O coreógrafo, diretor e ator Jair Damasceno tem uma história longa com os palcos de Campo Grande. Há 47 anos ele se mantém em cena, buscando novas formas de compreender e apresentar o teatro para o público da cidade. Sua mais nova produção, Ensaio sobre a Lua, caminha pelo metateatro utilizando textos de Matéi Visniec, Nelson Rodrigues, Plínio Marcos, Thomas Bernhard e Fernando Pessoa como inspiração. As apresentações do espetáculo serão de 18 a 21 deste mês, às 20 horas, na sede do Circo do Mato.
“No metateatro você fala do teatro dentro da peça de teatro”, simplifica Jair. O espetáculo é uma imersão do trabalho do ator, que desta vez não se vestirá de outra persona durante a peça. “Não há nomes fictícios em cena. As personagens são os próprios atores, fazemos uso dos nossos próprios nomes. E, em cada um dos quatro dias, o elenco não terá figurino específico, virá com a roupa de casa, o que usa no dia a dia de ensaio, aquilo que tiver vontade”, explica.
O elenco é formado pelos atores Yan Gabriel, Nathália Andrade e o próprio diretor da peça, Jair Damasceno. A sonoplastia é executada ao vivo por Ewerton Goulart e a operação da luz está a cargo de Lana Figueiró, Yuri Tavares e Léo Reinalt. O espetáculo, que também terá intérprete de libras, recebeu investimentos do Programa de Fomento ao Teatro (Fomteatro 2018), por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur).
“Digo que é no ensaio que eu encontro o teatro, e não exclusivamente no palco. A apresentação é o produto, daí a proposta de trazer o metateatro, deixar que as coisas fluam no terreno da teatralidade aos olhos do público”, afirma Damasceno. Segundo o diretor, a proposta também sacia um desejo do espectador de conhecer o processo de construção de uma peça teatral. “As pessoas sempre ficam curiosas de como ocorre a construção da peça, porque uma cena é grande, tem eloquência, dramaticidade, como que isso acontece, quero mostrar um pouco esse processo”, diz.
Ensaio
Jair explica que, apesar do nome, a lua não é a grande protagonista da história. “Na verdade, nós apresentamos como é o ensaio de uma peça de teatro, por exemplo, Hamlet, de Shakespeare, é um metateatro, em que o espectador acompanha como é a construção daquela personagem, tem toda a história envolvendo a personagem. Nessa peça tem um pouco da minha vivência sobre o teatro e a lua é outra metáfora, representa o fato de que na linguagem teatral podemos falar sobre qualquer coisa, sobre uma formiga, a lua, as pessoas, as guerras, assim como para Manoel de Barros tudo era material para a poesia, o teatro também tem isso”, ressalta.
Para Jair, o encantamento que o homem tem pela lua faz com que ela seja o objeto perfeito para a manutenção do lúdico no espetáculo.
Outro ponto interessante do espetáculo é que a peça não utiliza energia elétrica durante toda a sua encenação. “Nós usamos lanternas de LED e elas não iluminam o palco, a iluminação é em grande parte do corpo dos atores”, indica.
Essa característica é uma das assinaturas do diretor nos últimos oito anos. “Faz parte da minha pesquisa, da minha estética, eu não uso aparelhos elétricos em cena, não ligo nada na tomada, isso também se estende ao músico, que faz a apresentação ao vivo, com um saxofone e outro instrumento”, indica