Ricardo Leopoldo (AE)
As quedas de 5% na produção de veículos e de 3,83% na venda de papelão ondulado no mês passado ante maio levaram economistas a rebaixar as estimativas da produção industrial para junho, que deve ser divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no dia 3 de agosto. Para os especialistas ouvidos pela “Agência Estado”, a desaceleração do setor manufatureiro em junho consolida um quadro de diminuição expressiva do ritmo do nível de atividade do País.
Contudo, os analistas não acreditam que tal redução de ritmo das fábricas será suficiente para alterar a trajetória da política monetária para este ano. De acordo com a pesquisa Focus, a Selic deve fechar o ano em 12%, o que significaria mais dois aumentos de 0,75 ponto porcentual, um no dia 21 de julho e o outro em 1.º de setembro, com uma alta final de 0,25 ponto porcentual no dia 20 de outubro.
O desempenho mais fraco da fabricação de automóveis e das vendas de papelão ondulado, informado semana passada pela Anfavea e ABPO, respectivamente, levou o economista-chefe da LCA, Braulio Borges, a alterar sua projeção para a produção industrial de junho de uma marca de estabilidade para uma queda de 1,1%. Como a atividade do setor manufatureiro influencia bastante a dinâmica do Produto Interno Bruto, ele alterou sua estimativa para o PIB no segundo trimestre de uma alta de 1,2% para uma elevação de 0,7%, na margem.
Esse resultado é bem inferior à alta de 2,7% registrada no primeiro trimestre, na mesma base de comparação. Como ele estima que o País deve continuar desacelerando no terceiro trimestre, pois o PIB deve avançar 0,4% na margem, e depois subir 1% de outubro a dezembro, Borges projeta que o Brasil deve exibir uma expansão de 6,6% neste ano.
“O País cresceu de forma robusta no primeiro trimestre devido à antecipação do consumo de carros e outros produtos duráveis, como eletrodomésticos, motivada pelo fim dos incentivos fiscais concedidos pelo governo para atenuar os efeitos da crise internacional”, comentou. Segundo ele, automóveis e produtos da linha branca respondem por cerca de 30% da produção industrial nacional, levando em consideração empresas que atuam com esses setores de forma direta e indireta. “O PIB menos vigoroso no segundo trimestre ocorrerá devido a uma espécie de efeito ressaca de consumo de bens duráveis”, disse.
Para o economista-sênior do BES Investimento, Flávio Serrano, os resultados apresentados pela Anfavea a ABPO motivaram a revisão da produção industrial de junho de uma queda de 0,7% para uma redução de 1%. Segundo o economista da Tendências Consultoria, Bernardo Wjuniski, os dados divulgados devem levar a previsão da atividade do setor manufatureiro para um número pouco abaixo da previsão de queda de 0,4% em junho que vigorava até sexta-feira, 9. A Copa do Mundo foi um fator que colaborou para a redução da atividade das fábricas no mês passado, mas ele ressalta que a desaceleração intensa está relacionada ao ritmo muito forte da economia de janeiro a março.