As chuvas, que têm afetado todo Mato Grosso do Sul e levado vários municípios a decretarem situação de emergência, agora ameaça atrapalhar a colheita da soja na região sul do Estado e também no Norte, na divisa com o estado de Goiás. Em Maracaju – um dos maiores produtores do grão no Estado, o prefeito da cidade, Celso Vargas, pediu ontem, pela manhã, o apoio do Governo do Estado para conseguir resolver a situação de mais de 200 mil hectares de lavoura, que podem ficar comprometidos nas próximas semanas. Além do risco de atraso na colheita pelo excesso de água, de acordo com Vargas, as estradas vicinais, utilizadas para o escoamento da produção, estão em péssimas condições. “Temos mais de três mil quilômetros de estradas e grande parte está muito ruim. Não temos condições e precisamos da ajuda do governo para resolver essa situação”, disse. O apoio solicitado pelo prefeito foi para o envio de maquinários e pessoal para a reforma de pontos críticos das principais vicinais utilizadas pela safra. São estradas de chão, tomadas por buracos e com trânsito difícil para caminhões pesados. Região Norte A falta de luminosidade, por conta das intensas precipitações pluviométricas, antecipou a colheita da soja em fazendas situadas no município de Costa Rica (MS), divisa com Chapadão do Céu (GO). É o caso da Fazenda Sucuriú, de propriedade do produtor rural Eduardo Pagnoncelli Peixoto, onde foram plantados 2,4 mil hectares da oleaginosa. No local, ele diz que as chuvas provocaram o adiantamento do ciclo da cultura e a colheita já começou. “Mas as condições do clima estão atrapalhando muito trabalho”, frisa. Assim como nos demais municípios de MS, as chuvas também destruiram as estradas da região, prejudicando o escoamento dos grãos. “A estrada que passa dentro do Parque Nacional das Emas, está intransitável”, reclama Peixoto. Mais chuvas Segundo o meteorologista Nathálio Abraão, os produtores de soja de Maracaju devem sofrer ainda mais com o excesso de chuvas nas próximas semanas. A previsão é de que elas continuem até o final do mês de fevereiro – o que pode atrasar ainda mais a colheita do grão. “Teremos naquela região poucos períodos de estiagem, que reduzirão o volume de água, mas as chuvas continuam durante todo o mês”, afirma. A estimativa é de que em fevereiro chova cerca de 160 milímetros. Neste mês, o volume já chega aos 180 milímetros no município. Trafegabilidade? Segundo informações da Secretaria de Obras do Governo, o Estado garante que está mantendo as condições de trafegabilidade das estradas, e considera que a chuva é boa para o Estado, pois trará um aumento de 20% na produção de grãos neste ano. As equipes da secretaria e da Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul) têm percorrido o interior de Mato Grosso do Sul para pontuar cada uma das intervenções causadas pelas chuvas, e já foram realizadas reuniões com produtores na Grande Dourados, na região do Bolsão e em Novo Horizonte do Sul. De acordo com a Secretaria de Obras, estão sendo levantadas as informações, dimensionados os pontos críticos para buscar auxiliar a população e as prefeituras. Segundo o Governo, os produtores devem se ater à necessidade da implantação de curvas de nível em suas propriedades, prática da agricultura que diminui o impacto da enxurrada, aumentando a infiltração da água no solo, evitando erosões. O Governo ainda alerta para o excesso de peso em caminhões que fazem o transporte da produção. Segundo levantamento da secretaria são cerca de 150 pontes de madeira destruídas em todo o território sul-mato-grossense, tanto pelas chuvas, quanto pelo aumento da capacidade de carga dos veículos motorizados para transporte de grãos, animais, insumos, equipamentos agrícolas e maquinários. Estima-se que o Governo estadual deverá investir cerca de R$ 10 milhões em ações emergenciais de restabelecimento de tráfego nas rodovias estaduais.