Dividido entre a psicologia e o desejo de ser ator, o mineiro Frederico Reuter, nascido em Teófilo Otoni, chegou a concluir a faculdade e considerar seguir na área da saúde antes de decidir ouvir a si mesmo e dar ouvidos também a uma promessa antiga, feita ainda na infância, quando, ao ver Marília Pêra em cena, no musical “Estrela Dalva”, jurou que também faria musicais um dia.
Foi o gênero que vem ganhando força no Brasil desde os anos 2000 que despertou nele o interesse pelo canto, que, somado à sua desenvoltura para a atuação, o tornaria um profissional mais bem preparado para o mercado que viria a desbravar no Rio de Janeiro, para onde se mudou junto à família, realizando assim um dos seus sonhos de vida.
Com passagem pelo Tablado e por diversos cursos de teatro, sua primeira experiência com um teste profissional aconteceu com o musical “O Fantasma da Ópera”, em 2004.
Sem saber muito o que esperar, a negativa que recebeu lhe serviu como estímulo para ainda mais estudo, estudo este que rendeu a ele o primeiro sim com o musical “Império”, dirigido por Miguel Falabella, e descoberto por Reuter em um anúncio de jornal.
Após sua grande estreia, ele passou a colecionar trabalhos como o musical “New York, New York”, dirigido por José Possi Neto, onde alternou o papel protagonista com Juan Alba, “Alô, Dolly!”, quando pôde dividir a cena com a ídola Marília Pêra - tornando realidade o sonho daquele pequeno Frederico, de apenas 11 anos, impressionado com a grandeza da estrela -, e junto de Falabella, com quem veio a trabalhar em muitos outros projetos depois.
Foi em uma novela escrita por Falabella, “Negócio da China”, que Fred estreou na TV.
O ator integrava o elenco do musical “Os Produtores”, estrelado pelo autor, quando ele e outros dois colegas de elenco receberam o convite.
Ali nasceu o personagem que lhe conectaria pela primeira vez com o canto e a atuação nas telas, Zé Boneco, um garçom humilde, que sonhava em ser cantor.
Por esse papel foi indicado ao Prêmio Contigo de Televisão como Ator Revelação.
Na sequência veio o benevolente Dr. Ricardo, personagem de “Aquele Beijo” que trouxe à Frederico um maior reconhecimento.
A novela, também de Falabella, e que teve seu último capítulo exibido há 10 anos, o levou a conquistar o carinho do público e até uma torcida para que ele desse uma virada na sua história ao lado da personagem Camila Collaboro, vivida pela atriz Fernanda Souza.
“O Dr. Ricardo era um médico altruísta, caridoso, sem grandes ambições e era justamente isso que causava tantos problemas em seu casamento com a Camila, interpretada brilhantemente pela Fernanda Souza. Era engraçado que as pessoas nas ruas me diziam coisas como: ‘-Larga essa mulher! Ela não te ama. Ela te trata mal’. Eu achava hilário como elas se sensibilizavam com ele e como me davam conselhos, como se coubesse ao ator decidir a história. Depois ele se envolve com Bernadete e encontra a felicidade com uma mulher forte e de comunidade. Achava lindo ele com a personagem da Karin Hils, minha amiga irmã”, relembra.
Sempre intercalando espetáculos e gravações, as oportunidades profissionais foram moldando as habilidades de Reuter, que, sempre aberto à novos aprendizados, chegou a fazer aulas de jazz, ballet e sapateado para dar vida a Roberto Marcos, no espetáculo “A Madrinha Embriagada”, que antecedeu outros musicais como “O Homem de La Mancha” e “Hebe - O Musical” - onde deu vida à Luís Ramos, um dos maridos da apresentadora, e ao cantor Agnaldo Rayol, personagem que reviveu na série que homenageou a estrela.
“Eu amo trabalhar seja em TV, teatro ou musical. O que me deixa feliz é estar atuando. A cada novo papel me sinto começando do zero. É sempre um desafio atuar e dar vida a um personagem. O nervosismo e as inseguranças são iguais, parece que estou sempre começando. O mais importante para mim é a figura do diretor, pois quando sou bem dirigido e confio na direção, o processo pode ser difícil, mas é sempre uma nova escola, um novo aprendizado”, diz.
E um novo aprendizado tem vivido também no streaming, plataforma em que se prepara para estrear com a série “O Coro: Sucesso Aqui Vou Eu”, criada por Falabella especialmente para o Disney+.
A produção, ainda a estrear, e com duas temporadas garantidas, conta com Reuter no papel de Diego Loma, um astro dos musicais que é convidado para integrar o elenco de uma nova produção. “Mais uma vez estou contracenando com minha amada Karin Hils e com um elenco jovem de atores muito talentosos e queridos”, comemora ele, que reencontra ainda Cininha de Paula, uma das diretoras da série e da novela “Aquele Beijo”.
“Nunca imaginei trabalhar com a Disney, mas estou amando e adoraria fazer mil coisas com eles. O trabalho é muito intenso porque como se trata de uma série que fala do mundo dos musicais, os ensaios foram exatamente como os ensaios de um espetáculo. Horas e horas aprendendo músicas, coros, coreografias, gravando músicas em estúdio, mas na hora de atuar em frente às câmeras é igual a uma novela”, conta.
Em paralelo às gravações de “O Coro”, Reuter está em cartaz em São Paulo, no Teatro Claro, com a comédia “A Mentira”, do autor francês Florian Zeller, contracenando na atual temporada com Danielle Winits, Alessandra Verney e Falabella.
Conciliando agendas e sem se acomodar nas experiências já vividas, o ator busca ainda a realização de outro grande sonho: fazer cinema; mas certo de que seus 20 anos de carreira já valeram muito a pena.
“É sempre um recomeço, uma luta eterna. Embora veja como essa carreira é difícil e instável, sinto que realizei um grande sonho, que era ser ator e sobreviver nessa profissão”, finaliza.
Em conversa exclusiva com o Correio B+ desta semana, Frederico Reuter fala de seu início de carreira, sonhos, realizações e trabalhos atuais...
CE - Antes de escolher seguir na Arte, você chegou a se formar em outra profissão. O que te fez mudar de ideia?
FR - Na verdade, sempre quis ser ator desde muito criança, mas me sentia na obrigação de dar um diploma para meus pais.
Depois de algumas tentativas frustradas em Direito e Relações Internacionais acabei fazendo psicologia e me formei. Depois larguei tudo para estudar teatro, interpretação e realizar meu sonho de ser ator.
CE - O que te motivou a cursar Psicologia? Em algum momento da sua carreira, chegou a pensar em exercer?
FR -Eu sempre achei a psicologia muito interessante. Vários familiares faziam psicanálise e eu era fascinado por Freud.
Eu adorei estudar psicologia, me deu muita cultura, conhecimento e eu cheguei a clinicar por dois anos, mas depois a vontade de ser ator falou mais alto e eu larguei tudo, para nunca mais voltar.
CE - Em que momento da sua carreira sentiu que tinha feito a escolha certa e se viu verdadeiramente realizado na área?
FR - Quando fiz meu primeiro musical, "Império", em 2006. Foi um dos períodos mais felizes da minha vida. Era a realização do meu sonho e tive a certeza de que não poderia mesmo ter feito outra coisa.
CE - Você já fez algumas novelas e séries. O que te encanta e atrai mais nestes tipos de trabalho? E o que acha mais difícil ou desafiador?
FR - Eu gosto do ritmo das gravações, da visibilidade e da popularidade que a TV te dá - e que acaba se transformando no reconhecimento do público.
Uma semana depois da estreia de “Aquele Beijo”, lembro que eu andava nas ruas e já ouvia pessoas me chamando de Dr. Ricardo. Isso é muito legal porque te leva para todos os lares do país.
E pensando no desafio, diria que o maior é conseguir fazer as cenas com a loucura do set. Em teatro você tem meses de ensaio, você estuda fala por fala, você tem o olhar do diretor te guiando. Em televisão também, mas é tudo muito rápido.
Eu cheguei a gravar 22 cenas no mesmo dia e você tem que ter em mente qual a emoção do personagem naquela cena, que, muitas vezes, é a continuação de outra que você gravou em outro cenário uma semana antes.
Fora que muitas vezes você tem uma cena longa, com diálogos longos e, além de se preocupar com as palavras e a emoção do personagem, você ainda tem que ver onde está a luz, para qual câmera reagir, e mesmo quando acerta tudo, o diretor pode interromper por um erro qualquer e aí você tem que parar e começar tudo de novo.
Conseguir se concentrar no meio disso tudo eu acho que é o maior desafio. Mas é ao mesmo tempo muito prazeroso fazer TV.
CE - Você interpretou papéis na TV que tinham certa semelhança com você. O Ricardo, ligado à área da saúde, e o Zé Boneco, ligado à arte. Acha que é mais fácil construir personagens quando possuem "conexões reais"?
FR - Não necessariamente. Muitas vezes você faz bem justamente algo completamente diferente da tua vida real.
Fizemos uma preparação com o Sérgio Penna antes do início das gravações.
Como Ricardo era um médico caridoso, sempre preocupado com os mais pobres etc., visitamos clínicas de saúde, orfanatos, o que me ajudou a entender o universo do personagem.
Mas os conflitos entre ele e a Camila, interpretada pela Fernanda Souza, a crise no casamento, eram o que importava mais na história.
Mas claro que todo ator usa seu corpo, sua voz, suas experiências de vida para construir um personagem, por isso a preparação com o Sérgio foi tão interessante.
Já no caso do Zé Boneco, o que usei foi de fato minha experiência como ator de musicais, já que ele queria ser um cantor, mas mesmo com semelhanças, ele era completamente diferente de mim. Era um homem tímido, quieto, tudo que eu não sou rsrs.
CE - Muitos dos seus trabalhos, sejam nas telas ou nos palcos, foram ao lado de Miguel Falabella. Como avalia essa parceria de tantos anos?
FR - Digo que é um presente dos deuses, um privilégio e uma honra. Miguel é genial, tem uma capacidade de criar e realizar que poucos têm.
Ele sempre trabalha com seu grupo de atores, seja no teatro ou na TV, e me sinto um privilegiado de poder fazer parte desse grupo.
CE - Atualmente você está em cartaz com a peça "A Mentira" e gravando a série musical "O Coro: Sucesso Aqui Vou Eu", que devem ocupar todo o seu tempo. Como concilia esse ritmo de trabalho?
FR - O primeiro mês foi exaustivo. Eram muitos ensaios para 'O Coro' e depois ainda ensaiava 'A Mentira'.
Eu acordava às 5:30 para poder ir para a academia treinar, tomar café da manhã com calma, mas sempre com o fone no ouvido decorando música, linhas melódicas e todo o material da série.
Às 9:00 já estava ensaiando coreografias e depois do almoço eram horas revisando músicas e aprendendo novas e depois ainda ia ensaiar a peça, já que tinha que redecorar o texto - ficamos dois anos sem fazer a peça por causa da pandemia - e ensaiar com a Danielle Winits, que veio substituir a Zezé Polessa.
Houve dias em que eu me sentia exaurido, mas agora está tudo mais tranquilo na rotina, com o espetáculo só aos finais de semana e as gravações em dias alternados.
CE - Há 10 anos chegava ao fim a novela "Aquele Beijo". Sente falta de fazer novelas? Qual perfil de personagem te faria retornar às telas hoje em dia?
FR - Eu adoro fazer televisão. Adoraria fazer uma novela de novo ou série, minissérie.
Faria qualquer personagem que fosse interessante e marcante, mas como meus dois personagens em novela eram homens bonzinhos eu adoraria fazer um vilão perverso, um cínico manipulador.
Adoraria esse desafio de fazer um personagem que o público ama odiar.
CE - O que o público pode esperar de seus novos projetos?
FR - Neste momento estou muito ocupado e focado com 'A Mentira' e 'O Coro', então não daria tempo de ter novos projetos, mesmo se eu quisesse (risos).
As gravações da série acabam esse mês, mas espero que continuemos com o espetáculo e que possamos continuar a turnê pelo país.
E claro, estou sempre aberto a novas oportunidades, afinal, eu amo trabalhar em qualquer meio, seja no audiovisual ou no palco, e estar cercado de pessoas talentosas e em projetos legais é o que me deixa feliz.