Por Ana Claudia Paixão – Crítica de Cinema
No MIPCOM de 2021, a principal feira de conteúdo para TVs e streaming, o mercado se reencontrou pela primeira vez – pessoalmente em alguns casos – depois de dois anos. Dois anos de muitas mudanças e fusões, e claro, de pandemia.
Dados mostram que, pelo menos na Europa, a curva da audiência já está mais próxima de 2019, mas, efetivamente, nada será como antes.
O consumo de séries e filmes, crescentes no período de isolamento social, marcou uma “fome” por novidades e não é surpresa que, e fiquem atentos, vários programas sejam de caixas, pessoas vivendo ou saindo delas, casas miniaturas, máscaras (literais) e programas de relacionamentos.
Nas séries, podemos nos tranquilizar pois além dos conteúdos de franquias que conhecemos e amamos vão “voltar”, como And Just Like That, o reboot de Sex and The City, The Crown, The Witcher, House of the Dragon, e etc. Não temos que nos preocupar com o próximo ano.
Mas, umas das comemorações mais significativas do ano foram os 20 anos do lançamento do The Office, que contou com a participação online de um de seus criadores e estrela, Ricky Gervais.
A versão original de The Office, vejam bem, foi a mais assistida na Netflix em 2020, de acordo com a Nielsen, o Ibope “gringo”. Isso mesmo, não leu errado.
A mais assistida. “Eu não supero esse sucesso que é ainda recorrente”, disse Gervais no evento. Sobre o sucesso na Netflix? “De enlouquecer”, riu.
E Gervais tem razão de rir à toa. O seriado que foi ao ar em uma versão americana entre 2005 e 2013, fazendo de Steve Carell uma estrela, em poucas semanas foi registrou segundo o Nielsen, 57 BILHÕES de minutos vistos.
Gervais avaliou com carinho e honestidade o sucesso da franquia, que foi gravada em vários países e idiomas, sem ainda sinalizar “envelhecimento”.
“Eu sempre soube que seria um sucesso”, ele disse sorrindo de sua casa, cercado de seus prêmios que incluem Baftas e Emmys.
“[The Office] é sobre temas universais, é quase existencialista. Tem romance, chefe mau versus bom, pessoas querendo fama, outras querendo fazer a coisa certa, mas nunca é esnobe”, ele avaliou. “As pessoas são as mesmas em qualquer lugar”, opinou.
Segundo Gervais, o formato de falso documentário é importante para que a série seja atemporal.
“Nos anos 1990s eu via muitos documentários sobre pessoas comuns, no trabalho e que se sentiam estrelas. E eu sempre achei que o mais engraçado não está no que estamos vendo, mas como as pessoas reagem a isso”, comentou.
“Uma pessoa comum, desesperada para ser aceita, amada e popular, sabendo que tem uma câmera focada nela, é o dobro de cringe”.
Segundo o ator, as personagens foram todas inspiradas em pessoas que ele observou em sua juventude, de pessoas que almejavam uma importância maior do que oferecida.
“É a síndrome do homem pequeno [uma síndrome na qual um homem pequeno reage agressivamente para compensar a baixa estatura], onde o principal crime é confundir popularidade com integridade”, explicou Gervais.
The Office é um sem fim de situações constrangedoras e divertidas. É de fato, uma distração que vale conferir. “É um seriado honesto sobre situações comuns. A intenção era de fazer o comum, extraordinário”, ele riu.
Alguém tem dúvida de que acertou? Recomendo ver, rever e rir com The Office, que, em 20 anos, não envelheceu quase nada.