Fluxos de investimento na América Latina e no Caribe diminuíram 12%, em parte devido aos preços mais baixos da energia em 2024
Em relatório divulgado nesta quinta-feira (19), a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês),aponta que o investimento estrangeiro direto (IED) foi discrepante nos países em desenvolvimento em 2024, mostrando que o IED continua concentrado em algumas poucas nações.
Os fluxos de investimento na América Latina e no Caribe diminuíram 12%, em parte devido aos preços mais baixos da energia em 2024.
No Brasil, o maior receptor da região, o IED caiu 8%.
África
Já na África os investimentos saltaram em 75%, chegando a US$ 97 bilhões, o maior valor já registrado.
A alta foi em grande parte impulsionada por um único acordo internacional de financiamento de projetos no Egito, com um fundo de investimento soberano dos Emirados Árabes Unidos por trás.
Sem contar o aumento egípcio, os fluxos de IED para a África ainda aumentaram 12%, mas permaneceram modestos, em torno de US$ 64 bilhões.
Ásia
Os investimentos para desenvolvimento na Ásia - de longe a maior região receptora - foram 3% menores. O IED na China caiu pelo segundo ano, em 29%.
Na Índia, houve recuo de 2%, apesar de um aumento significativo nos projetos greenfield anunciados.
Europa e América do Norte
Entre os países desenvolvidos, os fluxos de IED na Europa caíram 11%, para US$ 198 bilhões, enquanto houve um crescimento de 23% na América do Norte, impulsionado por valores mais altos de fusões e aquisições.
Balanço 2024
O investimento global caiu 11% em 2024, apesar de um aumento de 4% distorcido por fluxos financeiros voláteis. Assim, pelo terceiro ano consecutivo, o capital está se retirando dos setores que geram empregos, resiliência e crescimento limpo, diz a Unctad.
"A lacuna de investimento está aumentando, não diminuindo. O investimento digital aumentou 14%, mas 80% dos novos projetos foram para apenas 10 países - excluindo a maior parte do Sul Global. Os países em desenvolvimento estão sob pressão, com os influxos permanecendo bem abaixo dos níveis necessários para o desenvolvimento sustentável", destaca a instituição.
Além disso, o financiamento de projetos está entrando em colapso nos principais setores de infraestrutura, como energia renovável (-31%), transporte (-32%) e água e saneamento (-30%), aponta o relatório.
De acordo com a Unctad, são necessárias regras de investimento modernizadas para equilibrar a proteção ao investidor com o interesse público, um financiamento misto mais inteligente com foco no impacto real sobre o desenvolvimento e reformas para liberar subsídios acessíveis e de longo prazo para países necessitados.
Perspectivas 2025
Com o investimento estrangeiro direto (IED) global em 2024 diminuindo, a perspectiva para 2025 também negativa.
Embora um crescimento modesto parecesse possível no início do ano, as tensões comerciais levaram a revisões para baixo da maioria dos indicadores de perspectivas de IED, incluindo o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), as exportações de bens e serviços, a volatilidade do mercado cambial e financeiro e o sentimento dos investidores, diz a agência da ONU.
Segundo o relatório, apesar de as tarifas terem levado a alguns anúncios de projetos de investimento com o objetivo de reestruturar as cadeias de suprimentos, seu principal efeito foi um aumento dramático da incerteza.
Assim, os primeiros dados do 1º trimestre de 2025 mostram uma baixa recorde nos negócios e projetos.
À medida que o investimento global passa por mudanças profundas, o relatório sobre o Investimento Mundial 2025 da Unctad pede uma ação internacional coordenada para aproveitar o poder transformador do investimento na economia digital e preencher as lacunas persistentes.
"O avanço do investimento sustentável e inclusivo, especialmente nas economias em desenvolvimento, exige políticas ousadas, instituições mais fortes e cooperação global renovada", acrescenta.
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