Seja por questões de sustentabilidade ou pela valorização das terras, expandir as pastagens é algo cada vez mais longe da realidade do produtor. A saída é melhorar então a produtividade, o que depende de investimentos.
No Brasil, desde o ano passado, as condições para desembolso maior em busca de melhor produção estão mais favoráveis. Com o aumento do preço do boi, as empresas que desenvolvem melhoramento genético vivem uma fase de bons negócios.
A Intervet Schering-Plough, por exemplo, lançou neste mês uma tecnologia que identifica, no DNA do animal, cinco características comercialmente interessantes para o gado de corte. Para raças europeias, a tecnologia já existe no mercado, mas a empresa optou pela raça nelore, de origem indiana que responde por cerca de 80% do rebanho nacional.
Os chamados marcadores moleculares permitem detectar as melhores probabilidades de ganho de peso, quantidade de carne, quantidade de gordura, fertilidade, e até mesmo o temperamento do boi.
“O Brasil está entrando em uma era irreversível de maior técnica”, diz Sebastião Faria, gerente técnico da Intervet. Segundo ele, a detecção de genes de docilidade foi sugestão de frigoríficos, para reduzir perdas durante transporte e abate.
A empresa tinha a tecnologia de marcação genética desde o ano passado, mas só para docilidade. Ao incorporar outras características, o produto tornou-se comercializável, e a Intervet fechou acordo com a Associação dos Criadores de Nelore do Brasil para vender o serviço a mais de 1,1 mil clientes este ano.
Sem essa tecnologia, mesmo para um bovino adulto, leva cerca de 5 anos para detectar as características do animal.
A análise de DNA auxilia o trabalho dos selecionadores, profissionais que determinam o destino do gado e também é usada por criadores de touro. “Em um leilão, um touro certificado tem maior valor”, diz Faria.
Para a pesquisa, a empresa investiu mais de US$ 12 milhões em parceria com a brasileira Genoa e com uma universidade canadense, na decodificação do genoma do nelore.
A empresa também quer usar a tecnologia para selecionar touros para produção de sêmen para inseminação.
Na produção de bezerros, a escolha dos touros e a inseminação artificial continuam sendo as ferramentas mais importantes de melhoramento genético à disposição do produtor, devido ao baixo custo. Uma palheta de sêmen custa cerca de R$ 15. Elas têm sido o principal responsável pelo aumento de produtividade da pecuária.
“No passado, a criação do boi do nascimento até o abate demorava cinco anos, hoje o tempo médio é de três anos”, diz Antônio Rosa, pesquisador da Embrapa. “Se o mercado quiser pagar, é possível engordar um boi em 12 meses.”
A Embrapa possui uma tecnologia parecida coma desenvolvida pela iniciativa privada. Para o gado nelore, são três marcadores: para quantidade de carne, maciez e ganho de peso.
A agência está em fase de busca de parceiros para comercializar o produto, e a previsão é que ele esteja no mercado no próximo ano.
“Acredito que nos programas de melhoramento de raças, os marcadores serão rapidamente incorporados”, diz a pesquisadora Luciana Regitano. “A tendência do custo é cair, porque a tecnologia é bem sensível à escala.”
Também buscando esse mercado, a Agropecuária Jacarezinho, do grupo Grendene, deve concluir no ano que vem o mapeamento genético do gado nelore, em parceria coma Universidade Estadual Paulista.
“Mais importante do que o mapeamento, nosso banco de dados vai aumentar a precisão da análise”, diz Ian David Hill, diretor da empresa. “Isso beneficia não só o criador de touro, mas se reflete até em uma carne mais macia na gôndola.”