De xodó com a terra natal, Bernadete Piassa autografa "Polca Paraguaia" amanhã na Cidade Branca e na terça-feira em Campo Grande; festa literária também movimenta Corumbá até o dia 26
“Quando vim da minha terra, não vim, perdi-me no espaço, na ilusão de ter saído. Ai de mim, nunca saí”. São esses versos de Carlos Drummond de Andrade, do poema “A Ilusão do Migrante”, que a sul-mato-grossense Bernadete Piassa usa para definir sua relação com sua terra natal, Corumbá.
Após 38 anos morando fora do Brasil, ela volta a Mato Grosso do Sul para lançar seu primeiro livro, “Polca Paraguaia”, que se passa no Pantanal e por meio do qual ela rememora lembranças vívidas da infância por lá.
Os eventos de lançamento serão realizados amanhã, em Corumbá, a partir das 18h, no Museu Casa Dr. Gabi, e na terça-feira, em Campo Grande, a partir das 19h, na Livraria Leitura.
“Seu coração nunca se esquece de seu lugar de origem. Você pode viajar, mas aquilo que ficou em você da sua infância tem um impacto muito profundo.
Aquela Corumbá que ficou na minha lembrança existe para mim muito forte. A partir do momento que você fica mais velha, você se volta para o passado, então mais do que nunca as lembranças se fazem presentes”, define a autora.
O PRIMEIRO
Jornalista, formada pela Fundação Casper Líbero (SP), Bernadete trabalhou na Folha de S. Paulo, no Estadão e na Editora Abril, onde atuou como editora da Capricho e outras revistas. “Globetrotter” do mundo e do Brasil, Bernadete já morou, além de São Paulo, no Rio de Janeiro, em Paris e Lyon, na França, e em várias outras localidades dos EUA, como Nova York.
A paixão por livros e obras contemporâneas de destaque, como “Leite Derramado” (2009), de Chico Buarque, estão entre os temas que já abordou.
A autora assina contos e crônicas publicadas em revistas e livros didáticos norte-americanos, alguns deles, inclusive, ganharam tradução e publicação em países asiáticos e europeus.
No entanto, é aos 70 anos, e acumulando décadas de carreira como literata, que realiza o “sonho muito antigo” do primeiro livro in totum, o romance “Polca Paraguaia”, que traz o selo da Life Editora.
RIO DE HISTÓRIAS
“Escrevo praticamente desde que nasci, mas alguns percalços da vida me levaram a abandonar a escrita por quase 20 anos. Agora resolvi voltar a escrever e pensei: antes tarde do que nunca, vou publicar este romance”, conta Bernadete Piassa.
A escritora ambienta seu romance entre a Cidade Branca e os EUA, onde moram dois personagens importantes da história: Ted e Anna.
Segundo Bernadete, a obra é “permeada por lendas, pela mitologia de Corumbá e pelas tradições da cidade”. De volta à sua cidade após sete anos, ela explica por que decidiu lançar o livro primeiramente por lá.
“É muito importante para mim [que seja em Corumbá]. Se eu quisesse, podia lançar o livro nos EUA, no Rio, mas não seria como lançar em Corumbá, com o Rio Paraguai, que aparece muito no romance, de onde surgem as histórias. É uma emoção, e também uma honra, ter essa oportunidade de mostrar como eu vi Corumbá em uma outra época e como, mesmo tendo morado em tantos lugares, ainda a acho tão especial”, revela a escritora.
A escolha do local do lançamento, a Casa Dr. Gabi, também tem um significado. Atualmente funcionando como um museu, a casa fez parte da infância da autora. “Eu morava lá perto quando era criança, então, poder voltar e fazer esse lançamento naquele casarão pelo qual passei tantas vezes é muito emocionante”, afirma.
ABRIL LIVRO
Até o dia 26, a Biblioteca CEU Heloísa Urt, em Corumbá, recebe a festa literária: Abril Livro, realizada anualmente desde 2015, reunindo leitores de todas as idades.
É um evento em alusão às datas comemorativas deste mês relacionadas ao livro e à literatura. Este ano estarão presentes os contadores de história: Patrícia Guimarães, Leonardo Oliveira, Emilly Rodrigues, Nilva Moura, Dilson Esquer, Cristine Wutzke, Miroca e Neidoca.
Além de Bernadete Piassa, o bate-papo com os autores terá como convidados: Tarissa Marques (“Elenita e os Segredos da Colina”); Juliana Cláudia Amorim (“Ju-Ju-Judite – A Girafa Gaga”); André Vinicius do Carmo Passos e Eric Santiago Braga dos Santos (“O Livro das Palavras Brincantes”); e Anna Lucia Dichoff (“O Rio Taquari e a Lua”).
A Mostra Difusão também integra a programação. Trata-se de uma das atrações da 13ª Mostra Cinema e Direitos Humanos, que, entre 25 de março e 24 de abril, apresenta 18 filmes. A mostra é realizada pelo Ministério da Cultura (Minc) e o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), com produção do Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Outra novidade é o projeto Transvê Poesias. A biblioteca será um representante local da intervenção literária. O nome do projeto surgiu a partir do verso citado do poeta Manoel de Barros: “O olho vê, a lembrança revê e a imaginação transvê… É preciso transver o mundo”.
A intervenção literária foca na reutilização de garrafas e jornais, levando poesia e incentivando a leitura. As garrafas poéticas ornamentam espaços públicos como praças, postes e árvores, dando um novo olhar e vida a esses locais.
O projeto surgiu em abril de 2014 e, com 9 anos, soma em seu histórico mais de 25.210 garrafas poéticas espalhadas pelo Brasil e em outros 6 países, gratuitamente. Até o presente momento, foram 255 intervenções poéticas, que aconteceram nas 27 unidades federativas brasileiras, distribuídas por 112 cidades.
SERVIÇO
“Polca Paraguaia”
Escrito por Bernadete Piassa, publicado pela Life Editora, será lançado amanhã, em Corumbá, a partir das 18h, no Museu Casa Dr. Gabi (R. Cuiabá, nº 1.181, Centro), e na terça-feira, em Campo Grande, a partir das 19h, na Livraria Leitura (Av. Afonso Pena, nº 4.909, Bairro Santa Fé). Entrada gratuita.
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