A cada geração uma evolução. Durante anos, um pai ter uma presença mais participativa no cotidiano dos filhos era raridade.
A paternidade nos séculos passados não incluía trocar fraldas, preparar o leite quente e nem saber o número do pediatra: a obrigação do pai era prover o lar e, normalmente, trabalhar fora de casa.
Porém, com a modernidade e as mudanças nas relações pessoais e de trabalho – com a mulher assumindo novas responsabilidades – caminhos diferentes foram abertos.
Atualmente é possível acompanhar pais mais próximos de seus filhos, na chamada paternidade ativa, que vai muito além de simplesmente prover a “ordem” financeira da casa. Os pais estão cada vez mais atuantes na criação dos filhos, tomando a frente e realizando os afazeres que antes eram apenas destinados às mães.
O jornalista Ludyney Moura, 37 anos, é um defensor da paternidade consciente. Há quatro anos, ele se tornou pai de Manuela, e há dois, de Caio. Em seu perfil do Instagram (@paternidade_no_caminho), ele se autodenomina um descobridor da “paternidade ativa”.
“Acho que paternidade consciente, ou paternidade ativa, é o simples entendimento masculino da responsabilidade de se criar um filho. Não deveria ser algo tão ‘fora do normal’, como infelizmente ainda é, em uma sociedade tão carregada de machismo, extremismo e fundamentalismo. Todo pai deveria simplesmente agir tendo em mente que sua maior responsabilidade no mundo são seus filhos, e o resto seria apenas consequência”, enfatiza.
Ludyney afirma que todo processo de criação dos filhos deve ser compartilhado. “Alimentar, cuidar, limpar, criar, ensinar, mostrar como se faz, tudo isso faz parte de um lindo e contínuo processo de aprendizado, que é enriquecedor e transformador para pais e filhos”, explica o jornalista, que é casado com a fisioterapeuta Rafaela Monteiro.
Sobre o machismo, Ludyney explica que ainda há muito a se fazer e diz que já chegou a ser expulso do único banheiro onde havia trocador em um restaurante, que era o feminino.
“Por que isso? Porque o mundo acha que trocar fraldas é papel da mulher. Não é! Eu me conecto com meus filhos quando troco fralda, quando dou comida, quando dou banho. E isso gera uma onda de amor que só alimenta o que há de bom”, afirma.
Pai a distância
A pandemia do coronavírus foi, sem querer, positiva para o professor, músico e artista visual Anédio Izumi, 33 anos.
Ele é pai da pequena Lua, 4 anos, que mora com a mãe em outra cidade. Com a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), ele pôde trazer a filha para perto.
“A Lua não teve aula, e consegui trazê-la para ficar dois meses comigo, foi um combinado com a mãe e deu certo, firmamos ainda mais nosso elo. Mas a partida é cruel, a casa fica vazia depois”, frisa.
Separado há um ano e meio, Anédio diz que a paternidade ativa a distância é um pouco complicada, uma vez que são duas casas, portanto, dois combinados diferentes, entre pai e filha e entre mãe e filha.
“Nem sempre concordamos, mas confio na minha ex-companheira e sei que temos minimamente os mesmos princípios para criar nossa filha e estamos tentando aprender com isso e dialogar quando surge alguma demanda”, pontua.
Sobre como ser um pai presente, o músico afirma que a proximidade física é fundamental e que tenta, diariamente, suprir essa falta.
“A presença é fundamental, e como não me resta outra saída, consigo manter minha paternidade ativa por meio de videochamada e faço o possível para estar perto sempre. Procuro respeitar a vontade da minha filha, sem forçar nada: quando ela quer brincar, eu brinco, converso, conto historinha, cozinhamos juntos – ela ama pintar. Nesse tempo, mesmo virtualmente, eu tento saber mais dela, dar conselhos quando acho que devo. Tem sido assim”, afirma.
Filhos e amor
Assim como para a mãe, a paternidade ativa anda aliada ao amor incondicional.
O amor é que rege o andamento do aprendizado entre pai e filho, seja presencialmente, como no caso do jornalista Ludyney, ou a distância, como no caso do professor Anédio.
Quando a paternidade é respeitosa e digna de cuidados, ela é verdadeira e consciente.
“Meus filhos me tornaram outra pessoa. Me apresentaram um mundo onde o amor é, sem dúvidas, o sentimento responsável por gerir a existência ao meu redor”, reflete Ludyney.