A história da peça “Jacy”, do Grupo Carmin, é cheia de coincidências. A primeira delas começa em março de 2010, quando o ator, diretor e dramaturgo Henrique Fontes encontrou uma frasqueira antiga, abandonada na esquina de uma das principais avenidas de Natal, no Rio Grande do Norte. “Eu saí andando da casa dos meus pais e cheguei a uma avenida bem movimentada, quando bem no lixo estava aquele objeto; no meio de tantas coisas, a frasqueira me chamou atenção”, explica Fontes.
Dentro da frasqueira, havia documentos e outros objetos da personagem que se tornaria protagonista do espetáculo “Jacy”, que estreia em Campo Grande, nos dias 3 e 4 de outubro, com sessão às 20 horas, no Teatro Glauce Rocha.
A peça estreou em 2013, foi premiada e passou por 18 estados, sendo essa a primeira vez que é encenada em Campo Grande. “A partir do momento que eu encontrei a frasqueira, iniciei uma busca pela história dela, uma pesquisa minuciosa. O motivo de ela ter parado no lixo foi que a proprietária havia morrido. A peça é construída poresse relato, pelo fato de eu ter encontrado a frasqueira e o que desencadeou todo esse processo”, explica Fontes.
“Jacy” conta a história real de uma mulher de noventa anos, que teve uma vida extraordinária. A mulher aparentemente comum atravessou a 2ª Guerra Mundial, a ditadura no Brasil, esteve no centro de um importante conflito da política no Rio Grande do Norte, viveu um amor estrangeiro e terminou seus dias sozinha em Natal. “Essa peça é resultado de uma série de coincidências, de uma força divina, que talvez tenha vindo da própria Jacy. Uma das coisas que eu queria na época era falar sobre a velhice, eu estava pesquisando sobre o tema”, ressalta Fontes.
Segundo o diretor, na época um experimento de um artista que retratou o próprio envelhecimento em dez anos tinha feito sucesso nas redes. “Fiquei refletindo como fazer algo semelhante no teatro”, indica.
Para Fontes, a situação dos idosos sempre foi um tema delicado no Brasil, que precisa olhar com mais sensibilidade para essa época da vida. “A Jacy revela um pouco sobre como os idosos são tratados no País, não só no Brasil como em todo o mundo. Falta uma política pública e mesmo uma reflexão cultural sobre o amparo a essa faixa etária. As pessoas precisam parar de pensar nos idosos como um fardo e muitas famílias têm dificuldade com isso”, acredita.
Com textos dos filósofos Pablo Capistrano e Iracema Macedo, “Jacy” revela fatos sobre o abandono, a política oligárquica e o crescimento desenfreado das cidades brasileiras.
“Tem sido uma turnê muito bonita. Nós estreamos em 2013 e fizemos uma turnê grande em 2016, que foi a nossa maior circulação, percorremos 18 estados, mas nunca tínhamos vindo a Mato Grosso do Sul”, indica.
Para ele, apesar das diferenças culturais entre os estados do País, ainda há muitas semelhanças na forma de agir dos brasileiros. “Toda a questão que eu falei do envelhecimento é uma questão nacional. Há muito descaso e muito abandono”, frisa.
A peça tem patrocínio do Ministério da Cidadania e da BR Distribuidora. A entrada é gratuita e os ingressos serão distribuídos 1h antes do início do espetáculo. O Teatro Glauce Rocha fica no campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).