Correio B

40 anos de lida e leads

Tenente japonês Onoda, o ‘‘último dos samurais’’

Ele ficou 30 anos em uma ilha, para cumprir missão, sem saber que a guerra havia terminado

FAUSTO BRITES

14/09/2015 - 08h02
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­­- Você “mexe” com esse negócio de jornal, né? - Perguntou meu amigo Massuki Kanashiro, durante uma conversa numa noite de junho de 1975.
- É. Sou repórter no jornal Correio do Estado.
- Você sabia que na Colônia Jamic mora aquele japonês que viveu 30 anos escondido na selva?
- Como é que é?
- Verdade. Aquele que achou que a guerra não tinha acabado e ficou morando na selva.
- O japonês que entregou a espada para o Ferdinando Marcos, da Filipinas?
- Esse mesmo. Está morando bem perto daqui. Tem uma fazenda lá perto da colônia.

Massuki estava se referindo a Hiroo Onoda, um tenente japonês do Serviço Secreto, que, na Segunda Guerra Mundial, recebera a missão de fazer a contraespionagem. Quando o conflito terminou, ele estava só e ainda  se mantinha “sob as ordens” do seu comandante, ao ser enviado para a missão:  fazer de tudo para derrotar os inimigos e não se entregar em hipótese alguma. Depois de muitas tentativas das pessoas que o procuravam na selva, decidiu pela aproximação. Rendeu-se somente quando ouviu a ordem, em  1972, daquele que havia sido seu comandante, em 1942, para que entregasse às armas.

Os pais de Massuki moravam na Colônia Jamic, no município de Terenos, uma grande produtora de ovos; e, ao visitá-los, tomou conhecimento sobre o ilustre morador. Naquela conversava, ele me dava uma pauta sensacional, uma história magnífica. 

Acompanhado de Massuki e do seu irmão Eiji, que seria nosso intérprete, Hordonês Rodrigues Echeverria, Montezuma Cruz e eu seguimos para Terenos, ao encontro daquele que passamos a denominar entre nós de “o último dos samurais” (alusão à elite guerreira do período feudal do Japão, em que disciplina, lealdade e exímia habilidade com o sabre eram suas características principais).

Chegamos à fazenda. Quem nos recebeu foi Tadao, irmão mais velho de Hiroo Onoda, que apareceu em seguida. O intérprete entrou em ação para as devidas apresentações. A partir daí, passamos a ser tratados como velhos conhecidos.

Como estava acostumado às entrevistas, pois tinha se tornado uma celebridade internacional, percorrendo vários países e contando sua história, Onoda respondia a todas as perguntas com tranquilidade. Entre um gole e outro de chá-verde, ficamos sabendo que sua propriedade tinha 520 hectares – estava ainda sendo desmatada –, em que investiria na pecuária. A área foi comprada três anos depois de ter “se rendido” e deposto as armas. 

Mas por que tinha ficado três décadas escondido na selva? Hiroo Onoda deu um leve sorriso e, com o livro de sua autoria em mãos, “Trinta Anos de Minha Guerra”, contou sua história.    

Eis trechos da reportagem publicada na edição do dia 15 de julho de 1975: “Com o ataque americano no Mar do Sul da China e ignorando que a guerra ia chegando ao fim, Onoda fugiu para as matas da Ilha Lubang – 140 quilômetros de Manilla –, escondendo-se numa região montanhosa de 600 metros de altitude. Dormia no chão e, quando chovia, abrigava-se numa choça de madeira nativa que construiu junto a três companheiros que ali também se refugiavam. Comiam bananas com casca, coco, jaca, mandioca, goiaba e outras frutas.

Quando saqueavam pequenas aldeias em Lubang, Onoda e os três amigos abatiam reses bovina, geralmente de pouco peso. A carne dava para a subsistência durante um ano. Às vezes, tornava-se impossível conseguir bezerros e vacas, e Onoda caçava búfalos e cavalos, transformando-os em carne-seca. Cada animal abatido dava uns 150 ou 200 quilos e carne.

A única preocupação de Onoda foi com seus companheiros, que aos poucos foram desaparecendo: antes do final da guerra, eram quatro. Akatsu, Shimada, Kozuka e Onada, embrenhando-se mata adentro. Cinco anos mais tarde, ficaram três; para, em 1954, o grupo ficar reduzido a Onoda e Aktsu. Onoda ficou sozinho durante um ano e meio. Akatsu partiu em 1971 para o Japão, tão logo descobriu que a guerra havia terminado, por meio de uma carta deixada por desconhecidos (a pedido de familiares), numa caixa, nas proximidades da ilha. Shimada e Kozuka morreram fuzilados, ao tentarem abandonar a ilha, depois de alcançar a costa. Guardando cocos, Onoda sabia o dia da semana e do mês, orientando-se também pela posição da Lua. Ele conseguiu um aparelho de rádio, furtando-o de uma patrulha costeira filipina, embora não pudesse captar datas na emissoras que sintonizava: Londes, Austrália, Moscou, Coreia, China e Japão. Onoda entrou para a ilha munido de um fuzil e um estoque de 400 cartuchos. Agora, em Mato Grosso, utiliza apenas armas leves para duas caçadas. (...). O fuzil que guardou durante longos anos, Onoda entregou ao presidente Ferdinando Marcos, das Filipinas em 1972. (...)”.  

Ele se casou com Machie, que veio do Japão, no Cartório Santos Pereira, em Campo Grande. Voltou para seu país, onde criou uma fundação para atender jovens dependentes químicos. Recebeu o título de Cidadão Sul-Mato-Grossense, pela iniciativa do então deputado Akira Otsubo, em 14 de dezembro de 2004. Faleceu aos 91 anos, em 16 de janeiro de 2014, em Tóquio.

FAKE BABY

A moda do bebê reborn: hobby ou problema de saúde? Como diferenciar?

Os bebês viralizaram nas redes nos últimos meses, impulsionados por vídeos que mostram as rotinas de cuidado de "mães" dedicadas.

15/05/2025 22h00

Bebê reborn

Bebê reborn Divulgação

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Eles têm nome, enxoval, certidão de nascimento e até aparecem em consultas médicas. Os bebês reborn, bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos e custam até R$ 9,5 mil, viralizaram nas redes nos últimos meses, impulsionados por vídeos que mostram as rotinas de cuidado de "mães" dedicadas.

Entre as adeptas, famosas como Britney Spears e Gracyanne Barbosa já surgiram na web embalando ou trocando fraldas de seus "nenéns". Mas, com o sucesso, vieram as críticas, apontando a prática como um sinal de problemas psicológicos. E o que dizem os especialistas?

Para o psicólogo Marcelo Santos, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o primeiro passo para discutir o tema é não julgar ou distribuir diagnósticos. "Não dá para 'patologizar' automaticamente. É importante analisar quais são os contextos e as motivações que estão por trás desses comportamentos".

Afinal de contas, a prática pode trazer benefícios: criação de comunidades, com troca de dicas e experiências; senso de pertencimento e interação social; estímulo criativo e relaxamento. Ela pode até mesmo ser usada com fins terapêuticos

Gracyanne, por exemplo, posta vídeos, até mesmo, amamentando o seu bebê reborn Benício e comenta: "Como já disse anteriormente, meu sonho é ter um filho. Podem me julgar, no começo eu achei estranho. Mas Benício me trouxe felicidade".

O limite entre hobby e problema de saúde está na frequência, intensidade, distorção da realidade e impacto na vida e rotina do indivíduo, diz a psicóloga Rita Calegari, do Hospital Nove de Julho.

O impacto na rotina, porém, não é a realidade da maioria das entusiastas, que se definem como colecionadoras. Para elas, os bebês são fruto de um trabalho manual complexo, como explica Andrea Janaína Mariano, 51, mãe de quatro filhos (reais) e avó.

Andrea coleciona bebês reborn há mais de uma década e organiza encontros de admiradores em São Paulo. Hoje, também é artesã - ou "cegonha", como são chamadas as artistas que fazem os bebês - e vende os bonecos.

"As pessoas acham que vamos aos encontros brincar de boneca, mas isso não acontece. Somos artistas, colecionadoras e pessoas que têm interesse em conhecer essa arte, que se reúnem para compartilhar informações", conta sobre as reuniões no Parque do Ibirapuera.

Além disso, muitos dos vídeos virais que mostram cuidados com os bebês como se fossem reais são apenas encenações, os chamados "role plays", feitos para apresentar a arte ou gerar engajamento "É apenas um teatrinho; depois elas guardam as bonecas. Ninguém vive essa realidade", diz Andrea.

Ainda assim, perguntada se conhece alguém que cuida em excesso dos bebês ou trata os bonecos como reais, Andrea afirma que sim, embora sejam "raros casos".

Quando há algo errado?

Rita é enfática sobre o assunto: "Mulheres que apenas usam, colecionam ou brincam com as bonecas como um momento de relaxamento não têm problema nenhum".

Como explica o psiquiatra Alaor Carlos de Oliveira Neto, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, um hobby é saudável quando enriquece a vida, proporcionando alegria e aprendizado sem gerar consequências negativas em outras áreas.

Cruza-se a fronteira entre o hobby e um possível desequilíbrio emocional quando não se distingue o cuidado fantasioso da realidade ou a interação com a boneca afeta as responsabilidades diárias. Algumas atitudes que merecem atenção especial, segundo Neto, são:

  • Trocar os relacionamentos com outros humanos pelo apego à boneca, buscando no objeto carinho e afeto;
  • Deixar de cumprir responsabilidades do dia a dia, como trabalhar e estudar, para ficar com o brinquedo;
  • Gastar muito dinheiro com bonecas e acessórios, o que pode causar problemas financeiros;
  • Se infantilizar ou tratar a boneca como se fosse um bebê de verdade de forma consistente, o tempo todo, perdendo a noção de que é uma brincadeira ou coleção;
  • Usar o brincar para evitar lidar com problemas emocionais, traumas, situações difíceis ou a realidade da vida;
  • Usar a brincadeira para fugir de sentimentos como solidão, ansiedade ou tristeza.

Além desses sinais, Santos também destaca que sentimentos extremos são preocupantes, como reações exageradas às críticas.

"A pessoa pode entrar numa depressão achando que está passando por um preconceito em relação ao seu filho, que, neste caso, é o boneco. Isso é um sinal de alerta", diz.

Outros exemplos de que a situação "passou do ponto" envolvem a preocupação por deixar os bonecos em casa "sozinhos" durante o expediente de trabalho ou não vivenciar momentos com as pessoas reais para se fazer mais presente para os brinquedos.

Por que a conexão com o boneco?

E o que pode levar um adulto a criar conexão emocional com um boneco? Para os especialistas, são aspectos como a necessidade de promover cuidado e fornecer proteção a algo ou alguém; o sentimento de solidão, isolamento ou vazio; e o desejo de vivenciar, de algum modo, a maternidade ou paternidade sem a responsabilidade atrelada a essa vivência.

A interação com o bebê reborn pode ainda oferecer regulação emocional, conforto e segurança em momentos de estresse e ansiedade. Já outros podem encontrar no boneco uma fonte segura e incondicional de "afeto".

Os brinquedos também podem servir como ferramentas terapêuticas para lidar com o luto ou o Alzheimer, por exemplo.

"A maior queixa que ouvimos de mães de natimortos nos hospitais é que elas não tiveram a chance de segurar os seus filhos. O luto sem corpo é um dos piores a ser elaborado", comenta Rita. Por isso, segundo a psicóloga, o cuidado com os bonecos pode ser um aliado

Espanto é questão de gênero?

Rita ressalta que o ato de brincar ou colecionar brinquedos é muito comum no universo masculino, mas não gera a mesma repercussão que as mulheres com bonecas. "Não vemos nenhum movimento de condenação social quando homens brincam", compara.

A psicóloga lembra que muitos homens possuem hobbies tão caros quanto um bebê reborn, como aeromodelismo, kart ou videogames de última geração. Outros colecionam itens de Star Wars ou Lego.

"Então, qual é o problema das mulheres brincarem com suas bonecas que parecem um bebezinho? São mulheres que trabalham, ganham dinheiro. Não precisam comprar uma boneca barata; elas podem comprar o melhor, assim como um homem compra o melhor videogame", diz a psicóloga.

Há ainda críticas que apontam que as colecionadoras deveriam gestar ou adotar filhos reais. "Já tem padres e pastores falando mal da gente, que precisamos de filhos de verdade. Mas isso é só um hobby, uma arte. Eu já tenho os meus filhos e até netos", desabafa Andrea.

"Também estamos falando de empoderamento feminino", afirma Rita. "A mulher pode escolher não ser mãe e, inclusive, escolher brincar de ser mãe - e não assumir esse papel com toda a seriedade que ele exige."

CULTURA

Com atrações nacionais e internacionais, Festival América do Sul começa hoje (15)

Entre as atrações, nomes como Alcione, Xamã e Buena Vista Social Club Tribute marcam presença no evento.

15/05/2025 14h37

18º Festival da América do Sul começa hoje (15)

18º Festival da América do Sul começa hoje (15) Divulgação/Arquivo FCMS

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Começa hoje (15), no município de Corumbá, o 18º Festival América do Sul, evento que visa a integração entre o Brasil - América Latina e o patrimônio sul-mato-grossense. Em uma junção de arte e natureza, essa edição do Festival reúne 96 atrações em quatro dias de evento. 

Realizado pelo Governo do Estado por meio da Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura, Fundação de Cultura e apoio da Prefeitura Municipal, o Festival América do Sul também cede espaço para a exposição de artes de comunidades negras e indígenas. 

Se apresentam atrações musicais, de artes visuais, do teatro e da dança em um cenário que remete ao início da trajetória de desenvolvimento do Sul de Mato Grosso e às belezas do Rio Paraguai e do Pantanal. 

Atrações

De hoje (15) até domingo (18), atrações para todos os gostos e idades passam pelos palcos. Matu Miranda se apresenta às 20h30, abrindo o show para Duduca e Dalvan, que trazem o sertanejo “raíz” às 21h30. A abertura ainda conta com teatro, orquestra, oficinas de ballrom e o cortejo carnavalesco das escolas de samba de corumbá. 

Amanhã (16), o show principal é do rapper Xamã, às 20h30. Aos 35 anos de idade, o artista é dono de obras como “Quando a gente ama”, “Deixe-me ir” e os compilados chamados de “Poesia Acústica”. Ao longo do dia, tem ainda Quebra torto literário, oficina de cerâmica, contação de histórias com Ciro Ferreira, teatro e desfile de moda. 

No sábado, é a vez de Alcione colocar todo mundo para dançar, levando para o palco principal. A programação do dia também conta com oficinas de bordado, upcycling em jeans, campeonato de skate e teatro internacional. 

Encerrando o festival, no domingo tem Batalha do porto, oficina de bordado em folhas do cerrado, oficina de capoeira, orquestra com pagode dos anos 90 e, fechando com chave de ouro, Pixote traz o pagode para os apaixonados, juntamente com Isabel Fillardis no MPB. 

O festival também dá palco para músicos latino-americanos. Pedro de La Colina, do Chile, Mayra Sanches, da Colômbia, se apresentam na sexta (16). Buena Vista Social Club Tribute, de Cuba, e Fiesta Cuetillo, da Bolívia, são atrações de sábado (17). 

O governo do Estado investiu um valor de R$6 milhões no Festival. A informação foi divulgada no Diário Oficial do dia 11 de abril por meio de um “Extrato de Termo de Colaboração”. 

Entre os principais espaços do evento, destacam-se:

  • Palco do Porto (Palco 2): Um espaço adicional dentro do complexo cultural, dedicado a apresentações secundárias e atrações interativas.
  • Palco Principal: Um palco em formato de concha, inspirado no modelo do Rock in Rio, que oferece excelente acústica e proteção contra chuvas leves. O design do palco também garante ampla área para o público, com foco em conforto e segurança para os presentes.
  • Monumento Central: Uma estrutura simbólica que celebra a união entre os países sul-americanos, oferecendo um local para os visitantes relaxarem, contemplarem a vista e interagirem com o emblema da fraternidade entre as nações do continente.

Confira a programação completa aqui.

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