Um buscava inspiração nos astros. Outro andava com um caderninho de anotações e batizava o novo membro do grupo com um dos nomes previamente selecionados.
Temidos nas arenas de rodeio do país, muitos touros assustam os peões desde a primeira vez que seus nomes são ouvidos nas festas de peão. Mas como eles são escolhidos? Quem não se lembra do lendário Bandido, que foi astro da novela "América" (2005), virou grife e livro e hoje tem uma estátua no Parque do Peão de Barretos? Morreu em 2009 e, no auge, nenhum peão conseguiu parar nele os oito segundos necessários para que uma montaria seja validada. Bastava ouvir seu nome no sorteio para o peão saber que aquele não era seu dia.
Situação semelhante vive quem monta atualmente no touro "Bipolar" que, assim como Bandido, faz parte da boiada de Paulo Emilio Marques. Nenhum peão venceu-o na atual temporada da PBR (Professional Bull Riders), e o animal de 910 quilos foi escolhido o melhor touro de Barretos em 2016.
O tropeiro tem cerca de 250 animais em seu plantel, entre eles "Não me Rele", "Não me Toque", "Traficante", "Agressor", "Pioneiro", "Delírio", "Abismo", "Pirraça" e "Van Dame", nomes muito diferentes dos primeiros animais de sua companhia.
"Minha mãe era professora de história e eu comecei colocando nomes de astros, de deuses como Apolo, Sultão, gostava de nomes fortes e bonitos. Hoje é tanto touro que acaba popularizando um pouco. Acho que já dei nomes a mais de 5.000 touros", disse o tropeiro.
Em alguns casos, segundo ele, peões colocam apelidos engraçados e eles são "oficializados". "O importante é ter um nome que marque. Gosto de vinho e estou com um animal que vou chamar de Malbec. Gosto de nome que soe fácil para o locutor falar e que seja mais forte, dependendo do animal."
Marques cita como exemplo o touro "Agressivo", que foi o mais temido pelos peões na Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos há três anos.
Peões contemporâneos do animal, como Edimundo Gomes, afirmaram que era "praticamente impossível" parar no touro. Outro aspecto considerado no momento de batismo do bicho é o "objetivo" que o animal tem nas arenas. Bandido era visto como um touro que buscava machucar quem estivesse montado nele. Já Agressivo tentava derrubar o peão a qualquer custo.
"O que se espera de um bandido? Que seja mau, perigoso. E com o Bandido era isso, tudo podia acontecer, ele não tinha juízo", afirmou o tropeiro.
Já Silmar Colombo, que foi tropeiro por 26 anos e se aposentou há dois, quando vendeu sua companhia de rodeios, andava sempre com um caderninho de anotações no bolso para não se esquecer dos nomes de batismo dos futuros animais.
"Eu via o jeito de o touro pular e olhava nos nomes que tinha marcado na agenda. Conforme o boi agia, enquadrava um determinado nome nele", disse.
Colombo ficou conhecido inicialmente no mundo dos rodeios como dono da "boiada do mapa", por batizar animais com nomes de Estados e cidades brasileiras.
"O importante é ser autêntico e ter um nome diferente. Nunca gostei que eles tivessem nomes iguais aos dos outros. Quando o animal ia embora da companhia ou morria, nunca colocava o mesmo nome. E não sou só eu que tinha uma agendinha, muitos agiam e agem assim."