A cantora Karla Coronel abre um sorriso de orelha a orelha no fim da entrevista.
“Você não perguntou, mas preciso dizer: estou muito honrada e feliz de dividir o palco com Zé Pretim, que há anos marca a nossa cidade com a voz maravilhosa dele”, derrama-se a crooner de 24 anos, que veio ao mundo em Pedro Juan Caballero, no Paraguai, mas é ponta-poranense na certidão de nascimento.
Com a sua MPB pop, a jovem “brasiguaia”, como ela se autodefine, tem a missão de dar o pontapé inicial na terceira edição do Projeto Vertentes, que começa no sábado e segue até o mês de outubro, com a apresentação de 24 atrações musicais ao vivo no formato de live, sem público presencial.
Os shows, a partir das 17h, serão realizados na Esplanada Ferroviária, com transmissão pelo YouTube no canal da Engepar.
A empresa apoia a inciativa desde o primeiro ano e está bancando o cachê dos artistas. A Prefeitura Municipal de Campo Grande aderiu ao Vertentes em 2020 e fornece a estrutura de palco, o som, a luz e a transmissão.
Serão duas atrações a cada sábado, com shows de aproximadamente 50 minutos de duração. A maioria é de gente nova na cena musical da cidade e do Estado, mas o projeto também acolhe veteranos desde a primeira edição, em 2019.
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“O Vertentes não tem nenhuma restrição, ele acolhe grandes nomes como o Zé Pretim, que nesse caso foi convidado, assim como ano passado foram convidados a Lenilde Ramos e o Carlos Colman. Não tem preconceito de estilos, vai do gospel ao punk rock”, afirma o cantor Jerry Espíndola, que idealizou o projeto a partir da mobilização do Coletivo Campo Grande.
Rodízio democrático
No primeiro ano, conta Jerry, todos os artistas se inscreveram para participar da maratona, que foi realizada na Casa de Ensaio. Em 2020, a programação foi feita por meio de sorteio.
“E este ano convidamos todos que não passaram no sorteio, uma forma de valorizar quem acreditou no projeto”, conta Jerry, dono de uma discografia de nove álbuns lançados, fazendo parecer que é fácil arregimentar um verdadeiro caldeirão musical e patrocínio para viabilizar toda a festa.
“É tudo junto e misturado, gerações e vertentes, grandes nomes e novos talentos”, afirma o músico. “Por enquanto, o projeto vem funcionando no esquema de rodízio, quem tocou nas outras edições não toca nessa”.
Ao fim da temporada 2021, o Vertentes chegará à marca de 92 artistas participantes, agregando ao seu elenco, além de Karla Coronel, outras revelações desta terceira edição, como Vitória Queiroz (31/07), o trio Caliandra (07/08) e o rap gospel do Alfas MCs (02/10). Veja a lista completa de atrações nesta página.
Da igreja para os bares
Karla promete uma mistura de balanço com música romântica, em um repertório que combina canções próprias – entre as quais “Modo Avião” e seu primeiro lançamento, “Agora ou Depois” – e covers de Fat Family e Tiago Iorc (“Fuzuê”).
“Como canto em bares, tento diversificar tudo, puxando para o meu estilo, que é um trabalho pop, mas também vou apresentar algumas canções inéditas, que estarei lançando nos próximos dias”, afirma a intérprete, que contabiliza quatro anos de carreira na noite morena desde que abandonou o microfone da Assembleia de Deus.
Sobrinha (Marta Céu) e prima (Tom Alves) de músicos, Karla Coronel cita os avós como a grande inspiração da família. Ela se apresentará acompanhada de Marcos Paulo na bateria, Kinho Guedes no baixo e Pedro Fernandes no teclado.
Blues, paz e amor
Com o seu jeitão leve, Zé Pretim é a descontração em pessoa. Acompanhado de “outro Zé” na bateria, Luizão no baixo e um tecladista especialmente convidado, o veterano diz que vai colocar o vozeirão e sua guitarra soul blues a serviço de uma mensagem de paz, tranquilidade e muito amor.
“Tanto é que vou tocar ‘Faltando Um Pedaço’, do Djavan, em soul blues, tipo como faço com ‘Rio de Lágrimas’, de Tião Carreiro”, conta o bluesman de 66 anos.
“66 por enquanto”, diz o músico, deixando escapar uma discreta risadinha e uma gozada revelação. “Dia 16 completo 67, e aí já viro o código de Campo Grande”, diverte-se Pretim, que também anuncia um set acústico em homenagem a Paulo Simões, Almir Sater e Renato Teixeira.
O guitarrista vai abrir a apresentação com dois temas instrumentais de sua autoria. “Depois vou partir para interpretações [de outros compositores] e a gente vai tocando”, diz o bluesman. Aliás, o clássico “Tocando em Frente” (Sater/Teixeira) está confirmado no repertório.
“Porque, por causa da pandemia, não estamos ensaiando; os caras [músicos] são jovens e eu coroa”, justifica o mestre, prometendo, talvez sem perceber, aquilo que um fã de blues mais gosta: improviso, sentimento e alma.