As restrições que incidem sobre a incapacidade da Hidrovia do Paraguai de atrair cargas não afetam apenas o Brasil. A vizinha Bolívia depende do Canal do Tamengo, um braço do Rio Paraguai que se forma nesta fronteira, para chegar ao mediterrâneo. Um canal sem calado e estreito, onde o tráfego é limitado a uma barcaça para não colocar em risco o vão da estrutura de captação de água da Sanesul.
A inviabilidade do canal, que exige derrocamento de rochas e implica licenciamento ambiental, e da estrutura no meio do rio prejudica os armadores brasileiros, deixando de escoar a produção boliviana. Dois milhões de toneladas de farelo de soja e outros insumos que o País exporta pela via, estão percorrendo 1.890 km de ferrovia e rodovia até Arica (Chile).
“Não tem como essa carga chegar aqui, embora estejamos bem do lado”, diz Luis Carlos Dresch, da Granel Química, que opera uma das maiores estruturas portuárias da hidrovia, em Ladário, desde os anos 90. O terminal tem ramal ferroviário da Novoeste, que, por sua vez, está interligada à Oriental Ferrocarrille boliviana. A ferrovia seria a alternativa para fazer chegar essa soja à via, mas está sucateada.
Sem um acordo com o Brasil para abrir o Tamengo a grandes comboios, o que exigiria retirar a tomada de água, a Bolívia busca saída ao mar construindo terminal no Porto Busch, onde tem domínio sobre a hidrovia na fronteira com Brasil e Paraguai. Nesse ponto, o rio permite comboios com 20 barcaças. Além da soja, o País se prepara para exportar minério de ferro, com produção prevista de 20 milhões de toneladas até 2015.
Novas rotas
Enquanto isso, terminais brasileiros estão sem cargas. O de Cáceres (MT), não recebeu soja esse ano. O porto público de Ladário não opera desde os anos 90 e tem ligação por rodovia e ferrovia e capacidade para armazenar 40 mil toneladas de minério. A mineradora Vale, que prevê investimentos de R$ 2 bilhões até 2014, deverá construir seu próprio terminal próximo da mina. Hoje escoa o minério pelos portos da Sobramil e Porto Esperança e pela Novoeste. A MMX carrega na Granel Química, que aguarda licença há 2 anos para ampliar seu pátio. (SA)