Com mais de 2 milhões de visualizações em um vídeo no aplicativo Tik Tok, o psicólogo douradense Renisson Costa Araújo, 29 anos, não sabe muito bem a que atribuir o sucesso. O primeiro impulso foi um vídeo sobre experimentos interessantes da psicologia, que o fez ganhar milhares de seguidores do dia para a noite, mas o que o consolidou, com certeza, foi a amizade inusitada com um pássaro – que posteriormente ganhou o nome de Pru – resgatado ainda filhote, sem nem saber a espécie correta.
“Eu achei no início que fosse uma pomba, depois uma rolinha. Porém, tem um garoto aqui da cidade que faz biologia e ele foi me explicando essa questão. O Pru é um avoante e eu nem sabia que existia esse pássaro”, explica Renisson. Da espécie Zenaida auricula, o pássaro pode ser chamado de avoante e de pomba campestre. “Diz que é um dos pássaro mais populares e mais comuns do Brasil, ele costuma botar muitos ovos e meio de qualquer jeito. Não é uma espécie que cuida muito do ninho, eu acho que foi isso que aconteceu com o Pru, porque ele estava muito judiado quando eu o encontrei. Acredito que tenha caído do ninho”, explica.
Na época, o passarinho estava com poucas penas e precisou ser alimentado com alimentação específica por meio de uma seringa. A dedicação de Renisson em fazer o passarinho melhorar acabou resultando em mais seguidores e, principalmente, engajamento.
“Eu achei bacana porque gera uma identificação muito grande com outras pessoas. É legal a psicologia, mas muitos querem saber se ele está bem, se melhorou. Esses tempos um dos meus cachorros atacou ele, o Pru se machucou e depois eu postei o que tinha acontecido. As pessoas ficaram tão preocupadas que foram até o perfil da minha esposa para perguntar se ele estava bem, porque eu não respondia. O engajamento cresceu muito com ele”, frisa.
Na lista dos vídeos mais curtidos também há aqueles em que Renisson mostra como conseguiu treinar o passarinho a voar até seu ombro e não fugir de casa. “Eu já tinha tido um outro pássaro, uma maritaca, que também fui ensinando. Eu usei a mesma lógica com ele. A diferença é que a maritaca já tinha as penas e o Pru eu encontrei bem pequeno, com as penas começando a nascer”, frisa.
Tirando os ensinamentos, Renisson não fez mais nenhuma mudança. O pássaro é livre para passear e voltar quando quiser e se desejar. “Se ele quiser ir embora, ele vai. Ele fica em casa, na sacada, onde tem muita planta, tem até uma parte que vem beija-flor. Tanto que as duas vezes que o Pru foi embora, porque ele passa pela tela de proteção, eu tinha certeza que ele nunca mais voltaria. Fiquei preocupado, não sabia se ele conseguiria comer, desci no prédio e chamei ele. Nem acreditei quando ele veio no meu ombro. Trouxe de volta para casa, para a sacada, e ele ficou. Depois, ele fez isso outra vez e foi a mesma coisa. Eu desci, chamei e ele apareceu”, pontua.
Psicologia
Apesar de a amizade entre os dois ser o charme do perfil, o que resultou no número grande de seguidores foi o conteúdo psicológico. O vídeo de Renisson, que segue a linha da psicanálise, viralizou ao abordar a pandemia. Na publicação, ele comparava um experimento de Solomon Asch de 1950 com o porquê de as pessoas não ligarem para o isolamento social, tão necessário para evitar o contágio do novo coronavírus.
Segundo o psicólogo, o efeito da conformidade social explicaria a influência que a opinião dos outros tem para a sociedade. No vídeo, Renisson usa efeitos e outros artifícios populares no Tik Tok, mais próximos do humor, e tudo em 59 segundos. Acabou viralizando com 2 milhões de visualizações.
Com a repercussão, Renisson pulou dos 80 seguidores para os 115 mil, sempre abordando temas importantes como depressão, suicídio, experimentos psicológicos e tirando dúvidas que os internautas enviam. O sucesso acabou respingando também no Instagram, em que ele tem atualmente 28 mil seguidores, menos do que no concorrente.
Até chegar nesse modelo, ele confessa que demorou um pouco. “Já há algum tempo eu estava fazendo uns vídeos para o Instagram, por volta de 2017 e 2016, não lembro exatamente. Na época não tinha nem stories. Eu publiquei durante anos os conteúdos e eram vídeos e publicações diferentes das que eu faço para o Tik Tok, mais longas também”, conta.
De um ano para cá, Renisson não parava de perder seguidores na rede social, mas mesmo assim ainda não tinha cedido à plataforma concorrente. “Eu tinha um paciente que chegou a comentar comigo sobre o Tik Tok e eu achei que era algo teen, voltado para adolescentes. Foi na pandemia que essa concepção começou a mudar. Fiquei enjoado de todas as propagandas do Instagram e das lives e acabei baixando para ver como era”, frisa. A curiosidade acabou levando o psicólogo a produzir conteúdo na rede social. “Fui fuçar e resolvi fazer alguns vídeos, percebi que a empregabilidade da plataforma é diferente e como o Tik Tok está entregando muito mais. Gravei alguns vídeos – teve esse do experimento que viralizou – e logo depois encontrei o Pru caído”, pontua.
Na plataforma, Renisson percebeu que o espectador não quer vídeos longos e complexos sobre um determinado assunto. “Eu sempre quis ser entendido e acessível. Não fazia sentido produzir conteúdo se não fosse para ser de fácil compreensão. Talvez para a pessoa se interessar pelo assunto atualmente, tem que ser mais enxuto e mais rápido”, pontua.