A ansiedade é um transtorno que afeta a saúde mental do indivíduo e atinge cerca de 19 milhões de brasileiros.
Relacionada normalmente ao público jovem, a doença também atinge idosos, principalmente durante a pandemia do novo coronavírus, em que eles precisaram praticar o distanciamento social e evitar locais de convivência.
Profissionais da área de saúde mental apontam que, apesar de necessária, a medida pode ter gerado um aumento dos casos de ansiedade. “É claro que a pandemia trouxe consequências para a saúde mental de todos nós.
Já temos muitos estudos que indicam um aumento nos sintomas de depressão e ansiedade em vários países.
Os idosos não apenas compõem o principal grupo de risco para a Covid-19, como também estão mais suscetíveis a desenvolver quadros de ansiedade e depressão em virtude do isolamento social e distanciamento familiar”, afirma a psicóloga e professora Maisa Colombo Lima.
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Ligada a diversos fatores que influenciam ainda mais no desencadeamento da doença, a ansiedade pode apresentar sintomas físicos e psíquicos, como estresse, fobia, pensamentos acelerados, taquicardia, medo, angústia e falta de ar.
A psicóloga explica que na velhice a ansiedade está ligada às limitações da idade, que na maior parte das vezes são interpretadas como ameaçadoras, e ao sentimento de impotência.“Envelhecer faz parte do nosso ciclo vital.
E durante todas as fases é normal sentirmos ansiedade diante de situações que podem provocar medo, dúvida ou expectativa.
Mas, quando este sentimento começa a atrapalhar nossa vida, temos de procurar ajuda. O tratamento inclui terapia e medicamentos”, enfatiza a profissional.
Agravante
Segundo o psiquiatra Jony Afonso, a ansiedade interfere diariamente na vida do indivíduo e deve ser tratada com seriedade.
“O indivíduo começa a sofrer com o transtorno, sua produtividade é afetada, falta de atenção é gerada como consequência e a ansiedade vai se agravando.
Os sentimentos de angústia, urgência, expectativa e a convivência com as crises de ansiedade sem tratamento podem evoluir para uma doença crônica, que leva a situações mais complexas, como agravamento de outras doenças.
Por exemplo, um paciente hipertenso: se ele estiver tendo crises de ansiedade, a pressão dele vai subir mais ainda”, explica.
Afonso esclarece que sentir ansiedade gera uma sensação de expectativa, o que é normal se existirem motivos para isso, como em casos de compromissos muito importantes, uma viagem que se aproxima, um jogo ou até mesmo um compromisso de trabalho.
“Agora, é anormal quando ela passa a sair do controle, quando não há motivos para a pessoa estar sentindo todas essas sensações que justifiquem tamanha ansiedade e causem sofrimento ou algum dano à vida da pessoa”, pontuou.
De acordo com o psiquiatra, existe mais de um tipo de distúrbio ansioso, como a síndrome do pânico, que provoca no paciente a sensação de morte, taquicardia e desespero, e o transtorno obsessivo-compulsivo, conhecido popularmente como TOC, que gera pensamentos de lugares que não são seguros ou que estão contaminados, além da repetição de movimentos para conferir ações diversas vezes.
“A ansiedade é um parente muito próximo da depressão, e a falta de cuidado especializado leva o paciente ao esgotamento, perda do prazer de tudo que fazia antes – essas são as chamadas doenças comórbidas”, explicou o profissional.
Durante uma forte crise de ansiedade, o paciente pode ser encaminhado para o hospital, e em alguns casos o indivíduo fica tão desesperado a ponto de achar que está tendo um ataque cardíaco.
Quando a dona de casa Maria Aparecida (nome fictício), 60 anos, começou a sentir sintomas de taquicardia e insônia, acreditou que estava com algum problema cardiovascular, mas nunca imaginou que fosse uma crise de ansiedade.
“Achei que estava com algum problema de pressão, mas não tinha variação, e aí, na consulta, conversando com o médico, chegamos à conclusão que eu estava com ansiedade”, relembra.
No caso de Maria, a ansiedade estava relacionada principalmente à pandemia.
“A minha ansiedade chegava no fim do dia, quando eu começava a ficar preocupada com a chegada dos meus filhos, ter que tirar roupas fora de casa, passar álcool em tudo para não correr risco de contaminação. Eu faço parte do grupo de risco, então foi muita coisa me preocupando ao mesmo tempo”, informou.
Ao perceber suas crises de ansiedade, Maria explica que tenta praticar exercícios respiratórios indicados pela psicóloga, atividades físicas, como caminhada e mergulho, e se distrair.
“Eu percebo que quando estou em contato com a água me sinto mais calma. Quando vejo que meus batimentos estão acelerados, começo a suar e a ter tontura, eu já começo a mexer com água, a controlar minha respiração e busco alternativas saudáveis, diferentemente do que eu fazia antes, que era correr para o cigarro”, confessa.