Exercícios reduzem em até 36% o risco de morte por câncer de próstata; com até 98% de chances de cura quando diagnosticado precocemente, o câncer de próstata pode ser vencido com exames preventivos e hábitos saudáveis
Com a forte mobilização do Novembro Azul, campanha mundial de conscientização sobre a saúde do homem, cresce o alerta para a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de próstata, o segundo tipo mais comum entre os homens brasileiros, atrás apenas do câncer de pele não melanoma.
Embora a idade avançada e o histórico familiar estejam entre os principais fatores de risco, o estilo de vida tem se mostrado determinante na prevenção. A obesidade e o sedentarismo estão associados a formas mais agressivas do tumor, enquanto a prática regular de exercícios físicos surge como uma das estratégias mais eficazes para reduzir a incidência e a mortalidade pela doença.
De acordo com um estudo publicado pelo Jama Network Open (portal da Associação Médica dos EUA) em 2024, homens que mantêm uma rotina de pelo menos 30 minutos diários de atividade física moderada apresentaram uma redução de até 36% no risco de morte precoce, mesmo entre aqueles com predisposição genética ao câncer de próstata.
A explicação está na capacidade do exercício de regular os níveis hormonais, melhorar a função imunológica e controlar o peso corporal, fatores diretamente ligados à saúde da próstata. Segundo o urologista Sergio Rametta, o estilo de vida tem uma influência direta tanto na prevenção quanto na evolução do câncer de próstata.
“Hoje já sabemos, com base em diversos estudos, que o sedentarismo, a má alimentação e o tabagismo estão associados não apenas a um risco maior de desenvolver a doença, mas também a formas mais agressivas do tumor”, afirma o médico, que também é professor no Ensino Superior.
O especialista esclarece que a atividade física regular é um dos principais fatores de proteção contra o câncer, uma vez que ela ajuda a manter o peso corporal adequado, melhora a imunidade, regula hormônios e reduz processos inflamatórios. Além disso, homens fisicamente ativos tendem a responder melhor aos tratamentos e a ter melhor qualidade de vida durante e após o tratamento.
“Portanto, adotar hábitos saudáveis é fundamental: praticar exercícios regularmente, manter uma alimentação equilibrada, evitar o consumo excessivo de gordura e álcool e não fumar são atitudes simples que fazem uma grande diferença na prevenção do câncer de próstata e de outras doenças crônicas”, complementa o urologista.
DIAGNÓSTICO PRECOCE
Segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o Brasil deve registrar até o fim deste ano cerca de 71.730 novos casos da doença, considerando o período iniciado em 2023. Apenas em 2023, o Ministério da Saúde contabilizou 17.093 mortes em decorrência do câncer de próstata, uma média alarmante de 47 óbitos por dia.
A Sociedade Brasileira de Urologia informou que a cura para pacientes com câncer de próstata pode chegar até 98%, principalmente se for diagnosticado no início. Sergio Rametta comenta que o câncer de próstata, em suas fases iniciais, geralmente não apresenta sintomas. Por isso, o homem não deve esperar sentir algo diferente para procurar o urologista e realizar os exames preventivos.
“A detecção precoce é feita por meio de exames de rotina, como o toque retal e a dosagem do PSA no sangue, que permitem identificar alterações ainda sem manifestações clínicas. Quando o câncer começa a causar sintomas, como dificuldade para urinar, jato urinário fraco, presença de sangue na urina ou dor óssea, estamos em uma fase mais avançada da doença, em que já perdemos a chance do diagnóstico precoce”, posiciona Dr. Sergio.
O urologista também informa que a cirurgia continua sendo o principal método curativo, mas hoje é possível realizá-la com técnicas minimamente invasivas, como a cirurgia robótica e a laparoscopia, que oferecem uma recuperação mais rápida e maior preservação da continência urinária e da função sexual.
DA PAI PARA FILHO
A genética responde por até 60% do risco de desenvolver câncer de próstata, segundo estudos compilados pelo National Cancer Institute (NCI) nos Estados Unidos. No Brasil, conforme o Inca, 10% dos casos de câncer de próstata registrados têm origem hereditária. Nesses pacientes, o tumor aparece antes dos 50 anos e progride mais rápido.
A previsão do Inca é de que, no País, 71.730 homens receberão o diagnóstico da doença, anualmente, até o fim deste ano. Deste total, 6,5 mil casos ao ano terão origem hereditária. Esse dado impacta tanto a prevenção quanto o tratamento. Os médicos especialistas em oncologia apontam que, no geral, ter um parente próximo com câncer de próstata, pai ou irmão, por exemplo, pode aumentar de duas a três vezes o risco de desenvolver a doença.
Para esses milhares de casos com componente hereditário, a precisão diagnóstica é fundamental. Estudos científicos demonstram que, no caso de câncer de próstata, combinar testes genéticos germinativos com sequenciamento somático detecta mais mutações hereditárias do que os métodos isolados.
Essa evolução nas técnicas diagnósticas já começa a se refletir na prática clínica brasileira. O acesso a diagnóstico, tratamento e acompanhamento especializados têm melhorado, pelo menos, nos grandes centros urbanos do País. Pacientes que se consultam com urologista em algumas capitais, inclusive em Campo Grande, encontram serviços preparados para realizar testes genéticos e oferecer tratamentos personalizados baseados no perfil molecular do tumor.
MARCADORES HEREDITÁRIOS
O gene BRCA2 lidera as alterações hereditárias do câncer de próstata. Mutações nesse gene aumentam o risco da doença em até 60% durante a vida – o que significa que, na prática, entre 10 homens que têm essa alteração, 6 desenvolveriam câncer de próstata ao longo da vida.
Já as mutações no gene BRCA1 conferem um aumento de risco de 3,8 vezes, resultando em probabilidade entre 15% e 45% de desenvolver a doença. O gene HOXB13, especificamente a variante G84E, triplica ou quintuplica o risco geral. Em casos de início precoce, esse risco pode ser 10 vezes maior, segundo o NCI.
Homens com síndrome de Lynch enfrentam riscos elevados em função de mutações nos genes MLH1, MSH2 e MSH6. Esses genes regulam o reparo do DNA e, quando alterados, a probabilidade de desenvolver câncer de próstata chega a 30% até os 70 anos, ainda conforme estudos compilados pelo NCI.