Ícone do cinema na França e no mundo, Brigitte Bardot é tema de uma série que leva o mesmo nome da atriz e disseca a primeira década de uma trajetória turbulenta e arrebatadora
Talvez a norte-americana Marilyn Monroe (1926-1962), as italianas Sophia Loren e Claudia Cardinale ou a sueca Anita Ekberg (1931-2015). Poucas atrizes causaram tanto frisson no cinema, em frente ou por trás das câmeras, quanto a francesa Brigitte Bardot. Musa de Jean-Luc Godard, Louis Malle, Claude Autant-Lara e Julien Duvivier, entre outros célebres cineastas, foi sob a direção de Roger Vadim (1928-2000), o primeiro marido, que estrelou seu primeiro grande sucesso na sétima arte.
Disponível gratuitamente pelo streaming até o dia 22 de dezembro, a série biográfica “Brigitte Bardot”, ou apenas “Bardot”, pelo lançamento original da Netflix francesa, narra como a atriz Brigitte Bardot se tornou um ícone, identificada pelas iniciais BB, e inspirou toda uma geração de mulheres nos anos 1950, despertando tanto ódio quanto adoração.
A produção dirigida por Danièle e Christopher Thompson se detém nos anos 1950, um período crucial na trajetória da parisiense, nascida em 28 de setembro de 1934, filha de um industrial que adorava cinema e de uma bailarina que trocou as sapatilhas pelo casamento. Ao longo de seis episódios de 52 minutos, o espectador acompanha a ascensão de Brigitte Bardot na França do pós-guerra, entre 1949 e 1959.
Desde os seus 15 anos até os 25, desde a sua educação rigorosa até o seu desejo de liberdade e de amor, o sonho de, a exemplo da mãe, se tornar uma dançarina até o casamento com o primeiro amor, Roger Vadim, e a sua lendária atuação em “E Deus… Criou a Mulher” (1956), a série vai mapeando como a jovem talentosa, e de beleza estonteante, eternizou-se e virou uma sigla reconhecida mundialmente.
“Brigitte Bardot” também mostra, entre outros lances, o casting da atriz com o diretor Henri-Georges Clouzot para o filme “A Verdade” (1960). Para além do talento e do magnetismo em cena, talvez apenas a BB incansável com os homens, assim como pela busca da própria liberdade, tem mais relevo na abordagem da série. Facetas que, com o tempo, ficariam mais conhecidas, como a protetora dos animais ou a militante conservadora e contra o Islã, por exemplo, ganhariam espessura nos anos seguintes.
“Danièle e Christopher Thompson reconstroem os anos jovens de um ícone do cinema francês, Brigitte Bardot. Um deleite cinematográfico vintage com um elenco de ouro, incluindo a estreante Julia de Nunez e o excelente Victor Belmondo no papel de Roger Vadim”, comenta o portal Series Mania, responsável pelo festival de mesmo nome especializado em séries.
Confira, a seguir, do que tratam os episódios, do primeiro ao sexto. Os intertítulos receberam o nome de cada capítulo. Para assistir, basta acessar: variluxcinefrances.com/2023/assista-a-serie-brigitte-bardot-em-streaming/.
UMA BOA MOÇA
Paris, 1949. Brigitte Bardot, 15 anos, encontra com o jovem Roger Vadim, assistente do diretor Marc Allégret. A jovem obtém permissão de sua família, burgueses ricos do bairro chique de Passy, para fazer testes para um projeto de filme.
Os pais de Brigitte, que não a acham nem bonita nem talentosa, não acreditam em seu futuro como atriz. Porém, graças a Vadim, ela ganha autoconfiança. O filme não é feito, mas Brigitte e Roger se apaixonam. Brigitte rebela-se contra sua educação rigorosa, floresce, descobre a sua feminilidade e a sua personalidade.
BB
Saint-Tropez, 1956. Dois anos depois de seu casamento com Brigitte Bardot, Roger Vadim começa a filmar seu primeiro longa-metragem, “E Deus… Criou a Mulher”. Ele se inspira em sua esposa para escrever a personagem de sua bela e sensual heroína, Juliette, que enlouquece os homens.
Para lhe dar a resposta, escolhe Jean-Louis Trintignant (1930-2022), um jovem ator austero e introvertido. Brigitte não está entusiasmada com este parceiro gelado. No entanto, à medida que a filmagem avança, uma atração insidiosa se desenvolve entre os dois atores, que logo se tornam amantes.
LA MADRAGUE
1957. Brigitte continua filmando. Ela consegue trazer Jean-Louis, então na Alemanha, de volta para Paris para terminar o serviço militar perto dela. Uma ligação de seu ídolo, o cantor Gilbert Bécaud (1927-2001), encanta a atriz de 22 anos. Depois de um programa de televisão, os se apaixonam.
Sentindo-se traído, Jean-Louis deixa Brigitte. A atriz então começa um caso com Bécaud enquanto filma ao lado de Jean Gabin (1904-1976) em “Amar É Minha Profissão” (1958), de Claude Autant-Lara. A comitiva de Brigitte tem medo de escândalo, porque o cantor é casado.
A BORBOLETA
1959. No set de “Babette Vai à Guerra”, Brigitte inicia um caso com o jovem ator Jacques Charrier. Loucamente apaixonado, esse filho de coronel apresenta sua companheira aos pais. Ao contrário dele, Brigitte não deseja constituir família e ter filhos.
Ao saber que está grávida, ela liga para Vadim pedindo ajuda para abortar. Mas ninguém ousa tocar na mulher que se tornou Brigitte Bardot. Prisioneira da gravidez, ela resolve anunciar a Jacques que está grávida.
BEBÊ
Brigitte consegue convencer Jacques de desistir da filmagem de “O Sol por Testemunha” (1960), que está começando, para se juntar a ela em Nice. Enquanto a atriz aceita relutantemente a gravidez, surge uma discussão entre ela e o marido, porque Olga ofereceu a Brigitte um novo contrato.
Mas o marido está preocupado com a saúde da futura jovem mãe. Sob tensão, o primeiro encontro cara a cara entre a atriz e o diretor Henri-Georges Clouzot se mostra promissor. Mas, enquanto Jacques é convocado para o serviço militar, Brigitte terá de enfrentar novas indiscrições na imprensa sensacionalista.
A VERDADE
Brigitte e Jacques não param de brigar. Impaciente de se sentir novamente livre, a jovem ainda não consegue assumir suas novas responsabilidades como mãe.
Por sua vez, o jovem ator não consegue digerir o fato de ter sido afastado do elenco de “A Verdade”, de Clouzot. Uma vez selecionados os atores, começa uma filmagem de alta tensão: para tirar o melhor proveito de sua atriz estrela, o diretor não hesita em maltratá-la no set.
A ATRIZ
Julia de Nunez nasceu em 2000, filha de pai argentino e mãe francesa. Após o bacharelado e um decepcionante ano de estudos em Literatura, decidiu lançar-se no teatro e no cinema. Formou-se na escola particular de teatro Périmony, fundada em Paris na década de 1960 por Jean Périmony, por onde passou Fanny Ardant, entre outros nomes de destaque do cinema francês.
Danièle Thompson, que codirigiu os seis episódios com o filho Christopher, comenta que, entre as dezenas de atrizes testadas para o papel, Julia se destacou imediatamente “pela graça, pela fotogenicidade e pelo instinto de atuação”. Segundo a diretora: “Para interpretar Brigitte Bardot dos 15 aos 26 anos, procurávamos uma atriz capaz de ilustrar a sua evolução, ou seja, uma adolescente fofa que de repente se transforma em uma femme fatale de um novo tipo”.