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DANÇA

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O moinho não pode parar

Cia de Dança do Pantanal, projeto de ponta do Instituto Moinho Cultural, de Corumbá, enfrenta o atraso no repasse de recursos federais

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Quando não está ensaiando, Nayara Conceição passa todo o tempo que lhe resta com Helena, sua filha de um ano e sete meses, que fica aos cuidados da avó, Laura, para que a mãe possa se dedicar à pesada rotina de aulas, ensaios e exercícios diários. 

Nayara, ou Nay, como gosta de ser chamada, é uma das 16 integrantes da Companhia de Dança do Pantanal.

O grupo se dedica à dança contemporânea, buscando marcar a sua expressão por meio da busca de uma identidade regional bastante diversa, que conjugue elementos da paisagem natural e humana.

Criada em Corumbá, em 2017, a Cia surgiu como um dos vetores do Instituto Moinho Cultural Sul-Americano e trabalha ainda com foco em música, em tecnologia e em literatura para atender crianças e adolescentes dos dois lados da fronteira, Brasil e Bolívia.

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“No início foi um pouco difícil, porque eu era uma bailarina toda clássica e, quando o Chico Neller veio para coreografar [em 2019], era uma proposta totalmente diferente do que estava acostumada a dançar, eu tinha uma grande dificuldade com dança contemporânea. Mas com ensaios e mais ensaios, a coreografia entra no corpo”, conta Nayara, que integra a Cia desde o começo.

Suas memórias como dançarina profissional se confundem com a própria trajetória do grupo. Durante esses quatro anos de atividades, a Companhia de Dança do Pantanal desenvolveu três coreografias de criação própria – “Cultura Bovina” (Chico Neller), “Sexteto para Cinco” (Rui Moreira) e “Carne Quebrada” (Wellington Júlio) – e realizou espetáculos em Campo Grande, no Pará (Canaã dos Carajás), em Minas Gerais (Belo Horizonte e Brumadinho), em São Paulo (Indaiatuba), na Bolívia (Puerto Suarez) e em Portugal (Cidade do Porto e Santa Maria da Feira).

“A dança surgiu na minha vida quando entrei no Projeto Moinho Cultural. Entrei aos sete anos, fazendo música e dança. No primeiro momento, acabei escolhendo ir para a música e fiz parte da orquestra tocando violino; com o passar do tempo eu me mudei para a dança e foi ali que me reencontrei”, resume Nayara, que destaca, entre os momentos marcantes da companhia, e de sua própria vida, apresentar-se em Portugal e conquistar o grande prêmio do Concurso Internacional de Bailados.

“Fui descobrir depois que dancei grávida”, emociona-se a bailarina de 22 anos nascida em Corumbá. 

“A dança é a minha alegria, meu refúgio. Não consigo me ver fazendo outra coisa e quero cada vez mais evoluir nesse meio”, diz Nayara, que anseia pelo reconhecimento como todo jovem artista. Seu grande sonho é “ver a nossa companhia ser reconhecida Brasil afora”.

Mas o que falta, então, Nayara, para que isso aconteça? Ela dá um sorriso amarelo antes de responder: “Patrocínio!”.

Dançando no apagão

De fato, enquanto toca a movimentada rotina do Moinho Cultural, que, além da Cia de Dança, envolve a Orquestra de Câmara do Pantanal (OCPan), o Núcleo de Tecnologia e Comunicação (Nutec), um estúdio de gravação musical e os atendimentos diários à comunidade, a dançarina Márcia Rolon, mentora do projeto, vive às voltas para tentar manter as atividades em funcionamento ante o atraso, de cinco meses, no repasse dos recursos captados por meio da Lei Rouanet.

Essa legislação (Lei 8313/1991) de fomento existe há 30 anos e prevê dedução do Imposto de Renda para empresas que aceitem destinar parte dos tributos a serem pagos ao incentivo cultural.

O apagão na gestão da cultura, que vem marcando o governo Bolsonaro, provocou mais uma baixa para o Moinho e para todo o setor na semana passada. 

A portaria 12/2021, do Ministério do Turismo, publicada na quarta-feira, delega ao secretário de Cultura da Pasta o poder de “exercer a presidência e proferir os atos de gestão” da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC), composta por integrantes de diferentes segmentos da área cultural.

Na prática, a comissão já vinha totalmente paralisada desde março em meio à crise sem fim no comando da secretaria. 

Com a saída do ator Mário Frias, que foi destituído da Pasta após desgaste público com a classe artística, o policial militar – que já revelou práticas negacionistas – André Porciúncula assumiu o cargo.

Repousam, então, sobre as mãos do PM as esperanças de Márcia Rolon e de centenas de produtores culturais de Mato Grosso do Sul e de todo o País. 

“A gente tem hoje R$ 2,5 milhões captados pela Rouanet [a maior parte oriunda do Instituto Cultural Vale] aguardando liberação”, lamenta a dançarina e produtora cultural.

“Temos o parecer aprovado na Funarte, mas não temos a assinatura da comissão porque não há comissão. Estamos na mão de apenas um secretário para dizer se podemos usar nosso recurso ou não”, explica Márcia Rolon. “Isso é assustador, perigoso, e a gente tem muito pânico do que vivemos no momento”.

Criar é resistir

Apesar de se queixar da falta de credibilidade enfrentada pelo setor, a produtora cultural e coreógrafa, formada em dança (RJ) e educação física (MS) anuncia duas novidades. 

A Rede da Criança e do Adolescente da Fronteira (Recaf) e mais uma coreografia inédita, com estreia prevista ainda para 2021. 

A Recaf vem da necessidade de fortalecer o diálogo com municípios vizinhos nos dois lados da fronteira. A nova coreografia, que está sendo criada por ela, Chico Neller, Wellingon Júlio e, como sempre, colaboração efetiva dos 16 integrantes da Cia, terá como tema os imigrantes. 

“Sem esquecer do bioma e da geografia, sempre trazemos os temas que estão pulsando os próprios alunos”, diz Márcia, filha da bailarina Sônia Rolon e ex-integrante da companhia Ginga, lembrando que a coreografia Carne Quebrada teve como ponto de partida um episódio de violência sofrido por uma das dançarinas.

Pantanal e fronteira são palavras recorrentes durante a conversa com a produtora cultural, que aprofundou seus conhecimentos sobre a região cursando um mestrado justamente sobre estudos fronteiriços. 

“Pensamos diferente por estar na fronteira”, provoca Márcia. “A gente está na borda e quem está borda tem o abismo do lado e caminha nesse abismo sempre com muita dificuldade. 

Após contatar mais de 30 cidades, percebemos que temos em comum a distância do centro e a falta do olhar do estado para com a gente, tanto do Brasil quanto de todos os países que estão fazendo fronteira conosco. Isso, sim, nos faz muito diferentes e ricos.”

A ideia de trabalhar os imigrantes como conceito da próxima coreografia surgiu com a grande presença de haitianos na região, em 2019. 

“Recebemos 2 mil haitianos, demos abrigo e comida e vivemos um momento forte com eles”, conta Márcia. 

“Desde lá vem crescendo esse balé”, diz a coreógrafa. A trilha musical vai combinar criações eletrônicas, geradas no próprio estúdio musical do Moinho, com a partitura do músico Eduardo Martinelli, maestro da OCPan. 

O espetáculo terá uma pegada multimídia e contará com depoimentos de imigrantes que já estão sendo colhidos.

A militância pela integração sul-americana e mesmo entre os estados brasileiros está no cerne do pensamento do Instituto Moinho Cultural. Para compor o elenco da Cia de Dança, o limite máximo de dançarinos locais é de 60%. 

Os outros integrantes vêm de estados como Minas Gerais ou países como a Argentina. O time de professores também tem origem bem diversa. Além da brasileira Beatriz de Almeida, que foi primeira bailarina do Balé de Stuttgart, na Alemanha, por 20 anos, a formação de balé clássico leva a assinatura da dupla cubana Rolando Candia e Mayda Rivero.

O argentino Augustín Salcedo Martin tem 25 anos e fez a sua formação, entre outras instituições, na conceituada escola de balé do Teatro Colón, em Buenos Aires.

“No final de 2018, uma professora me contou que uma companhia do Brasil estava procurando bailarinos, fiquei emocionado com a minha seleção”, relembra Agustín, que se diz dançarino desde os tempos em que bailava na frente do televisor em Mar Del Plata, onde nasceu.

O bailarino é mais um exemplo, e bom argumento, do trabalho de ponta desenvolvido pela Cia de Dança do Pantanal, que não parou mesmo durante a pandemia.

“O mundo é pequeno com a tecnologia. O tempo de pandemia nos surpreendeu, nos fez fortes e rompemos barreiras”, celebra Márcia Rolon ao enumerar dezenas de lives realizadas pela Cia desde o ano passado, inclusive com grupos do Paraguai, México e Espanha.

“Foi difícil, mas conseguimos produzir 60 criações individuais e dançamos juntos, por exemplo, com a Orquestra de Ouro Preto.”

Sempre em movimento

Quem ouve Márcia, suas histórias, inquietações e, acima de tudo, quem conhece os números do projeto, certamente passa a torcer pela empreitada. 

“Trabalhamos com democratização da arte. Com nossa metodologia, baseada no que chamamos de teoria de mudança, aos poucos fomos conseguindo construir bons bailarinos e musicistas e excelentes e maravilhosos cidadãos de mundo. Hoje temos doutores, mestres e vários outros formados, até que percebemos que muitos não queriam sair daqui e tantos de outras cidades queriam vir pra cá estudar.”

São onze bailarinos e 53 funcionários trabalhando com carteira assinada, além de 400 jovens atendidos diariamente, parte deles dentro dos mesmos moldes do que a bailarina Nayara Conceição conta no início desta reportagem. 

Ou seja, a criança chega com idade entre seis e oito anos, faz uma imersão artística de três anos e em seguida opta por uma formação especializada. 

Em 16 anos de atividade, o Instituto Moinho Cultural Sul-Americano atendeu diretamente 23 mil pessoas, promovendo apresentações artísticas que, sem contar a plateia virtual mais recente, somam um público de 60 mil pessoas. O moinho não pode parar.

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Confira a coluna Diálogo na íntegra, desta terça-feira, 23 de abril de 2024

Por Ester Figueiredo ([email protected])

23/04/2024 00h01

Diálogo Foto: Arquivo / Correio do Estado

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Honoré de Balzac - escritor francês

Muitos homens têm um orgulho 
que os leva a ocultar os seus combates 
e apenas a mostrarem-se vitoriosos”.

FELPUDA

Áudio que circulou nas redes sociais traz ataque a deputado federal por parte de figurinha que não gostou do voto que este deu em decisão polêmica. O irritado defensor da moral e bons costumes dá seu nome e endereço para um confronto pessoal se o parlamentar quiser “tirar a diferença”. Quem ouviu achou o rompante hilário, para não dizer outra coisa, pois todos conhecem a figura, que há muito não é levada a sério. Ela é considerada, como diria vovó, protagonista de comédia bufa.

E assim caminha a humanidade...

Rega-bofe

O deputado federal Beto Pereira, pré-candidato a prefeito de Campo Grande, promoveu almoço para os vereadores que, 
em tese, vão lhe dar apoio na disputa eleitoral.

Mais

Além dos pratos do cardápio, para “prender pelo estômago” os convivas, outro ingrediente foi a conversa sobre política. 
Dos hoje 28 vereadores, participaram 13. Já os outros 16...

No dia 19, as advogadas Carolina Centeno e Priscila Arraes Reino, do Arraes e Centeno Advocacia, receberam, em São Paulo, o Prêmio Melhores Escritórios Digitais do Brasil, na categoria “YouTube”. 

Foi o reconhecimento nacional ao trabalho que elas exercem nas áreas previdenciária e trabalhista. O Canal do Direito Trabalhista e Previdenciário do escritório, localizado em Campo Grande, foi criado em agosto de 2019, no YouTube, e tem 
mais de 660 mil inscritos, com 1,2 mil vídeos e lives. Esta foi a segunda edição do prêmio, que teve a participação de mais de 800 escritórios de advocacia.

Eduardo Riedel e Carlos Alberto Coimbra
Juliette

Xadrez

O time para trabalhar pela reeleição da prefeita Adriane Lopes continua sendo fortalecido por integrantes do grupo político da senadora Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, a mais expressiva liderança do PP. A nomeação de Ademar Silva Júnior para a Secretaria Municipal de Inovação, Desenvolvimento Econômico e Agronegócio (Sidagro), um dos seus braços direitos, mostra que a parlamentar está movendo as peças no tabuleiro para a campanha eleitoral que se aproxima.

Peças

O novo titular da Sidagro veio somar forças com Marco Santullo, presidente do PP, também pessoa de confiança da senadora, que responde pela Secretaria de Governo de Adriane Lopes. Ambos são tarimbados nas articulações políticas e podem aglutinar apoio partidário, assim como econômico, inclusive do agronegócio, ao projeto de tentar reeleger a prefeita. 
Os dois seriam peças chaves, que até então estavam faltando na estratégia do PP para Campo Grande.

Esperança

A prefeita Adriane Lopes afasta-se cada vez mais do PT e a recíproca é verdadeira na disputa da reeleição. Sua participação 
no ato pró-Bolsonaro do dia 22 agigantou o abismo que separa as duas agremiações. Ela tenta ter o apoio do ex-presidente no primeiro turno. Não conseguindo, mas indo para a nova fase do pleito, espera obtê-lo. 

Aniversariantes

Dr. Sérgio Luiz Reis Furlani, 
Maria Teresa de Mendonça Casadei,
Ricardo Augusto Bacha, 
Liliane Gobbo, 
Rodrigo Rezek Pereira, 
Guisela Thaler Martini, 
Georges Mansour Hage, 
Derlis Ariel Gonçalves,
Bernardino Fernandes,
Edison dos Santos Barbosa,
Fernando Alves Bittencourt,
Johnny Vilalba de Matos,
Laura Cristina Moraes de Almeida,
Fernando Augusto de Araujo Nogueira,
Heloisa Vargas Fernandes,
Jorge Pereira de Castro,
Luiz Pascoal Anholeto,
Nelson Coelho Pina,
Lázaro Ortega Silva,
Daniel Oliveira da Conceição, 
Joanil Massister Benites,
Marcio de Campos Widal,
Marley Pettengill Galvão Serra, 
Jorge Luiz Rodrigues Noronha, 
Maria da Conceição Ribeiro Paraguassu,
Cândida Tavares de Souza Figueiró, 
Arnaldo Villas, 
Martim Vaz, 
Kelson Carvalho,
Jorge da Costa Marques,
Marcos Zambeli da Silva,
Adelina Rosa de Lima Tognini,
Flávio Rosemberg de Matos,
Vicente Jacques Monteiro Leite,
Terezinha Cândido Sobral Amaducci,
Jorge Pereira Vieira,
Mônica Aparecida Alves de Souza,
João Granjeira de Freitas,
Sulamirtes Rodrigues Galvão,
Otávio Almeida Loureiro,
Antonio Menezes de Souza,
Danielle Gutierrez Jacob,
Álvaro Vareiro,
Dra. Ana Beatriz Sperb Wanderley Marcos,
Lúcia Satiko Nakaiama,
Matheus Bambil de Almeida, Alcides Moreira dos Santos Júnior,
Altamiro de Souza,
Milton Ijudi Ekamoto,
Roseli Araújo de Matos Machado,
Taiãna Aparecida Alves,
Nilce Helena de Moraes,
Benedita da Silva Saraiva,
Adnair Dias da Silva Viana,
Ronald Ferreira de Novaes,
Cristiane Miranda Mônaco, 
Eva Selanir Blanco Braga,
Luciene Machado,
Maria Rita da Costa Assis,
Maria Claudia Machado,
Edson Mário de Souza Alves,
Gustavo Adolpho Bianchi Ferraris, 
Ana Maria Flôres de Almeida,
Geraldo Inácio da Silva,
Mário Sérgio Nantes,
Elisabeth Cristina Sisti, 
Moacyr Arantes Sobrinho,
Fred Alexandre dos Santos Silva,
João Lúcio Mendes da Silva,
Karla Ferreira de Souza,
Maria Emília Borges de Matos,
João Augusto Moraes Machado,
Marisa Barbosa Ferreira,
Edson Rufino Martins Neto,
Osvaldo Pereira da Silva,
Renato Ferreira da Silva,
Jairo de Oliveira,
Edith Fernandes Xavier,
Alisson Nelicio Cirilo Campos,
Júlio Augusto de Melo,
Ana Lourdes Diniz,
Laurita Zorrom Cavalcanti,
Orminda Rosa Rolim,
Sônia Inês de Oliveira Peralta Santana,
Renato Martins Neder, 
Karina Dalla Pria Balejo, 
Elizabete Tsuco Nakasone, 
Dra. Silvia Hiromi Nakashita,
Zeno Martins Gazote, 
Dr. Celso Jorge Cordoba Mendonça,
Denise Garcia Sakae, 
Ivan Jorge Gomes Ferro, 
Jorge Leite de Almeida,
Marlene Veigas Escobar,
Clayton Espinola Correa,
Sérgio Augusto Monteiro Pinheiro,
Isaac Duarte de Barros Junior,
Melissa Nunes Romero Echeverria,
Arno Knoch, 
Carlos Eduardo Girão de Arruda, 
Adalberto Luiz Reichert, 
Leonardo Menegucci, 
Melissa Murad Soares, 
Leandro José Guerra,
Saulo Roberto Mioto da Costa, 
Anibal Rodrigues Escobar,
Rogério Brandão de Carvalho.

Colaborou Tatyane Gameiro

MÚSICA

Djavan se apresenta neste sábado com show em Campo Grande; ainda há ingressos disponíveis

Embalado por "D Ao Vivo Maceió", álbum lançado no dia 11, Djavan apresenta no Bosque Expo, neste sábado, as canções do novo disco, que cobre quase cinco décadas de carreira; conheça o repertório faixa a faixa

22/04/2024 10h00

Sentido de origem atravessa Djavan: "Fui batizado na capela do farol, Matriz de Santa Rita" Foto: Divulgação/ Gabriela Schmidt / The Music Journal

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“Eu fui batizado na capela do farol, Matriz de Santa Rita, Maceió”, conta Djavan para as 20 mil pessoas que acompanhavam o show gravado na capital alagoana em 31 de março de 2023, que se tornou seu álbum mais recente, lançado no dia 11 deste mês.

O artista de 75 anos apresenta o mesmo repertório de “D Ao Vivo Maceió”, um passeio por 48 anos de carreira, neste sábado, no Bosque Expo, a partir das 22h30min (confira os valores no box).

Djavan finca o pé na origem e aponta de onde veio – o que diz muito do passado, mas mais ainda das escolhas presentes e dos caminhos futuros. Casa, enfim. É esse o sentido que atravessa “D Ao Vivo Maceió”, que documenta a turnê do disco “D” – a inicial do nome do artista, em mais um simbolismo que marca o valor essencial do início.

“Eu tenho um amor profundo e uma gratidão imensa pela minha cidade, por Maceió”, derrama-se o compositor, em conversa em seu estúdio, no Rio.

“Porque foi ali que eu me formei, foi ali que eu conheci tudo que eu precisava para ter uma formação diversa como a minha intuição e o meu espírito gostariam. Ali eu conheci o jazz, o R&B, a música flamenca, a música nordestina, a música do Brasil... Me formatei ali”.

SENSIBILIDADE INDÍGENA

O sentido de “casa” que atravessa o show, porém, não é um só. Porque, para além de sua cidade natal, são muitas as casas, as origens, os lares que Djavan evoca no palco.

A primeira, ainda antes de entrar em cena, fala de nossa essência como povo, pela voz de uma de suas representantes mais ilustres, Sonia Guajajara. Na abertura de “D Ao Vivo Maceió”, ouve-se a líder e ministra dos Povos Indígenas lendo um texto de sua autoria, feito especialmente para a turnê:

“Gritamos e ressoamos o ‘reflorestarmentes’, para que de uma vez por todas o nosso direito à vida seja conquistado, com base na natureza e na ancestralidade”, diz um trecho.

É ainda sobre o eco dessas palavras que Djavan abre o show com “Curumim”. Lançada em 1989, é uma canção de amor feita da perspectiva de um menino indígena, um curumim que entrega tudo à menina amada (“O que era flor/Eu já catei pra dar/Até meus lápis de cor/Eu já dei/G.I. Joe, já dei/O que se pensar/Eu já dei/Minhas conchas do mar”) e se angustia com o fato de não ser correspondido.

“Escrevi ‘Curumim’ depois de ter ficado muito impressionado quando vi na televisão uns meninos indígenas brincando com esses bonequinhos G.I. Joe [lançados no Brasil como Comandos em Ação]”, conta Djavan, que dedica o show aos indígenas e a todas as minorias do Brasil.

“Você vê a infiltração de outras culturas ali, como isso pode matar a cultura indígena. E eu trago na letra, para sedimentar essa questão, o nome de várias etnias. Nomes belíssimos, sonoros, musicais. Assim como a expressão ‘G.I. Joe’ também me pareceu, ali, extremamente musical”.

A fala nos lembra que, para Djavan, a casa é também a música – esteja ela guardada nos sons de txucarramãe ou de G.I. Joe.

O compositor nota que o lápis de cor, o G.I.Joe, as conchas são na verdade apenas representações da sedução – “algo que é inerente a qualquer povo, a qualquer civilização”, reflete.

“Estou tentando dizer, portanto, que os indígenas somos nós. Quando falo dos indígenas, das minorias, estou falando também de mim”, diz o compositor, que já em segundo disco, de 1978, trazia uma canção sobre o tema, “Cara de Índio”.

MÚSICOS E ESSÊNCIAS

Como pode ser visto nos palcos e no registro audiovisual, ao longo de todo o show, o telão projeta imagens de artistas indígenas e periféricos, na cenografia assinada por Gringo Cardia. Desenvolvido por Marina Franco, em parceria com o estilista convidado Lucas Leão, o figurino de Djavan – uma elegância ao mesmo tempo crua e futurista, ancestral e moderna, marcada por tons terra – dialoga com o cenário, assim como com a luz de Césio Lima, Mari Pitta e Serginho Almeida.

Produção esmerada que compensa a espera: gravado em 31 de março de 2023, “D Ao Vivo Maceió” ganha as ruas 10 anos depois do registro audiovisual anterior de Djavan, o “Rua dos Amores ao Vivo”.

Depois de “Curumim”, o roteiro prossegue com “Boa noite”, lançada em 1992 – o show reúne músicas que vão desde seu primeiro disco até “D”, de 2022, em um panorama amplo de sua carreira. Já nos primeiros versos, Djavan brinca com a ideia do engano de quem se acha dominador.

No caso, na dinâmica de um casal no jogo da sedução, mas que pode ser estendido à arrogância do colonizador que toma a terra que não é dele: “Meu ar de dominador/Dizia que eu ia ser seu dono/E nessa eu dancei”.

Outras essências de Djavan são tocadas ali (“Ainda Bem que Eu Sou Flamengo”, que ele trata na canção como um modo de lidar com o sofrimento e seu propósito).

E já se amplia no groove tão irresistível quanto surpreendente de “Boa Noite” uma percepção que “Curumim” já anunciava: de como o artista tem uma linguagem musical sedimentada e, mais do que isso, como ela é amparada por sua banda.

Estão no palco com o cantor instrumentistas que já estiveram com ele em diferentes momentos, que aprenderam a entendê-lo e ajudaram a dar forma ao que hoje se entende como a “assinatura Djavan”.

“Desde sempre tenho uma percepção musical diferente. Minha, né? Pessoal. E ninguém é obrigado a tê-la”, explica o artista.

“Mas uma coisa que Deus me deu, que é muito importante para mim, é saber pedir, fazer com que o sujeito embarque na minha e se sinta confortável com isso. Os músicos que estão comigo hoje já passaram por esse processo várias vezes. ‘Curumim’, por exemplo, Nossa Senhora! Ela tem uma divisão inusual, estranha para quem não está naquilo. Esses mesmos músicos de hoje relembram, toda vez que a gente vai tocar ‘Curumim’, a dificuldade que era. Mas hoje eles sabem”.

Os “músicos de hoje” a que Djavan se refere são Paulo Calasans (piano e teclado), Marcelo Martins (saxofone e flauta), Marcelo Mariano (baixo), Renato Fonseca (teclado), João Castilho (guitarra, violão e ukulele), Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn) e Felipe Alves (bateria).

São eles que temperam o balanço bluesy de “Desandou” (do álbum “Matizes”, de 2007), gingam com graça e malícia no medley de sambas djavânicos que une “Limão” (1994), “Avião” (1989) e “Flor de Lis” (1976), incendeiam o baile caribenho de “Tanta Saudade” (parceria de Djavan e Chico Buarque de 1983) – apenas para citar alguns momentos do show.

INFLUÊNCIA MOURA

Retomando a sequência de “D Ao Vivo Maceió”: depois de “Boa noite”, Djavan segue mapeando sua casa em “Sevilhando”, do álbum “D”. O compositor cria o verbo do título para descrever seu movimento por suas raízes espalhadas pelo mundo: “Sevilha plantou/Na Alagoas nata/Um fiel servidor”.

“A influência moura, que grassa em Maceió, em Alagoas, no Nordeste, está em mim muito fortemente. Em ‘Sevilhando’, trouxe a ligação que há entre a música negra e a música da Andaluzia”, explica Djavan.

“Quando eu estive em Sevilha pela primeira vez, senti uma emoção fortíssima. Entrei naquelas vielas medievais e senti um cheiro que era uma coisa louca, um cheiro que estava dentro de mim, que eu nunca tinha sentido, mas eu sabia que aquele cheiro era meu, era da minha vida, da minha ancestralidade. Sentei no meio-fio e comecei a chorar”.

“Te devoro” (1998), “Dou-não-dou” (1987) e “Outono” (1992) exploram, cada uma à sua maneira, os cômodos de outra das casas de Djavan – a casa do desejo.

O desejo que sobrevive à chuva e ao frio em “Te Devoro”, que se manifesta na fera ronronando com doçura em “Dou-não-dou” e na boca que beija bem em “Outono”.

O som do acordeão do sertão sobre o relevo lindamente acidentado da música de Djavan chamam de novo para o Nordeste em “Seca” (1996). A canção nos encaminha para o já citado medley de sambas – gênero no qual, desde seu primeiro disco, o músico soube instalar seu lar.

Outra do álbum “D”, “Um Mundo de Paz” projeta com suingue a ideia de um futuro melhor para o amor – Djavan só acredita em utopias que dançam.

No esperado momento voz e violão do show, Djavan canta “Ventos do Norte” (1976), “Meu Bem Querer” (1980), “Alagoas” (1978) e “Oceano” (1989).

Presente em seu disco de estreia, “Ventos do Norte” é retomada pela primeira vez no palco – Djavan a tocou só na época do lançamento. “Alagoas” também é outra que há décadas não fazia parte de suas apresentações ao vivo.

RARIDADES

O show traz outras novidades no roteiro. “Tanta Saudade”, lançada na trilha do filme “Para Viver Um Grande Amor” (1983), é incorporada na discografia do Djavan pela primeira vez em sua concepção original – antes, ela estava só em uma versão remix no álbum “Na Pista, Etc.”, de 2005.

“Dou-Não-Dou” nunca havia sido levada ao palco. É o mesmo caso de “Você É”, do álbum “Bicho Solto” (1998), a qual, como nota Djavan, também trata de sua origem, identidade, casa: “Na letra, falo do negro, do árabe e do indígena. Eu me considero um misto dessas três entidades”.

Após o momento voz e violão, a banda retoma o palco com “Iluminado”, que Djavan gravou no disco “D” com seus filhos e netos. No show, sua família se expande para a banda e plateia, que canta junto e ergue as luzes de seus celulares.

A já citada “Desandou” antecede “Tenha Calma/Sem Você” (Djavan gravou sua canção e a de Tom Jobim e Vinicius de Moraes juntas dessa forma no álbum “Malásia”, de 1996).

Gravada nos Estados Unidos, “Luz” (1982) sinaliza outra ampliação da casa da música de Djavan para além das fronteiras brasileiras – e em paralelo marca a certeza do artista de pertencimento ao seu chão.

“Nessa época a Sony queria que eu fosse morar nos Estados Unidos”, ressalta o artista.

“Sempre tive isso como um sonho. Chegava a ter dúvida de se não seria melhor para mim se eu tivesse nascido nos Estados Unidos. Mas quando isso ficou prestes a ser concretizado, a primeira coisa que me veio na cabeça foi o seguinte: como é que eu vou criar com outros elementos que não os do Brasil, a cultura brasileira, as cidades, os lugares, os dizeres, as amarguras, as benesses, tudo que o Brasil pode oferecer? Viver em dólar não pagaria eu me apartar da minha cultura. Fiquei aqui. Foi a decisão mais acertada que eu tomei na vida”, frisa.

GRAND FINALE

“Tanta Saudade” abre espaço para “Asa” (1986), aproximando em sua letra o deus grego Zeus e o primeiro deputado federal indígena Mário Juruna – céu e chão. 

No meio da canção, em diferentes momentos, Djavan saúda ainda a lua e o Centro Sportivo Alagoano (CSA), clube de Maceió – céu e chão.

“Se” (1992), sua música mais executada nas plataformas, é seguida de “Você É”, que prepara o terreno para a reta final explosiva do show.

“Samurai” e “Sina” – ambas do álbum “Luz”, de 1982 – se mostram tão novas e infalíveis como quando foram lançadas.

Em ambas, os metais brilham como que assinando sua importância central ao longo de todo o espetáculo. No solo de Maceió, no palco armado à beira-mar, o verso “como querer djvanear o que há de bom” parece fazer ainda mais sentido.

Indo do romantismo à catarse, o bis com “Pétala” (1982) e “Lilás” (1984) cumpre seu papel de arremate preciso.

“Você já imaginou fazer um bis e matar o que você acabou de apresentar?”, pergunta Djavan, abastecido de sua experiência e sabedoria na comunicação com o público.

“O bis é determinante para fazer com que as pessoas vão para casa com a certeza de que acabaram de ver um grande show”, crava.

Iluminadas, enfim. Djavan, afinal, conhece a importância do movimento da volta para casa.

SERVIÇO 

AINDA HÁ INGRESSOS DISPONÍVEIS

As mesas fechadas para oito pessoas com open bar (água, refrigerante e cerveja com mix de castanhas e frutas secas) custam: 

  • setor A (amarelas), R$ 4.600; 
  • setor B (vermelhas), R$ 4.200; 
  • setor C (azuis), R$ 3.600. 

Os ingressos individuais em mesas compartilhadas com open bar variam de R$ 575 a R$ 340.

O bistrô para quatro pessoas com open bar (sem o mix de castanhas e frutas secas) custa R$ 1.400.

Para a área vip com open bar (sem o mix de castanhas e frutas secas), o ingresso individual custa de R$ 230 a R$ 175 para o terceiro lote.

A produção local informa que as arquibancadas são “simplesmente um plus para o público de área vip, uma área para descanso”, que não acomoda ao mesmo tempo todo o público do referido setor.

Os ingressos estão disponíveis no estande do Comper Jardim dos Estados ou pela internet: www.pedrosilvapromocoes.com.br

Mais informações: (67) 99296-6565 (WhatsApp).

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