Ruas desertas, filas de caminhões parados. Corumbá amanheceu sem o tradicional movimento de bolivianos nas ruas da cidade pelo sexto dia seguido em razão de um protesto contra o resultado das eleições no país vizinho que está bloqueando a fronteira. Os estrangeiros ajudam a movimentar a economia local e enquanto aguardam um desfecho sobre a situação política, comerciantes e empresários fazem as contas do prejuízo.
Lourival Vieira Costa Júnior, do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística (Setlog) no Pantanal, estima um rombo diário de R$ 750 mil no setor, somando R$ 4,5 milhões desde o início do bloqueio.
“Nós falamos em um fluxo de exportação e importação de mais ou menos 300 caminhões por dia na fronteira entre Brasil e Bolívia em Corumbá. Estimamos que o prejuízo para cada caminhão seja de R$ 2,5 mil por dia. Isso contando só o transporte. Se somarmos o quanto o Estado está deixando de arrecadar em impostos o valor é bem mais alto”, disse ao Correio do Estado.
Costa Júnior afirma que o sindicato tem feito contato com a entidade que representa os transportadores bolivianos e a situação no país vizinho é semelhante.
“Hoje nós temos caminhões parados em Corumbá, Santa Cruz e em vários pontos no meio da estrada. A situação é bastante preocupante, principalmente para nós, do setor de transporte, que somos impactados diretamente pelo fechamento da fronteira”, comenta o sindicalista.

VENDAS
Outro setor que sofre com o protesto é o comércio. “Por aqui as ruas e lojas estão completamente vazias. Só se vêem os funcionários e os donos dos estabelecimentos. Durante toda a manhã fizemos apenas três vendas. Estão todos reclamando dessa situação”, disse ao Correio do Estado Osmar Said, dono de uma loja de calçados e confecções no Centro de Corumbá.
“São os bolivianos que movimentam a cidade e eles não estão vindo porque só é possível passar a fronteira a pé. Está tudo parado. Não sei dizer o que vai acontecer se essa situação continuar, vai ficar bem difícil”, diz a dona de um comércio de roupas Ruth Mary Silva, 52 anos.
Os dois empresários afirmam que o público boliviano corresponde a praticamente 60% da clientela e estão bastante preocupados com o desfecho da manifestação.
Lourival Vieira Costa, presidente da Associação Comercial da Cidade Branca, calcula 30% de prejuízo com o movimento prejudicado por conta da manifestação. “Isso em dinheiro deve representar em um mês em torno de R$ 10 milhões. Faço a conta assim porque não sabemos por quanto tempo a fronteira vai continuar fechada”, disse.
VOTAÇÃO POLÊMICA
O Correio do Estado tentou contato com uma das lideranças do protesto em Puerto Quijarro, mas ele não atendeu às ligações e tampouco respondeu as mensagens enviadas no celular até o fechamento desta reportagem.
A situação na Bolívia se deve ao resultado das eleições que deram vitória ao atual presidente Evo Morales. Os manifestantes questionam a interrupção na contagem dos votos pelo Tribunal Supremo Eleitoral durante 24 horas. Quando recomeçou, mostrava o atual presidente em vias de ser eleito.
Pelas regras do país vizinho, o candidato vence quando tem 50% dos votos mais ou acima de 40% da preferência com dez pontos de vantagem sobre o adversário. Evo convidou países sul-americanos, como Colômbia, Argentina, Brasil e Estados Unidos, a participarem de auditoria pedida à Organização dos Estados Americanos (OEA). O eleito afirma que se for provada fraude, que seja realizado o segundo turno.
Os manifestantes garantem que aceitarão a derrota caso Evo vença no segundo turno, mas cobram transparência no processo eleitoral e afirmam que só vai encerrar o protesto quando o órgão eleitoral boliviano autorizar a nova disputa.