O comércio sul-mato-grossense começa a perceber os primeiros sinais de reação. Conforme levantamento do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio (IPF-MS) e Sebrae, o varejo atravessou a pior fase da crise, causada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), nos meses de abril e maio. Em junho, comerciantes já sentiram uma ampliação nas vendas e houve redução no número de demissões.
A segunda edição do estudo “Impactos do Coronavírus no Comércio de Bens e Serviços de MS” aponta que a partir de junho a tendência é de melhoria. Enquanto em abril 38% das empresas precisaram demitir, em junho, 28% tomaram esta medida.
De acordo com a economista do IPF-MS, Daniela Dias, a pandemia trouxe diversos impactos negativos tanto para as pessoas quanto para os empresários, mas, apesar desse cenário, a intenção de consumo tem voltado a melhorar. “Ainda temos relatos de queda de faturamento, mas muito menos do que tínhamos antes. Principalmente em alguns segmentos específicos, tivemos destaque para a parte de alimentação, o Dia dos Namorados foi um grande exemplo. Outro destaque ficou para o setor de serviços. O que percebemos é que isso tem muito a ver com o comportamento das pessoas, que estão em isolamento social, e por estarem mais em casa começam a pensar mais em conforto, decoração, arrumar, consertar, etc. Tivemos uma melhora substancial para o segmento de vendas para construção. A parte de turismo ainda está sofrendo muito, mas já se começa a pensar em algumas reservas e promoções futuras”.
DIA DOS NAMORADOS
A economista ressalta que vestuário, acessórios e calçados registraram números melhores, mas ainda há um gargalo, já que os clientes não podem experimentar os produtos. Destaca ainda que a data comercial comemorada no dia 12 de junho superou as expectativas.
“Apesar das expectativas negativas que nós tínhamos para o Dia dos Namorados, o resultado surpreendeu. A ideia é que a prevenção e a segurança das pessoas têm de continuar para não voltarmos ao início. A gente precisa dos consumidores, mas que eles sejam conscientes. Ainda temos demissões? Sim, mas a intensidade com que isso está acontecendo é bem menor. Diversos indicadores melhoraram, claro que a gente ainda não está no cenário ideal, mas já estamos progredindo”, disse Daniela.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-CG), Adelaido Vila, diz que o comércio já adota uma nova postura. “A gente já começa a ver um iniciar de retomada, ainda temos uma dificuldade que é não poder experimentar roupas e calçados. E isso nós temos trabalhado com a Semadur para desenvolver juntos um projeto para que o lojista possa permitir que o cliente prove roupas, calçados e óculos. Quando isso for liberado, com certeza teremos uma retomada maior. Já tivemos um fluxo muito alto no Dia dos Namorados”, considerou.
TENDÊNCIA
Uma novidade adotada por muitos comerciantes foram as vendas on-line, tanto por meio de redes sociais, plataformas próprias ou mesmo disque entrega. Segundo a pesquisa, a maioria investiu nas vendas pelas redes sociais (30%). Os empreendedores também passaram a utilizar ou intensificar a presença nas plataformas on-line de comercialização (22%) e 13% adotaram as entregas em domicílio.
A empresária Stefanny Souza tem usado as redes sociais para atender as clientes de sua loja de roupas. “Os clientes têm vindo todos das redes sociais. A gente posta as roupas ou manda pelo whatsapp. O que está dando bastante certo é a entrega em domicílio”, considerou.
O gerente de uma loja de calçados Adelino da Silva disse que as vendas estão menores, mas aos poucos os consumidores estão voltando. “Por conta da pandemia, as vendas foram menores do que se comparadas com o ano passado, porém, aos poucos estamos conseguindo bater as metas estabelecidas pela empresa nesse período”.
Para a economista do IPF, o novo método de vendas deve se perpetuar no pós-pandemia. “As tendências estão voltadas para as compras pela internet e comemorações mais intimistas. Os empresários já investiram mais na ideia de comercialização a distância, para 40% destes empresários essas estratégias adotadas ajudaram a amenizar os impactos da crise. Mais de 70% pretendem manter esses canais no pós-pandemia”.
CONSUMIDORES
A pesquisa ouviu também os consumidores. O estudo aponta que a responsabilidade social da empresa será um fator determinante para as compras daqui para frente. Para 82%, será o principal atrativo, seguido por promoção à vista (68%), atendimento (49%), cartão de crédito (30%) e variedade (21%).
Para a analista do Sebrae, Vanessa Schmidt, o comportamento de consumo é uma oportunidade para os empresários. “Essas ações de responsabilidade social têm sido priorizadas pelos consumidores, é importante comunicar isso, se tornará um fator de fidelização. Quem adotou isso terá vantagem na retomada e um ganho de mercado”, finaliza.
Foram ouvidos 1.689 consumidores por telefone, entre os dias 4 e 18 de maio. O nível de confiança dos dados é de 95% e 3% de margem de erro. O estudo também aplicou 352 questionários a empresários, de forma on-line, entre os dias 26 de maio e 9 de junho, com 95% de nível de confiança e 5% de margem de erro. Participaram da pesquisa 45 municípios.