Veteranos e novos nomes das artes visuais dão o seu testemunho criativo sobre o tão vasto e abstrato mundo dos sentimentos, empregando uma diversidade de técnicas e procedimentos, no conjunto de obras apresentado pelo Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul (Marco) em sua quarta e última temporada de exposições deste ano, que foi inaugurada na noite de ontem e permanece em cartaz, com entrada franca, até 12 de fevereiro de 2023.
São quatro mostras, duas individuais – assinadas por Wendel Fontes (Campo Grande – MS) e Fabiana Silveira (Campo Grande – MS/Girona – Espanha) – e duas coletivas – “Retrato Falado”, um recorte do acervo do Marco, e “Casa Nova!”, que consiste em uma seleção de parte das 50 obras doadas pelo Itaú Cultural para o museu em 2022.
As duas últimas integram a celebração pelos 20 anos da sede do Marco, no Parque das Nações Indígenas.
PROPOSTAS
O trabalho do artista visual Wendel Fontes apresenta fotografias e pinturas que criam uma narrativa a respeito da “performance da sobrevivência”: fala da vivência de malabaristas de diferentes nacionalidades (Brasil, Argentina e Chile) que, em seus deslocamentos, passaram pela Capital.
A série “Finitude”, da artista Fabiana Silveira, é um convite visual sobre “a relação do ser humano com a perda”, ou, em outros termos, com uma possível continuidade depois do fim.
Mas trata-se de uma busca que não se estanca na tristeza, “procurando destacar e produzir interpretações que possam trazer consolo e, principalmente, estreitar a barreira que temos de não querer falar sobre o assunto, sobre a morte”, informa o programa da mostra.
Já a coletiva “Retrato Falado” traz uma pequena narrativa a partir das obras do acervo da instituição sobre um hábito recorrente na contemporaneidade: retratos, selfies e postagens frequentes nas redes sociais, como Instagram e Facebook.
“Fazer o uso de selfies e postar no Instagram estaria tão distante da intenção de um dos retratos mais icônicos da arte mundial, a ‘Monalisa’?
Diante disso, o Marco apresenta pinturas do seu acervo no estilo retrato e convida o visitante a partilhar a sua identidade, criar ou reler uma outra, por intermédio dessa mostra”, diz o programa do módulo, do qual participam, entre outros nomes, André Miranda, Deco Costa e Mário Antônio Arrabal.
Com sede em São Paulo, o Itaú Cultural definiu, neste ano, instituições museológicas para receberem obras de arte “com a finalidade específica de integrar o patrimônio, bem como permanecer acessível ao público, contribuindo com os objetivos culturais e de salvaguarda”.
No total, 22 museus de diferentes estados participaram da seleção, e cada instituição recebeu 50 trabalhos.
O lote oferecido a Mato Grosso do Sul inclui gravuras, serigrafias, litografias, pinturas, fotografias, esculturas e colagens assinadas por artistas brasileiros renomados, como Renina Katz, Claudio Tozzi, Milton Dacosta (1915-1988) e Emanoel de Araújo (1940-2022), para citar alguns.
MOTES E SELFIES
Em entrevista ao Correio do Estado, Lúcia Monte Serrat, diretora do Marco, afirma que a grande unidade entre as quatro salas são sentimentos. “Todas elas falam de sentimento de alguma forma”, diz a artista plástica e também professora universitária.
“Na primeira sala, a Fabiana fala dos bons e dos maus sentimentos. Na segunda sala, o Wendel vem com um trabalho bastante representativo, mostrando as aventuras que a gente hoje vive para sobreviver a esses momentos”, apresenta a gestora do museu.
“Temos uma outra sala, a ‘Retrato Falado’, que está falando das faces e das interfaces dessa coisa da selfie, do imediatismo, de como eram registrados os rostos. Então, a gente vai propor algumas atividades ali que podem ser desenvolvidas dessa forma nessa sala”, diz.
“E tem a sala com a mostra de algumas obras que o Itaú nos cedeu que tem muitas questões abstratas, mas que são muito representativas, muito emocionais também. O grande mote desta temporada é a emoção, é o sentimento. Acho que representa esse momento que a gente está vivendo”, resume Lúcia Monte Serrat.
BALANÇO
Para a diretora do museu, a temporada de 2022 foi resultado “de todo um trabalho desenvolvido” em 2020.
“Foi um percurso bastante interessante. Tivemos artistas de todos os tipos de representação, e eu avalio que cumprimos com a nossa missão pós-pandemia, porque a gente ficou tanto tempo fechado, sem a possibilidade de trabalho presidencial. Acho que bem ou mal a gente conseguiu cumprir essa missão pós-pandemia”, comenta.
À exceção das curadorias a partir do próprio acervo ou da que foi proposta a partir da doação do Itaú Cultural, os artistas em cartaz na temporada 2022 foram selecionados em 2019 para expor em 2020. Mas, então, veio a pandemia. Haja sentimento.
Serviço: A 4ª Temporada de Exposições do Museu de Arte Contemporânea fica aberta ao público de 30 de novembro de 2022 a 12 de fevereiro de 2023, sempre com entrada franca. O Marco fica na Rua Antônio Maria Coelho, nº 6000, no Parque das Nações Indígenas.
As visitações podem ser feitas de terça a sexta, das 7h30min às 17h30min. Sábados e domingos das 14h às 18h. Para mais informações e para agendamento de escolas ou grupos para realização de visitas mediadas com as arte-educadoras do programa educativo basta ligar no telefone (67) 3326-7449.