Há alguns anos a Record trabalha suas novelas apostando em determinados nichos. Houve a fase de tramas policiais, com sucessos como “Vidas Opostas” e “Poder Paralelo”, passando pela aposta no público adolescente, com “Alta Estação” e “Rebelde”. Porém, já há alguns anos, a emissora vinha investindo apenas no gênero bíblico. Deu certo, conquistou uma fatia de público interessante, mas tudo que é demais pode se tornar repetitivo. Nesse sentido, “Topíssima” pode ser encarada como um momento de frescor na teledramaturgia do canal. Afinal, o texto de Cristianne Fridman é extremamente contemporâneo, colorido e com boas doses de romance e de comédia – algo bem próximo ao que se vê na maior parte dos folhetins das 19h da Globo, sua principal concorrente no segmento, já que o SBT se encontrou nos textos focados nas crianças.
Camila Rodrigues, a mocinha Sophia, tem várias características que poderiam tornar a personagem irritante e cansativa. Mas a atriz, aos 36 anos e em um momento mais maduro de sua carreira, se sai bem e consegue transformar o tom histriônico da dondoca que interpreta em algo até charmoso. Aliás, um dos grandes acertos da história foi a escolha do casal de protagonistas, formado por ela e por Felipe Cunha, que encarna o batalhador e líder comunitário Antônio. O rapaz não tem uma lista extensa de trabalhos na tevê, mas já tinha se destacado em outros trabalhos, como quando foi Adriano Montana na primeira fase de “Apocalipse”, o pai do anticristo da história. Em “Topíssima”, no entanto, ganhou mais espaço. E também tempo para mostrar que pode ocupar uma lacuna deixada pela evasão dos galãs da Record, algo que vem acontecendo nos últimos anos, com a abertura de mercado que as produções de séries de emissoras a cabo e serviços de “streaming” promoveram no Brasil.
A história até traz elementos de trama policial, como as que já renderam boa audiência no passado. “Vidas Opostas”, por exemplo, em 2007, se encerrou com média geral de 13 pontos. Hoje, “Topíssima” costuma garantir entre oito e nove pontos de média, com share quase sempre acima de 12%, o que a mantém no segundo lugar, atrás da Globo. Nada mau para uma espécie de recomeço, depois de cinco anos sem lançar uma trama contemporânea que não fosse do gênero bíblico. Para a nova fase, o humor tem sido até mais frequente do que o romance prometido inicialmente. Sim, porque a relação de gata e rato que Sophia e Antônio vivem acaba gerando situações cômicas. E as muitas cenas externas e “stock shots” de pontos turísticos e regiões conhecidas do Rio de Janeiro funcionam como um atrativo extra para os telespectadores.
Um ponto interessante da trama foi começar, provavelmente, pelo fim. Afinal, a primeira cena da história mostrava Lara, mãe de Sophia, papel de Cristiana Oliveira, morta, com uma faca fincada em suas costas. Algo um tanto ousado, principalmente para uma novela cujas cenas nem podem ser mexidas. Isso porque as gravações já se encerraram há mais de dois meses e a trama mal ultrapassou os 100 capítulos no ar. A previsão é que a exibição se encerre em dezembro. Porém, nada que não se possa mudar com uma edição mais picotada.