Para economista da Lifetime, Mato Grosso do Sul já está se beneficiando da guerra comercial dos gigantes
Os números da balança comercial de Mato Grosso do Sul deste ano mostram que a “guerra tarifária”, deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a China, teve mais impactos positivos do que negativos para a economia de MS e que o Estado poderá se beneficiar ainda da imposição de tarifas entre os dois países.
A leitura é da economista da Lifetime Investimentos, Marcela Kawati. Segundo ela, Mato Grosso do Sul está fortemente exposto às exportações de produtos do agronegócio para a China e também bem posicionado no que tange às compras que os Estados Unidos fazem do Brasil.
De fato, as vendas de carne bovina para os Estados Unidos, desde fevereiro, quando Trump chegou ao poder, dispararam, mesmo com tarifas de 10% sobre elas. Já as vendas de soja, sobretudo para a China, mantiveram-se estáveis, mas com perspectiva de alta, em meio à possível substituição da soja norte-americana pela brasileira.
Por ter mais familiaridade com a burocracia chinesa, Mato Grosso do Sul pode levar vantagem ao vender mais para a China.
“Quando a gente fala de agronegócio, não existe a possibilidade de você botar uma fazenda em uma caixa e levar para outro país. Por isso, o fato de o Brasil estar exposto às exportações via agronegócio faz com que a gente tenha aí uma vantagem, no sentido de que não é um produto de fácil substituição”, explica Marcela.
Exportações
Neste primeiro semestre, as exportações de Mato Grosso do Sul estão em alta, mesmo com a guerra tarifária mundo afora, polarizada entre EUA e China. O total acumulado de exportações entre janeiro e maio é de US$ 4,28 bilhões, crescimento de 2,95% em relação ao mesmo período de 2024.
Como as importações estão em queda, sobretudo pela compra menor de gás natural da Bolívia, o Brasil comprou, via Mato Grosso do Sul, US$ 1,037 bilhão, o que contribuiu para o aumento do saldo da balança comercial.
O acumulado dos primeiros cinco meses deste ano indica a permanência das contas externas em superavit, com saldo de US$ 3,25 bilhões, 8,41% a mais que no mesmo período do ano passado.
E os principais produtos sul-mato-grossenses vendidos ao exterior estão muito expostos à disputa comercial entre China e Estados Unidos.
Em termos de volume exportado, os principais produtos locais são soja (28,66%), celulose (24,83%) e carne bovina (18,02%).
Em termos de valor agregado, porém, a celulose já tem larga vantagem sobre a soja: representa 34% do volume financeiro das vendas externas, enquanto a soja representa 27% e a carne, 14%.
Sozinha, a venda de celulose, que tem a China como grande destino, resultou em um faturamento de US$ 1,44 bilhão nos primeiros cinco meses deste ano, 78% a mais que no mesmo período do ano passado.
“Existe mais oportunidade de ganhar espaço neste vácuo entre o que acontece entre China e Estados Unidos”, afirma a economista.
No que diz respeito à carne bovina, ela enxerga uma tendência de estabilidade ou baixa, uma vez que os Estados Unidos já fizeram grandes compras antes do início do tarifaço e, também, que as vendas para a China seguem estáveis. Marcela Kawati vê grande oportunidade mesmo é na soja.
“Quando a gente fala especificamente de Mato Grosso do Sul, a gente vê uma grande exposição à China. E tem uma vantagem aí, porque, neste momento, EUA e China vão se afastar geopoliticamente e fica um vácuo ali [o país asiático é um grande comprador da soja norte-americana], pois a China vai precisar comprar de alguém”, analisa.
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