a artista se consagra pela sua representatividade conquistada como mulher preta em 22 anos de carreira

Continue lendo...

Por Denise Neves – Colaboradora exclusiva B+ RJ

Edição Flávia Viana

Mais do que uma ressignificação da palavra, Negra Li é a representatividade da força da mulher negra. 

Cantora, compositora e atriz, ela é uma das maiores vozes do nosso país. 

Nascida na Vila Brasilândia, periferia de São Paulo (SP), a artista se consagra pelo seu talento que conquistou respeito e admiração em espaços cercados pela figura masculina e de pele branca, como na música e na televisão.

 

Aos 16 anos de idade, a artista descobriu o seu amor pela música fazendo parte de um grupo entre amigos que realizavam apresentações juntos. 

Em uma dessas apresentações, a cantora conheceu o grupo de rap RZO do qual foi integrante oficial e conquistou ainda mais notoriedade no cenário do rap nacional. 

Foi graças a esse feito que a música brasileira foi contemplada com o sucesso de “Não É Sério”, parceria da cantora com o lendário e saudoso Charlie Brown Jr.

Já em carreira solo, Negra Li foi a primeira rapper brasileira a assinar com uma gravadora multinacional, na época a Universal Music. 

“Quando eu comecei a cantar rap, que eu comecei nos shows com o RZO, eu já via muitas mulheres fazendo rap. 

Não eram poucas, mas com pouquíssima visibilidade... Mas eu lembro de ver grupos, de ver grafiteiras, de ver grupos de dança break, de ver DJs, de ver garotas solo. 

Então hoje eu vejo muitas com visibilidade e isso é muito legal”, relembra a artista.

Durante toda a sua carreira na música, a cantora se reinventa, seja no rap, hip hop, soul, R&B, ou até mesmo no pagode, como no seu último lançamento “Eu Preciso Ir”, em parceria com Ferrugem. 

A música fala sobre uma nova fase na vida de Negra Li, que acontece após o término de seu casamento.

Segundo a cantora, o single conta sobre um processo seu de transformação e renascimento, que terá a sua história continuada em uma próxima canção com lançamento previsto para este ano. 

“A próxima música volta para o início, falando de mim, de quem eu sou, apresentando a Liliane”, conta.

Não só na música, mas também na TV, Negra Li constrói o seu legado sobre a representatividade. 

A inesquecível Preta, uma das personagens protagonistas da série “Antônia” que o diga. De lá para cá, a artista atuou em diversos trabalhos na televisão e no cinema. 

A atriz tem novos projetos previstos para esse ano, além do lançamento do seu novo álbum — o seu último disco “Raízes” foi lançado em 2008.

Dona de si e de uma carreira de sucesso, Negra Li é mãe de dois filhos, Sofia de 11 anos e Noah de 3. 

Nas horas de lazer, a cantora gosta de dançar, praticar exercícios físicos, viajar, além de assistir filmes e séries. No trabalho, Negra Li canta, atua, compõe e se entrega em todas as outras coisas que se propõe a fazer.

Esses e outros detalhes foram contados com exclusividade pela própria artista ao Caderno B+ dessa semana. 

Durante a entrevista, Negra Li relembrou fases marcantes da sua carreira, contou sobre a sua vida pessoal e falou sobre a sua representatividade na cultura e na arte, sobretudo para as mulheres pretas.

Leia a entrevista completa na íntegra:

CE: Como é a sua rotina?

NG: “É sem rotina (risos). Na verdade, o que não tem no meu trabalho é rotina. Cada hora é um tipo de trabalho, é um tipo de lugar, é um tipo de horário que eu costumo acordar, porque eu tenho que às vezes estar no estúdio certo horário, em um programa de televisão, numa viagem. Então já me adaptei, são 24 anos de carreira e muitos anos de uma vida completamente sem rotina. Mas já estou super adaptada a isso, inclusive os meus filhos também.”

CE: Quando a Liliane se descobriu “Negra Li”?

NG: “Me descobri Negra Li em meados de 1996/97, quando eu fazia parte do RZO. E a escolha do nome foi ali, com um dos integrantes que deu a ideia, porque vem de Liliane. Quando ele falou, soou muito agradável para mim. Na mesma hora me tornei a Negra Li. Negra Li é uma autoafirmação, uma ressignificação da palavra negra. E fui fazendo shows, vendo o rosto das pessoas, meninas chorando ao me ver depois do show, me pedindo autógrafo, me abraçando. Foi ali que eu percebi que eu já era uma referência, que já era uma pessoa querida e tida como uma referência dentre as mulheres pretas da periferia.”

 

CE: As mulheres têm conquistado cada vez mais espaço no rap nacional... Como você avalia esse momento?

NG: “Eu acho que as mulheres têm conquistado cada vez mais visibilidade. Hoje eu vejo que as rappers de hoje são independentes, elas entenderam que ninguém as daria espaço e elas teriam que tomar. Elas teriam que fazer seus próprios trabalhos, serem suas próprias empresárias, suas próprias produtoras, aprender a produzir, aprender a mexer no computador... O avanço da tecnologia também facilitou bastante para que as pessoas pudessem fazer o seu próprio trabalho e colocar na internet para ter mais visibilidade. Então eu acho incrível a forma com que elas lidam com a liberdade, da forma de se vestir, ou de falar, o que falar, como se expressar. Isso evoluiu bastante. É gostoso de ver e de ter feito parte de um momento que era diferente e acompanhar isso e evoluir junto também.”

 

CE: O ano era 2005 quando você foi a primeira rapper brasileira a assinar com uma gravadora multinacional. Hoje, 17 anos depois, como você enxerga o tamanho dessa sua representatividade?

NG: “Eu enxergo de uma forma natural, como uma evolução esperada. Eu sabia que aquele espaço onde eu me sentia sozinha, onde eu não via outras mulheres, um dia seria preenchido. Não fazia ideia de como seria, e me surpreendi ao ver tantas mulheres dessa forma, tão donas de si, tão independentes, donas e proprietárias do seu próprio negócio e da sua própria imagem. Isso é muito legal, e eu acho muito bacana ter sido precursora de algo. A única coisa que eu penso na minha cabeça em relação a isso é nunca parar. É sempre fazer parte do que está acontecendo no momento. Sempre me atualizar, sempre andar conforme o jogo, dançar conforme a música. Isso que é desafiador para mim. Não quero ficar em 2005, eu quero avançar. Eu quero andar junto com quem está chegando agora. Então esse é meu maior desafio, e eu acho que eu venho cumprindo-o muito bem. Me sinto orgulhosa e aliviada por estar diferente hoje.”

 

CE: Quais são os próximos passos da sua carreira na música?

NG: “Alguns lançamentos durante o ano e no final do ano, por volta de setembro e outubro, lançarei um disco novo. Lancei meu último em 2018, então acho que está na hora de lançar mais um trabalho. No ano passado tiveram dois lançamentos que foram ótimos, as músicas ‘Comando’ e ‘Eu Preciso Ir’. Agora estou preparando um show maravilhoso, uma turnê incrível, e espero poder cantar muito ainda esse disco, as músicas novas que eu lancei, e todas as outras que fizeram parte dessa minha carreira.”

 

CE: Há algum projeto em vista para a Negra Li na televisão?

NG: “Sim, mas no momento não posso falar.”

 

CE: O seu último álbum foi lançado em 2018... De lá para cá, você fez alguns trabalhos na música, mas nenhum que fosse um CD de fato com diversas músicas suas. A que se deve essa “pausa” na sua carreira?

NG: “Eu não chamo bem de ‘pausa’, porque eu tive alguns lançamentos. Desde que eu lancei o disco em 2018, o ‘Raízes’, que infelizmente tive pouquíssimas oportunidades de levar para a rua. Eu estava pensando em lançar um disco ano passado, mas com a pandemia, tivemos que adiar. É muito frustrante fazer uma música e não conseguir levar ela para o público. Eu sei que existem as plataformas de streaming, mas é muito mais gostoso estar no palco. Porém, acredito que a mudança do lançamento do ano passado para esse ano acabou sendo melhor, pois assim pudemos buscar ainda mais canções para contar a minha história da forma mais bonita e especial para os meus fãs que tanto aguardam. Eu estou super ansiosa e muito feliz.”

 

CE: Se você pudesse escolher algum artista para fazer uma colaboração na música, quem seria?

NG: “Tem tanta gente que eu admiro como a Vanessa da Mata, a própria Pitty que eu já cantei, a Marina Sena, o Xamã, o Vitão, a Elza Soares maravilhosa, a Marisa Monte que eu amo, o Seu Jorge com quem já cantei junto, mas faria outras parcerias novamente. Enfim, são muitos artistas. Nossa música e nossos artistas são maravilhosos. Adoro uma colaboração. Adoro ser convidada e também estou amando chamar as pessoas para o meu novo álbum. Posso dar um spoiler? Tem MC Dricka e Bivolt em uma faixa desse novo disco.”

 

CE: Como surgiu a ideia de lançar “Eu Preciso Ir”?

NG: “A ideia de lançar ‘Eu Preciso Ir’ foi devido ao nosso ajuntamento em um camping, quando decidimos que eu precisaria fazer um novo álbum e então pensamos em ir lançando singles para saber como o público receberia. A faixa ‘Comando’ já veio empoderada, mostrando o lugar que eu me enxergava no futuro. Então a próxima música tinha que ser algo que falasse sobre mim, sobre uma virada de página na minha vida, que foi a minha separação. Logo, não tinha como não começar com ela. Antes que eu começasse a contar minha história, eu precisava falar desse meu renascimento, dessa minha transformação em uma nova mulher e em uma nova pessoa. Assim surgiu a ideia de lançar ‘Eu preciso ir’. Inclusive, um spoiler: a próxima música volta para o início, falando de mim, de quem eu sou, apresentando a Liliane. Chega! Não posso falar mais. (risos)”

 

CE: O BBB começou nesta semana e no Brasil não se fala em outra coisa, principalmente sobre os famosos que entraram no reality... Você participaria do BBB?

NG: “Eu não participaria do BBB por muitos motivos. Mas o maior deles é o tempo longe dos meus filhos.”

 

CE: O que a arte representa na sua vida?

NG: “A arte representa tudo na minha vida porque eu vivo dela. Ela traz o meu sustento, mas mesmo se eu não vivesse de arte, a arte representa para mim uma forma de me comunicar comigo mesma e com as pessoas. É uma forma de expressar minhas emoções, de botar para fora, de me curar, curar as pessoas. Quando ouço uma música, ela me faz ir para lugares diferentes. Quando eu vejo um quadro, uma pintura, ela me leva para outras dimensões, e me leva para um outro lugar. A arte tem uma capacidade enorme de transformar. Eu adoro essa coisa, principalmente eu que sou multifacetada, adoro atuar, adoro dançar, adoro ler e adoro escrever. Então eu acho que tudo isso é uma forma de a gente se expressar, de botar para fora, de se curar, de amar, de olhar para dentro, olhar para fora. É tudo, a arte é tudo.”

 

CE: O que a Negra Li de hoje diria para a Negra Li de 10 anos atrás?

NG: “Eu diria: ‘Vai dar tudo certo. Não vai ser tão fácil, mas você vai aprender muito com as dificuldades, com os desafios... E você vai se tornar uma artista respeitada. Você vai transformar a vida das pessoas. Você vai errar, mas você vai aprender com seus erros, você vai ter resiliência. Você vai ser uma artista foda!”

 

CE: A série "Antônia" foi um marco na televisão brasileira, sendo até mesmo indicada ao Emmy na categoria de Melhor Filme para TV ou Minissérie. Como foi a experiência de interpretar a Preta, uma das protagonistas do seriado?

NG: “Foi uma experiência incrível poder dar vida a uma personagem preta. Era praticamente uma biografia minha ali, filmando na Vila Brasilândia, minha mãe que era evangélica, o pai músico... O mais incrível foi a representatividade da Antônia. Até hoje eu recebo mensagens de pessoas dizendo o quanto foi importante o ‘Antônia’, principalmente por serem quatro mulheres pretas protagonizando uma série na TV Globo, e também pela mensagem de superação, e que as personagens viviam, passavam e também o fato de ser na periferia de São Paulo que era uma coisa nova na época. A gente via muitos morros do Rio de Janeiro, mas se via pouco da periferia de São Paulo. E principalmente por levar o rap, mulheres cantando mostrando a dificuldade etc.”

 

CE: No ano passado, você deu a sua voz à música "Não Joga Fora No Lixo", ação publicitária que fala sobre a importância da sustentabilidade e o consumo consciente. Qual a sua relação com as pautas socioambientais? Você apoia algum projeto?

NG: “Minha relação é sempre de me preocupar mesmo. Eu separo o lixo na minha casa, tento fazer bom uso da água e da energia e me tornei vegetariana há algum tempo. Minha filha é vegetariana, já vai fazer quase um ano. Inclusive, no filme Antônia a minha personagem era vegetariana. Tem uma cena que elas param no carrinho de hot dog e ela pede o dela sem salsicha. Eu que sugeri para a diretora que a personagem fosse vegetariana, porque eu tinha essa vontade de não comer carne há um bom tempo. Então sim, eu adoro todas as causas, sigo tudo quanto perfis veganos, perfis que delatam exploração animal, e estou sempre de olho sempre em busca de ajudar da melhor forma.”

 

CE: Você tem o lançamento de um novo single previsto para o início desse ano. Pode contar um pouco sobre? Será um pagode como "Eu Preciso Ir" ou terá um outro viés musical? Contará com a parceria de um outro artista?

NG: “Não será um pagode. Será diferente dos meus dois lançamentos do ano passado. Também não terá participação especial. Isso é o que eu posso adiantar no momento, não vou dar spoiler (risos). Mas aguardem que será incrível. Vocês não perdem por esperar.”

 

CE: Tem algum projeto profissional que você nunca fez, mas gostaria de experimentar?

NG: “Interessante essa pergunta... Quem sabe apresentar um programa de televisão? Seria incrível!”

 

MÚSICA

Djavan se apresenta neste sábado com show em Campo Grande; ainda há ingressos disponíveis

Embalado por "D Ao Vivo Maceió", álbum lançado no dia 11, Djavan apresenta no Bosque Expo, neste sábado, as canções do novo disco, que cobre quase cinco décadas de carreira; conheça o repertório faixa a faixa

22/04/2024 10h00

Sentido de origem atravessa Djavan: "Fui batizado na capela do farol, Matriz de Santa Rita" Foto: Divulgação/ Gabriela Schmidt / The Music Journal

Continue Lendo...

“Eu fui batizado na capela do farol, Matriz de Santa Rita, Maceió”, conta Djavan para as 20 mil pessoas que acompanhavam o show gravado na capital alagoana em 31 de março de 2023, que se tornou seu álbum mais recente, lançado no dia 11 deste mês.

O artista de 75 anos apresenta o mesmo repertório de “D Ao Vivo Maceió”, um passeio por 48 anos de carreira, neste sábado, no Bosque Expo, a partir das 22h30min (confira os valores no box).

Djavan finca o pé na origem e aponta de onde veio – o que diz muito do passado, mas mais ainda das escolhas presentes e dos caminhos futuros. Casa, enfim. É esse o sentido que atravessa “D Ao Vivo Maceió”, que documenta a turnê do disco “D” – a inicial do nome do artista, em mais um simbolismo que marca o valor essencial do início.

“Eu tenho um amor profundo e uma gratidão imensa pela minha cidade, por Maceió”, derrama-se o compositor, em conversa em seu estúdio, no Rio.

“Porque foi ali que eu me formei, foi ali que eu conheci tudo que eu precisava para ter uma formação diversa como a minha intuição e o meu espírito gostariam. Ali eu conheci o jazz, o R&B, a música flamenca, a música nordestina, a música do Brasil... Me formatei ali”.

SENSIBILIDADE INDÍGENA

O sentido de “casa” que atravessa o show, porém, não é um só. Porque, para além de sua cidade natal, são muitas as casas, as origens, os lares que Djavan evoca no palco.

A primeira, ainda antes de entrar em cena, fala de nossa essência como povo, pela voz de uma de suas representantes mais ilustres, Sonia Guajajara. Na abertura de “D Ao Vivo Maceió”, ouve-se a líder e ministra dos Povos Indígenas lendo um texto de sua autoria, feito especialmente para a turnê:

“Gritamos e ressoamos o ‘reflorestarmentes’, para que de uma vez por todas o nosso direito à vida seja conquistado, com base na natureza e na ancestralidade”, diz um trecho.

É ainda sobre o eco dessas palavras que Djavan abre o show com “Curumim”. Lançada em 1989, é uma canção de amor feita da perspectiva de um menino indígena, um curumim que entrega tudo à menina amada (“O que era flor/Eu já catei pra dar/Até meus lápis de cor/Eu já dei/G.I. Joe, já dei/O que se pensar/Eu já dei/Minhas conchas do mar”) e se angustia com o fato de não ser correspondido.

“Escrevi ‘Curumim’ depois de ter ficado muito impressionado quando vi na televisão uns meninos indígenas brincando com esses bonequinhos G.I. Joe [lançados no Brasil como Comandos em Ação]”, conta Djavan, que dedica o show aos indígenas e a todas as minorias do Brasil.

“Você vê a infiltração de outras culturas ali, como isso pode matar a cultura indígena. E eu trago na letra, para sedimentar essa questão, o nome de várias etnias. Nomes belíssimos, sonoros, musicais. Assim como a expressão ‘G.I. Joe’ também me pareceu, ali, extremamente musical”.

A fala nos lembra que, para Djavan, a casa é também a música – esteja ela guardada nos sons de txucarramãe ou de G.I. Joe.

O compositor nota que o lápis de cor, o G.I.Joe, as conchas são na verdade apenas representações da sedução – “algo que é inerente a qualquer povo, a qualquer civilização”, reflete.

“Estou tentando dizer, portanto, que os indígenas somos nós. Quando falo dos indígenas, das minorias, estou falando também de mim”, diz o compositor, que já em segundo disco, de 1978, trazia uma canção sobre o tema, “Cara de Índio”.

MÚSICOS E ESSÊNCIAS

Como pode ser visto nos palcos e no registro audiovisual, ao longo de todo o show, o telão projeta imagens de artistas indígenas e periféricos, na cenografia assinada por Gringo Cardia. Desenvolvido por Marina Franco, em parceria com o estilista convidado Lucas Leão, o figurino de Djavan – uma elegância ao mesmo tempo crua e futurista, ancestral e moderna, marcada por tons terra – dialoga com o cenário, assim como com a luz de Césio Lima, Mari Pitta e Serginho Almeida.

Produção esmerada que compensa a espera: gravado em 31 de março de 2023, “D Ao Vivo Maceió” ganha as ruas 10 anos depois do registro audiovisual anterior de Djavan, o “Rua dos Amores ao Vivo”.

Depois de “Curumim”, o roteiro prossegue com “Boa noite”, lançada em 1992 – o show reúne músicas que vão desde seu primeiro disco até “D”, de 2022, em um panorama amplo de sua carreira. Já nos primeiros versos, Djavan brinca com a ideia do engano de quem se acha dominador.

No caso, na dinâmica de um casal no jogo da sedução, mas que pode ser estendido à arrogância do colonizador que toma a terra que não é dele: “Meu ar de dominador/Dizia que eu ia ser seu dono/E nessa eu dancei”.

Outras essências de Djavan são tocadas ali (“Ainda Bem que Eu Sou Flamengo”, que ele trata na canção como um modo de lidar com o sofrimento e seu propósito).

E já se amplia no groove tão irresistível quanto surpreendente de “Boa Noite” uma percepção que “Curumim” já anunciava: de como o artista tem uma linguagem musical sedimentada e, mais do que isso, como ela é amparada por sua banda.

Estão no palco com o cantor instrumentistas que já estiveram com ele em diferentes momentos, que aprenderam a entendê-lo e ajudaram a dar forma ao que hoje se entende como a “assinatura Djavan”.

“Desde sempre tenho uma percepção musical diferente. Minha, né? Pessoal. E ninguém é obrigado a tê-la”, explica o artista.

“Mas uma coisa que Deus me deu, que é muito importante para mim, é saber pedir, fazer com que o sujeito embarque na minha e se sinta confortável com isso. Os músicos que estão comigo hoje já passaram por esse processo várias vezes. ‘Curumim’, por exemplo, Nossa Senhora! Ela tem uma divisão inusual, estranha para quem não está naquilo. Esses mesmos músicos de hoje relembram, toda vez que a gente vai tocar ‘Curumim’, a dificuldade que era. Mas hoje eles sabem”.

Os “músicos de hoje” a que Djavan se refere são Paulo Calasans (piano e teclado), Marcelo Martins (saxofone e flauta), Marcelo Mariano (baixo), Renato Fonseca (teclado), João Castilho (guitarra, violão e ukulele), Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn) e Felipe Alves (bateria).

São eles que temperam o balanço bluesy de “Desandou” (do álbum “Matizes”, de 2007), gingam com graça e malícia no medley de sambas djavânicos que une “Limão” (1994), “Avião” (1989) e “Flor de Lis” (1976), incendeiam o baile caribenho de “Tanta Saudade” (parceria de Djavan e Chico Buarque de 1983) – apenas para citar alguns momentos do show.

INFLUÊNCIA MOURA

Retomando a sequência de “D Ao Vivo Maceió”: depois de “Boa noite”, Djavan segue mapeando sua casa em “Sevilhando”, do álbum “D”. O compositor cria o verbo do título para descrever seu movimento por suas raízes espalhadas pelo mundo: “Sevilha plantou/Na Alagoas nata/Um fiel servidor”.

“A influência moura, que grassa em Maceió, em Alagoas, no Nordeste, está em mim muito fortemente. Em ‘Sevilhando’, trouxe a ligação que há entre a música negra e a música da Andaluzia”, explica Djavan.

“Quando eu estive em Sevilha pela primeira vez, senti uma emoção fortíssima. Entrei naquelas vielas medievais e senti um cheiro que era uma coisa louca, um cheiro que estava dentro de mim, que eu nunca tinha sentido, mas eu sabia que aquele cheiro era meu, era da minha vida, da minha ancestralidade. Sentei no meio-fio e comecei a chorar”.

“Te devoro” (1998), “Dou-não-dou” (1987) e “Outono” (1992) exploram, cada uma à sua maneira, os cômodos de outra das casas de Djavan – a casa do desejo.

O desejo que sobrevive à chuva e ao frio em “Te Devoro”, que se manifesta na fera ronronando com doçura em “Dou-não-dou” e na boca que beija bem em “Outono”.

O som do acordeão do sertão sobre o relevo lindamente acidentado da música de Djavan chamam de novo para o Nordeste em “Seca” (1996). A canção nos encaminha para o já citado medley de sambas – gênero no qual, desde seu primeiro disco, o músico soube instalar seu lar.

Outra do álbum “D”, “Um Mundo de Paz” projeta com suingue a ideia de um futuro melhor para o amor – Djavan só acredita em utopias que dançam.

No esperado momento voz e violão do show, Djavan canta “Ventos do Norte” (1976), “Meu Bem Querer” (1980), “Alagoas” (1978) e “Oceano” (1989).

Presente em seu disco de estreia, “Ventos do Norte” é retomada pela primeira vez no palco – Djavan a tocou só na época do lançamento. “Alagoas” também é outra que há décadas não fazia parte de suas apresentações ao vivo.

RARIDADES

O show traz outras novidades no roteiro. “Tanta Saudade”, lançada na trilha do filme “Para Viver Um Grande Amor” (1983), é incorporada na discografia do Djavan pela primeira vez em sua concepção original – antes, ela estava só em uma versão remix no álbum “Na Pista, Etc.”, de 2005.

“Dou-Não-Dou” nunca havia sido levada ao palco. É o mesmo caso de “Você É”, do álbum “Bicho Solto” (1998), a qual, como nota Djavan, também trata de sua origem, identidade, casa: “Na letra, falo do negro, do árabe e do indígena. Eu me considero um misto dessas três entidades”.

Após o momento voz e violão, a banda retoma o palco com “Iluminado”, que Djavan gravou no disco “D” com seus filhos e netos. No show, sua família se expande para a banda e plateia, que canta junto e ergue as luzes de seus celulares.

A já citada “Desandou” antecede “Tenha Calma/Sem Você” (Djavan gravou sua canção e a de Tom Jobim e Vinicius de Moraes juntas dessa forma no álbum “Malásia”, de 1996).

Gravada nos Estados Unidos, “Luz” (1982) sinaliza outra ampliação da casa da música de Djavan para além das fronteiras brasileiras – e em paralelo marca a certeza do artista de pertencimento ao seu chão.

“Nessa época a Sony queria que eu fosse morar nos Estados Unidos”, ressalta o artista.

“Sempre tive isso como um sonho. Chegava a ter dúvida de se não seria melhor para mim se eu tivesse nascido nos Estados Unidos. Mas quando isso ficou prestes a ser concretizado, a primeira coisa que me veio na cabeça foi o seguinte: como é que eu vou criar com outros elementos que não os do Brasil, a cultura brasileira, as cidades, os lugares, os dizeres, as amarguras, as benesses, tudo que o Brasil pode oferecer? Viver em dólar não pagaria eu me apartar da minha cultura. Fiquei aqui. Foi a decisão mais acertada que eu tomei na vida”, frisa.

GRAND FINALE

“Tanta Saudade” abre espaço para “Asa” (1986), aproximando em sua letra o deus grego Zeus e o primeiro deputado federal indígena Mário Juruna – céu e chão. 

No meio da canção, em diferentes momentos, Djavan saúda ainda a lua e o Centro Sportivo Alagoano (CSA), clube de Maceió – céu e chão.

“Se” (1992), sua música mais executada nas plataformas, é seguida de “Você É”, que prepara o terreno para a reta final explosiva do show.

“Samurai” e “Sina” – ambas do álbum “Luz”, de 1982 – se mostram tão novas e infalíveis como quando foram lançadas.

Em ambas, os metais brilham como que assinando sua importância central ao longo de todo o espetáculo. No solo de Maceió, no palco armado à beira-mar, o verso “como querer djvanear o que há de bom” parece fazer ainda mais sentido.

Indo do romantismo à catarse, o bis com “Pétala” (1982) e “Lilás” (1984) cumpre seu papel de arremate preciso.

“Você já imaginou fazer um bis e matar o que você acabou de apresentar?”, pergunta Djavan, abastecido de sua experiência e sabedoria na comunicação com o público.

“O bis é determinante para fazer com que as pessoas vão para casa com a certeza de que acabaram de ver um grande show”, crava.

Iluminadas, enfim. Djavan, afinal, conhece a importância do movimento da volta para casa.

SERVIÇO 

AINDA HÁ INGRESSOS DISPONÍVEIS

As mesas fechadas para oito pessoas com open bar (água, refrigerante e cerveja com mix de castanhas e frutas secas) custam: 

  • setor A (amarelas), R$ 4.600; 
  • setor B (vermelhas), R$ 4.200; 
  • setor C (azuis), R$ 3.600. 

Os ingressos individuais em mesas compartilhadas com open bar variam de R$ 575 a R$ 340.

O bistrô para quatro pessoas com open bar (sem o mix de castanhas e frutas secas) custa R$ 1.400.

Para a área vip com open bar (sem o mix de castanhas e frutas secas), o ingresso individual custa de R$ 230 a R$ 175 para o terceiro lote.

A produção local informa que as arquibancadas são “simplesmente um plus para o público de área vip, uma área para descanso”, que não acomoda ao mesmo tempo todo o público do referido setor.

Os ingressos estão disponíveis no estande do Comper Jardim dos Estados ou pela internet: www.pedrosilvapromocoes.com.br

Mais informações: (67) 99296-6565 (WhatsApp).

ASSINE O CORREIO DO ESTADO

DIÁLOGO

Confira a coluna Diálogo na íntegra, desta segunda-feira, 22 de abril de 2024

Por Ester Figueiredo ([email protected])

22/04/2024 00h02

Continue Lendo...

Martin Luther King Jr. - ativista americano

"Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo”.

FELPUDA

Considerado até então único “trator” existente nas articulações políticas, fazendo imperar a vontade de “chefia” a todo custo, figurinha considerada carimbada agora tem pela frente dois concorrentes que não deixam se intimidar.

A cooptação de vereadores para certo partido e o apoio a prefeitos do interior vêm mostrando, digamos assim, “empate técnico” do trio. Nos bastidores políticos, há quem garanta que se trata de confronto de titãs. E sai de baixo!

Patente

Pesquisadores da UFMS conquistaram mais uma patente. Dessa vez, trata-se do processo de conversão de peças de plástico, feitas com impressora 3D, em condutores elétricos. O pedido foi resultado de uma pesquisa iniciada pela aluna Katia Emiko Guima

Mais

Segundo o professor do Instituto de Física da UFMS Cauê Alves Martins, um dos responsáveis pelo trabalho, sua aluna iniciou a pesquisa quando começou mestrado em Química na UFGD. A invenção teve também a participação do professor Victor Hugo de Souza, da UFGD.

Barbara ValentimBarbara Valentim
Maria Eleonora ChagasMaria Eleonora Chagas

Rebote

Alguns partidos que lançaram pré-candidatos viram que o ato foi como pedra jogada na água: fez rápidas ondulações, foi para fundo e quase ninguém nem sequer reparou. A continuar assim, é quase certo que nos próximos dias comece a romaria dessas legendas em direção ao endereço dos partidos mais fortes, para pedir abrigo disfarçado de “aliança”.

Enfim

Sete anos depois, projeto substitutivo do então senador Waldemir Moka, hoje presidente estadual do MDB, e dos ex-senadores Ana Amélia (RS) e Walter Pinheiro (BA) teve aprovado requerimento para que tenha tramitação (não é piada) em regime de urgência. A proposta cria regras para pesquisas com seres humanos e o controle das boas práticas clínicas por meio de comitês de ética desses estudos.

Ameaça

As lideranças do PT em MS devem ter sentido cheiro de pólvora em suas pretensões para 2026. Por isso, um dos três parlamentares estaduais criticou o PSDB e seu avanço nos municípios na cooptação de prefeitos e vereadores.

Depois, fecharam apoio à pré-candidatura de sua companheira na disputa pela Prefeitura de Campo Grande. Nos bastidores, há quem diga que a chegada do Podemos e do PSD ao ninho mostra que petista teria sido rifado no sonho ao Senado.

Aniversariantes

  • Claudia Adriane Grava,
  • João Alex Monteiro Catan (Jonny Catan),
  • Rejane Borges Diniz,
  • Josimário Teotonio Derbli da Silva,
  • Maria Clara Saad Menezes,
  • Idelma Arce de Souza,
  • Cesar Mendes,
  • Jorge Vilela Gaudioso,
  • Maria Tereza Junqueira de Carvalho Filha,
  • Lourival Soares,
  • Marcos Antonio de Carvalho Torquato,
  • Luciano Fonseca Coppola,
  • Luiza Prado Komiyama,
  • Osvaldo Martins Pinto Filho,
  • Rodrigo Tomaz Silva,
  • Marilene Pelzl Bacargi,
  • Daniel Borin,
  • Aurora Trefzger Cinato Real,
  • Augusto Cesar dos Santos,
  • Nilce Vargas Pereira,
  • Dra. Carolina Martins Neder,
  • Andre de Souza Junqueira Netto,
  • Roberto Haranaka,
  • Altemar Tadeu Dias,
  • Katilene Martins Arteman,
  • Ildeomar Carneiro Fernandes,
  • Benedita da Silva Saraiva,
  • Raimundo Maciel de Oliveira,
  • Katilys Sandes Krambeck,
  • Deiselene da Silva Acosta,
  • Francisco de Assis Santos de Oliveira,
  • Laudemir de Oliveira Recalde,
  • Jéssica de Oliveira Curiel,
  • Matheus Araújo Xavier,
  • Cirene Rondon,
  • Ana Maria de Souza,
  • Nilma Bianca Braga,
  • Gilce Pereira Kawagnani,
  • Glauber Alves Rodrigues,
  • Duprê Garcia Coelho,
  • Maria Bernadete Barbosa Ronda,
  • Otaviano Alves Nogueira,
  • Dra. Tânia Mara Scacabarozi Bertolotto,
  • Dr. Antonio Toshio Kuahara,
  • Dr. Luiz Carlos França da Nova,
  • Virginia Costa de Oliveira Marques,
  • Iara Pacheco Burmann,
  • Nelson Seity Shigemoto,
  • Rosana Sandri,
  • Ramão Humberto Martins Manvailer,
  • Augusto Kanashiro,
  • Eleutério de Souza,
  • Maria Cláudia de Melo Figueira,
  • Alda Soavesso,
  • Aline Cristina Ferreira Pivoto,
  • Regina Sueiro Figueiredo,
  • Sérgio Venâncio,
  • Hélio Taveira Delmondes,
  • Adão Ferreira da Silva,
  • Nilza Campos Gomes da Silva,
  • Clóvis de Barros,
  • Jair Alves de Souza,
  • Manoel Simona de Oliveira,
  • Dr. Roberto Antoniolli da Silva,
  • Arcebil de Souza Maia,
  • Onisio Carlos Correa Febrone,
  • Aline Maria Bezerra de Alencar,
  • José Carlos Grande,
  • Paulo Renan Pache Corrêa,
  • Olavo Augusto Torquato Mozer,
  • Ana Rosa Ribeiro de Moura,
  • Dirlene Basilio Novais,
  • Nadia Nascimento Chaves de Oliveira,
  • Barbara Cavalcanti da Silva,
  • Jorge José Lopes,
  • Arthur Constantino da Silva Filho,
  • Bruno Augusto Uehara Pimenta,
  • Amaroti Gomes,
  • Fátima Elisabete Luiz Gonçalves,
  • Maria do Céu Silva Santos,
  • Jorge Moura da Paixão,
  • Luciana da Cruz Silva,
  • Tânia Alves Sandim,
  • Francisco Carlos Lopes de Oliveira,
  • Suziney Santana Santos,
  • Hiromi Ono Mizusaki,
  • Ioneia Ilda Veroneze,
  • Marcos Vinícius da Silva,
  • Odair José Areca,
  • Raquel Viegas Carvalho de Siqueira,
  • Wilmar Nunes Lopes,
  • Lucila Oliveira Pereira,
  • Ada Lopes da Silva,
  • Samira Pimentel Oliva,
  • Maria Aparecida Gomes de Oliveira,
  • Bartira Souza Campos,
  • Daniella Moraes Antunes,
  • Catarina Martins Nogueira,
  • Viviane Rodrigues,
  • Martha Alves de Souza,
  • Luísa Helena Menezes,
  • Maria Renata Corrêa Lima,
  • Laucídio de Moura Silva,
  • Samira Xavier de Souza,
  • Bruna de Oliveira Mendes

* Colaborou Tatyane Gameiro

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).