Apesar da alta de casos de obesidade no Brasil, ainda há muita dúvida em relação aos tratamentos disponíveis para a melhora do quadro.
O uso de medicamentos para o controle do peso, por exemplo, é cercado de preconceito.
De acordo com a médica Renata Antonialli, especialista em endocrinologia e metabologia, o estigma atrelado à obesidade ainda atrapalha o tratamento e a disseminação de informações sobre o assunto.
“Apesar de tanta informação, ainda existem muitos julgamentos e preconceitos contra a pessoa com obesidade. Infelizmente, mais da metade da população brasileira está acima do peso, e essas pessoas geralmente são vistas como preguiçosas, sem força de vontade, desleixadas e sem determinação”, explica.
O preconceito acaba se estendendo também ao tratamento. “Temos de frisar que obesidade é uma doença crônica e, portanto, há indicação do tratamento medicamentoso em muitos casos. Isso de forma alguma é uma fraqueza e, sim, uma necessidade”, ressalta.
O estigma relacionado ao uso de medicamentos surgiu principalmente quando os primeiros remédios foram disponibilizados no mercado.
Segundo Renata, atualmente não há diferenciação se um fármaco é mais forte ou fraco, por exemplo.
“Na verdade, essa questão de mais forte ou mais fraco ficou na mente das pessoas por conta dos primeiros tratamentos medicamentosos que eram derivados de anfetaminas, em que o risco de dependência química era importante, além dos próprios sintomas de abstinência quando se interrompia o uso dessas medicações”, pontua.
“Com os novos tratamentos, não há esse risco. Os medicamentos liberados no Brasil atualmente são seguros e o efeito sobre cada organismo é totalmente individual”, complementa.
Mesmo assim, a endocrinologista alerta que o uso de medicamentos para o emagrecimento deve ser feito com o acompanhamento de um médico especialista e nunca por conta própria.
“É fundamental o acompanhamento de um endocrinologista durante o tratamento para o emagrecimento, pois, mesmo sabendo que as medicações disponíveis atualmente são seguras, elas podem acarretar em efeitos colaterais que precisam ser avaliados, além, é claro, da individualização de cada paciente, sabendo o momento certo de ajustar as dosagens, desmamar a medicação ou até mesmo trocar, quando há falha terapêutica”, ressalta.
Esses cuidados são capazes de evitar o efeito sanfona, quando uma pessoa emagrece e engorda em um curto período de tempo.
“Tudo isso é necessário para evitar o efeito sanfona e manter a perda de peso sustentada”, frisa.
Mas mesmo quando há o ganho de peso, Renata explica que não é culpa do medicamento.
“Com as medicações que dispomos atualmente, isso é difícil acontecer. O efeito sanfona, que muitos pacientes têm receio, normalmente se deve ao fato de que, quando o paciente atinge o peso esperado, ele para a medicação de forma abrupta, interrompe o acompanhamento médico, além de relaxar nas mudanças comportamentais, como a dieta e exercícios físicos. Portanto, o reganho de peso, na grande maioria dos casos, deve-se ao retorno dos maus hábitos que fizeram o paciente adoecer”, pontua.
Outro ponto importante é que o tratamento medicamentoso só é indicado quando há falha na adoção de um estilo de vida saudável, formado por uma alimentação balanceada e exercícios físicos cotidianos.
Obesidade
De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde 2019, divulgados em outubro de 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, uma em cada quatro pessoas de 18 anos ou mais de idade no Brasil estava obesa, o equivalente a 41 milhões de pessoas.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é um dos principais fatores de risco para várias doenças não transmissíveis (DNTs), como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, acidente vascular cerebral e várias formas de câncer.
Uma pessoa é considerado obesa quando o índice de massa corporal (IMC) é maior ou igual a 30 kg/m2; o IMC maior ou igual 25 kg/m2 associado a outras comorbidades, como hipertensão arterial, diabetes tipo 2, alterações de colesterol, apneia do sono, osteoartrose, etc.; ou ainda quando o IMC normal associado à obesidade visceral (circunferência abdominal maior que 80 cm nas mulheres e 90 cm nos homens), na presença de comorbidades.
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Compulsão
Entre os casos de obesidade que costumam necessitar de medicação são os relacionados à compulsão alimentar.
“O transtorno de compulsão alimentar é um transtorno psiquiátrico no qual o paciente precisa preencher alguns critérios para ser diagnosticado com essa doença.
Nesses casos, o tratamento medicamentoso e a psicoterapia são fundamentais para o sucesso do tratamento”, explica.
Renata frisa que muitas pessoas acreditam que apenas o exagero na alimentação configura uma compulsão, mas que o transtorno vai além disso.
“É importante diferenciar que comer muito não significa ser compulsivo.
Muitas pessoas acham que são compulsivas por conta de qualquer descontrole que apresentam pela comida ou por alimentos específicos, por exemplo, ‘tenho compulsão por doces’, e isso não é compulsão alimentar”, esclarece.
Renata pontua que traçar um perfil do paciente é importante para o tratamento adequado.
“Existem medicamentos que tratam compulsão alimentar, mas é preciso sempre avaliar o padrão alimentar do paciente [se é um paciente hiperfágico, beliscador, comedor noturno ou compulsivo], para indicar a medicação mais adequada para cada caso”, acredita.