Antes de estrear, o remake de “Éramos Seis” já dava sinais de que seria uma aposta certeira da Globo para a faixa das 18 horas. Até pelo fato de ser a quinta adaptação para a tevê do romance de Maria José Dupré, ou seja, a história já tinha sido bem-sucedida quatro vezes, em décadas totalmente diferentes. Mas quando se falava na trama, o assunto era quase sempre a família Lemos e a saga de Lola, personagem de Gloria Pires na atual versão, mãe de família dedicada e que precisa lidar com algumas perdas e frustrações. Hoje, porém, fica muito nítido um dos principais pontos a favor do projeto: seus personagens paralelos, que têm histórias próprias e acabam se destacando tanto quanto os protagonistas da novela.

Não é preciso fugir muito da família Lemos para perceber isso. As próprias irmãs de Lola, por exemplo, têm uma força dramatúrgica imensa no folhetim. Olga, vivida por Maria Eduarda de Carvalho, é um dos personagens mais cômicos da história. Sua trajetória romântica com Zeca, papel de Eduardo Sterblitch, funciona quase que como uma série dentro à parte, dentro da novela. Aliás, a escolha de Eduardo para o papel foi uma grata surpresa. O rapaz é um velho conhecido da tevê, com experiências em programas como o “Pânico”, na Rede TV! e na Band, “Amor & Sexo”, na Globo, e “Shippados”, no Globoplay, entre outros. Porém, no que diz respeito às novelas, debuta com uma atuação que chama atenção e que mostra um humor diferente de todos que ele já fez na televisão.
Além deles, mas com uma dose maior de drama, Clotilde e Almeida, personagens de Simone Spoladore e Ricardo Pereira, garantem o romance proibido típico de muito projetos da faixa das 18 horas da emissora. Simone, em seu retorno à Globo, depois de 13 anos fora, mostra uma maturidade que impressiona. Na maioria das vezes, é justamente nas cenas em que a personagem menos fala que sua presença é mais marcante. O ator português, cada vez mais brasileiro, não fica atrás. Apesar de ter ainda uma função clara de ser o melhor amigo do patriarca Júlio, de Antonio Calloni, sabe valorizar suas sequências românticas. Atualmente, aliás, os dois são os personagens que mais se aproximam da condição de mocinho e mocinha da novela. Mesmo que o conflito se resuma a um desquite dele, o que impede um casamento entre o casal na sociedade conservadora da década de 1920.
Uma história de época não é novidade entre as novelas das 18h da Globo. Mas é nítido um capricho especial na construção da cidade cenográfica e nos detalhes de direção de arte de “Éramos Seis”. Todo esse cuidado transformou a própria cidade de São Paulo retratada ali e até o casarão da família Lemos em personagens à parte na trama. Difícil não se encantar e não se envolver pela história, que vem conquistando boa média de 21 pontos de audiência. Nem mesmo um ou outro momento de “déjà vü”, algo comum diante de tantos remakes, consegue atrapalhar.