É difícil prever quando o amor pela literatura surge na vida das pessoas, mas é normalmente na infância e na juventude que o impacto é maior.
“A leitura contribui significativamente na formação da pessoa e influi também na forma como uma pessoa encara a vida”, explica Tarissa Marques Rodrigues dos Santos, 33 anos, pesquisadora e mestranda em Estudos Fronteiriços da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
Hoje é celebrado o Dia do Livro, em homenagem justamente aos leitores que não desistem, independentemente dos avanços tecnológicos e do custo que possa ter a leitura periódica. Nessa lista dos entusiastas, os jovens são os mais leem.
De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em setembro de 2020 pelo Instituto Pró-Livro, os pré-adolescentes de 11 a 13 anos compõem a faixa etária que mais lê no País, 81%.
Já as crianças de 5 a 10 anos compõe o grupo que teve o maior aumento de leitores.
Apesar do ponto positivo, de 2015 a 2019, a porcentagem de leitores no Brasil caiu de 56% para 52%.
A estudante Mariana Freire Ferreira, 13 anos, conta que sempre gostou de ouvir histórias, até se apaixonar pela primeira saga literária, o fenômeno Harry Potter. “Eu sempre gostei quando a mamãe contava histórias para eu dormir. Pedia para ela ler todas as noites.
Quando eu aprendi a ler e ela estava muito cansada, acabava que eu lia para ela e também era legal”, conta Mariana.
Segundo ela, mesmo os livros paradidáticos já eram atrativos na época.
“Quando eu tinha uns 10 anos, minha tia me emprestou ‘Harry Potter’ e eu comecei a ler coisas maiores, e ficou um universo cada vez mais interessante conforme eu crescia e ia descobrindo histórias novas. Então eu meio que comecei a ler e não parei”, ri.
O carinho pela literatura é tão grande que Mariana é capaz de passar 10 horas lendo o livro da vez, normalmente de fantasia.
“Eu não conto nem tenho uma meta específica. Tem dias, a maioria, que eu leio bastante, tipo umas 10 horas. Mas também tem alguns que eu leio uma ou duas [horas] só”, explica.
De acordo com Tarissa, o ambiente em que a criança está inserida auxilia no estreitamento da relação entre livro e pequeno leitor.
“Não existe a idade ideal, a criança já pode viver no mundo dos livros desde bebê, desde o momento que a mãe pega o livro para contar uma história, um conto, ela já tem o contato com a literatura, mesmo que ela não saiba ler. Se ela crescer em um ambiente letrado, com livros, vai ser muito mais fácil para ela gostar de ler”, explica a pesquisadora.
Tarissa fala por experiência própria também. Mãe de três crianças, um de 12 anos, uma menina de 9 anos e o mais novo de 7 anos.
“A de 9 anos é a que lê mais, principalmente as sagas. É o ambiente que faz a criança ir por esse caminho. Eu não deixo ficar muito tempo no celular, e se você não está no celular, acaba pegando um livro para continuar.
Outra coisa que faço é dizer a ela para ler um livro antes de ver o filme de uma saga, por exemplo”, explica.
Foi o audiovisual e o ambiente que incentivaram o irmão de Mariana a ler. Eduardo Freire Ferreira, de 9 anos, também é um leitor assíduo, mas, ao contrário da irmã, prefere mangás e histórias em quadrinhos (HQs). “Comecei a ler porque tinha livros dos desenhos que eu assistia.
Os meus favoritos são os mangás”, diz, segurando a HQ do Homem-Aranha Miles Morales.
Na lista, Naruto e outros famosos da cultura japonesa, que fazem sucesso também na versão televisionada.
Para a pesquisadora, não há muitos limites em relação ao tipo de obra e ao tempo que a criança e o adolescente dedicam à leitura.
“A gente sempre coloca que a literatura traz experiências diferentes de acordo com a idade da criança.
Quando você vai escolher um livro, você tem de ver o grau de literariedade desse livro, se é realmente um texto literário, a articulação desse texto com as ilustrações para que tenha uma boa compreensão da narrativa do livro, observar as qualidades e a estética da literatura, uma literatura sem moralismo, sem preconceitos, e também uma obra sem infantilismo.
Podem ser obras clássicas, contemporâneas, que abordam vários tipos de temática de pluralidade cultural, folclore, contos populares, poesia – tudo isso é literatura”, pontua Tarissa.